10/10/2009

Igreja "arrojada" com torre de cem metros vai nascer no Restelo


In Público (10/10/2009)
Por Inês Boaventura

«Além da igreja, dourada e com forma de caravela, o projecto de Troufa Real inclui construções em branco, verde e laranja, evocando a bandeira indiana


A nova Igreja de São Francisco Xavier, em Lisboa, cuja construção deverá arrancar nos próximos dias, "foi concebida como um barco, na evocação do que foram os grandes feitos missionários de S. Francisco", segundo a explicação do padre António Colimão. O pároco admite que o projecto, da autoria do arquitecto Troufa Real e que inclui uma torre "com cerca de cem metros", "é arrojado" e já está a contar com a oposição dos chamados "velhos do Restelo".

"Valeu a pena rezar, esperar e ter paciência", diz o padre numa "folha informativa" escrita no início do mês, na qual lembra que o arranque da construção vai exigir dos paroquianos "maior entrega, generosidade e planos para angariar o dinheiro necessário que é muito". Segundo António Colimão, que na missa do último domingo já avisou que agora se vai tornar "um bom pedinchão", a primeira fase da obra vai estar pronta em 12 meses e "está orçamentada em cerca de três milhões de euros", dispondo a paróquia de "cerca de um milhão".

O projecto da nova igreja "foi oferecido" pelo arquitecto Troufa Real, explica o padre, que, num folheto distribuído à população, acrescenta que o processo se iniciou no mandato de Krus Abecassis, "com a cedência do terreno" com cerca de 3.300 metros quadrados junto à Rua de Antão Gonçalves, tendo a obra sido aprovada já na presidência de Santana Lopes.

Nesse folheto explica-se que o projecto de Troufa Real (que o PÚBLICO não conseguiu ouvir) é constituído por seis blocos, cujas cores se relacionam "com o imaginário dos Descobrimentos e valores simbólicos da Nação indiana". No centro da composição haverá uma torre (com campanário), que, de acordo com o pároco de São Francisco Xavier, terá "cerca de cem metros" e só será construída numa segunda fase.

A igreja propriamente dita, com capacidade para 450 pessoas sentadas, "tem a forma de uma caravela" e está previsto que seja dourada, cor que António Colimão admite que seja alterada por questões orçamentais. Haverá ainda um edifício para os serviços paroquiais e residência do padre, um quarto bloco dedicado à formação (em laranja), um quinto para receber conferências (em verde) e um último, a construir numa terceira fase e separado dos restantes por "um paredão" vermelho, para instalações de apoio social para crianças e idosos.

António Colimão admite que se trata de um projecto "polémico, no sentido em que é arrojado" e manifesta a convicção de que "vai ser um edifício emblemático na cidade".

...

Bom, aqui está o primeiro Velho do Restelo a jogar a primeira pedra contra essa pesada herança (que só podia ser de quem é, diga-se). À parte a inoportunidade do empreendimento - quando a Fé se transformou em fé, e quando, por ex., o Patriarcado tem São Vicente de Fora fechada porque está a cair aos bocados - e a zona do Restelo onde o mesmo será feito não ter já nada a preservar (veja-se a foto Google Earth), a verdade é que pelo que é dito no artigo há 2-3 constatações de facto:

- No desenho mostrado na foto do Público, e se nada tivesse sido dito antes, seria de crer que se tratava de um daqueles empreendimentos dignos de Ceaucescu, mas, voilà, sob a forma de "templo dourado", cruzamento de religiões em honra da vida e obra São Francisco Xavier, e por isso, talvez com um campanário/minarete de 100m de altura (mas isso são questões de outro foro) - um projecto assim só podia ser oferecido!;

- Parece-me estranho que a população de São Francisco Xavier já tenha juntado 1 milhão de € para o bolo de 3 milhões. Não fazia ideia de tanto benemérito naquela zona (será que também querem ajudar Caselas? Será que estarão disponíveis para fazer aquilo a que a CML e o MC se recusam fazer e salvsr a Casa da Rua de Alcolena, ou é demasiado esotérica para alguns? Será que querem ajudar a Sé de Lisboa? São Vicente de Fora? São Julião? Santo Amaro? São Domingos? Nossa Senhora da Conceição Velha? O Santíssimo Sacramento? São José Carpinteiro? São Cristóvão e São Lourenço? Santo Estêvão? É que as respectivas igrejas estão em muito más condições...);

- Parece-me ainda mais estranho que o projecto não tenha já caducado, pois se foi aprovado há mais de 5 anos (e foi-o em sessão de CML? é que se não foi talvez seja já ... nulo), então é bom que volte a ser aprovado em sessão de CML.

E pronto, que venham outras pedras.

14 comentários:

A.lourenço disse...

Um projecto megalómano, de vaidade e ostentação. Não passa disso!!
E já agora que dizer do "lindo" edifício de escritórios anunciado para mais abaixo junto ao museu. não descansam enquanto os terrenos não estiverem todos ocupados com prédios.

Anónimo disse...

http://troufareal.blogspot.com/ vejam e assustem-se!!!! não é a altura que me incomoda mas sim a falta de gosto da arquitectura da igreja.....voltámos aos anos 80?!

J A disse...

Torres de 100 metros !!
Ai, ai, ai, caldinho entornado!

Um jovem Velho do Restelo disse...

Quem se opôr é um "Velho do Restelo"? Isto é que é pluralidade e democracia, a igreja dá um bom exemplo. Afasta os seus fiéis, é justamente por estes motivos e esta decadência que outras religiões têm conseguido tantos adeptos.
Em Portugal, a igreja foi assaltada por gente sem escrúpulos, por não católicos, por gente agnóstica que quer justamente ridicularizar os seus crentes, e o progressismo da igreja é visto no mau sentido.
Começou com Jorge Sampaio e o quadro inacreditável que pretende ser a Virgem Maria de joelhos a dar à luz onde Paula Rego retrata a vagina e os pelos púbicos. Agora outro ateu, com uma mente distorcida vem fazer outra imbecilidade.
Se ser contra é ser Velho do Restelo? Eu sou!
E posso vos garantir que participari em todos os movimentos para impedir a construção deste mamarracho.

Raul Nobre disse...

PRIMEIRA questão:

Cada um é LIVRE (INTEIRAMENTE LIVRE) de ter a religião ou política que quiser. Cada um é LIVRE de pensar, de escrever, de desenhar, de criticar. Cada um tem a sua forma de pensar, de acreditar, de ter as suas convicções. Eu ouço, leio, vejo e depois PENSO (eu PENSO, tenho miolos para pensar) e depois tiro as minhas conclusões. E foi assim que eduquei os meus filhos e que tenho ensinado os meus netos. Se alguém nascer em Portugal, tem maior probabilidade de ser católico. Mas se nascer na Arábia ou no Tibete, tem maior probabilidade de ser muçulmano ou budista. O que ninguém tem o direito é de ser intolerante para com os outros. Eu quero lá saber das opiniões que expressa o ateu, o católico, o muçulmano ou o budista. Eu quero lá saber se desenham a Virgem Maria com um vibrador metido na vagina ou se pintam o Buda a ter relações com a Miss Universo ou se desenham o Maomé com uma bomba na cabeça. Cada um tem o direito de se exprimir como quiser porque isso não me ofende nem afecta em nada as minhas convicções. As minhas convicções são firmes e bem estruturadas, mas a minha forma de pensar está aberta a todas as ideias porque EU PENSO (não tenho a cabeça só para pôr o chapéu). E repito, foi assim que eduquei os meus filhos e tenho educado os meus netos: convicções fortes, sem fanatismos,espírito sempre aberto a todas as ideias.Se hoje sou republicano, amanhã poderei ser monárquico ou comunista. Tudo dependerá de que me DEMONSTREM que as minhas actuais e bem estruturadas e inteligentes convicções estejam erradas. Não acredito que mudem a minha forma de pensar, mas como PENSO (ou seja, não sou como os BURROS) estou sempre permeável a todas as ideias desde os meus 18 anos.

SEGUNDA questão:

A Lisboa Histórica deve ser preservada. A panorâmica de Lisboa deve ser mantida. Com este princípio podem fazer as torres e as igrejas que quiserem.

Fern disse...

Hediondo o projecto.. mais valia investir na recuperação de igrejas que estão neste momento degradadas.

Anónimo disse...

Fé, convicções e gostos, cada um tem os seus.
Na minha modesta opinião de mero cidadão, a imagem da maquete da nova igreja é assombrosa, parece uma daquelas canecas pirosas vendidas em lojas de bugigangas para turistas.
A sua altura também me parece exagerada, mas até admito que tenha algum significado espiritual(tipo estar mais perto ou tocar o céu).
Particularmente, e utilizando linguagem de arquitecto (que não sou) acho que Lisboa já tem a sua malha urbana perfeitamente consolidada, talvez até demais. Gostaria de ver menos construção e mais áreas verdes ou de utilização comum.
De facto, é preciso ter muita fé para acreditar que com o actual panorama de idéias algum dia Lisboa vai recuperar os 10.000 habitantes que "fogem" todos os anos, mas não é certamente com estas obras que essa fé se materializará.
Luís Alexandre

Paulo Ribeiro disse...

Coloquei no projecto Eu Participo em Lisboa uma proposta para parar com a construção. Antes que seja tarde de mais.

http://www.euparticipo.org/lisboa/ordenamento/Nao-a-construcao-da-Igreja-Caravela-Restelo

Participem e divulguem!

Anónimo disse...

Arojado é outra coisa, isto é pura e simplesmente MAU, isto é arquitectura de um aluno do 1º ano, raios nem isso!!!se alguem na paroquia de S. Francisco Xavier esta a ler isto, peço-lhes que procurem uma alternativa a esta aberração que em nada prestigia a igreja e a propria paroquia.

Francisco

Anónimo disse...

1º Não confundir opiniões estéticas com opiniões religiosas e/ou políticas.
2º Também é fácil criticar maquetes via blogues e afins. Não seria mais útil falar com os responsáveis e quem sabe oferecer outro projecto.
Criticar é fácil, fazer pelos vistos é dificl.

Sushi Master disse...

Caramba, para quê tanta discussão à volta da religião, quando basta olhar para a maqueta que a primeira coisa que me lembro é de um edifício construído algures num país subdesenvolvido, com dinheiro de um ditador, nada década de 70 ou 80?

Irra... que nojo de edifício... o Troufa Real não se trate não..

Anónimo disse...

"O intelectual, na nossa tradição, é, por definição, crítico do poder." Eram contra as Amoreiras, eram contra o Centro Cultural de Belém e claro, agora são contra a Igreja Caravela! Ora "um intelectual que não se oponha ao poder não é um intelectual convincente." Está a defender o seu estatuto de intelectual, e não é que esteja de má-fé, mas entende que esse estatuto lhe confere uma autoridade moral para críticar uma estética, e fá-lo com coragem nas suas opinões.
Não vejo nenhum intelectual opôr-se a edifícios banais.
Será que quando o poder é menos conservador ou mais arojado o intelectual, só por estar no seu papel, tem que ser reaccionário?
Prefiro ter o projecto de Troufa Real já que não me dão mais Parques e Jardins!

Fernando Ramos disse...

Sem contar com o desmesurado tamanho da torre verifica-se ainda uma forte influência islâmica completamenta inaceitável.

Fernando disse...

Sempre pensei que era um carro alegórico, ou seja, uma caricatura.