09/12/2013

Calamidade Patrimonial

Lisboa já nos habituou, para grande desgosto de quem desta cidade gosta, a exemplos de intervenções em património arquitetónico - e cultural, em geral - que são, em tudo, censuráveis e lesivas para a memória cultural desta capital. Partilho das conclusões do artigo que foi replicado aqui (ver), e que tantas reações de repulsa recebeu de quem se sentiu ofendido pelas comparações e termos usados. Mas a verdade é inalienável: Lisboa é uma cidade em Estado de Calamidade Patrimonial! Só não vê quem não quer, e muita gente não quer.
Diz-se, de nós, que somos um país de brandos costumes. Discordo! Somos, antes, um país de maus costumes, e estes nada têm de brando.
O que se fez com o Instituto Câmara Pestana, que leva o nome do bacteriologista português de renome internacional, é um crime de lesa-património e serve este artigo para nomear, com a vossa colaboração que agradeço desde já, os responsáveis diretos por este horror, já que os indiretos somos todos nós que desenvolvemos uma sociedade totalmente indiferente à verdadeira valorização do património, salvo alguns líricos que andam por aqui e não nos lugares de decisão.
Vejam algumas imagens:
Caminhando pela Rua de Câmara Pestana ... ou saindo do Elevador do Lavra, Monumento Nacional...



...somos presenteados com estes "objetos" abjetos!
Esta é a envolvente das preciosidades acima e garanto-vos que aqui estou a pecar por defeito, porque tanto a vista como a generalidade do construído são, simplesmente, fantásticos. Que boa vizinhança têm! Com vizinhos destes...
A qualidade dos materiais. Uma ordinária e vulgar rede com murete em cimento é a vedação deste conjunto. Antes tinham uma vedação com seteiras, em metal. Talvez demasiada qualidade para esta intervenção?
Algumas perspetivas que se podem apreciar: o comentário fica ao vosso cargo.
Foi este o tratamento dado a edifícios oitocentistas onde se fazia ciência, se formavam médicos. Que exemplo para a nossa geração ter todo este complexo como um museu à memória do génio científico português. Nem a placa de homenagem ao herói maior da lusitanidade, que lembra que ele teve neste chão a sua morada final, comoveu quem decidiu, planeou e autorizou esta barbaridade. O epíteto perfeito já que Camões não foi exatamente amado em vida e morreu na mais esquálida miséria. Interiores originais já não existem; janelas que arrasam com o ritmo da fachada, tanto que é o minimalismo.                                                                                                        

Este é o único edifício original que será poupado. Dentro estão laboratórios do séc. XIX e XX, preciosíssimos. Uma escadaria e um retrato a óleo da fundadora Raínha D.Amélia vi quando era criança. Ainda lá estão? Atenção! Janelas partidas.
Há que atribuir responsabilidades, isto num país onde a culpa morre solteira e se assobia para o lado enquanto falha a memória de se estar envolvido naquilo que nos leva à ruína. Proponho identificar os principais responsáveis deste prejuízo não quantificável. Quem souber identificar os seguintes intervenientes queira, por favor, informar-me pela caixa dos comentários e não deixarei de dar o seu a seu dono.
Estes foram os arquitetos que riscaram este horror.
Presidente da CML - Reitor da Universidade de Lisboa - Demais intervenientes

10 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Atrás, em comentário, referi o escândalo das lages de calcário no Campo Pequeno (que se quebram, às dezenas, com a simples passagem de peões).
Pois a SIC tentou saber quem eram os responsáveis pela degradação desse espaço público (e turístico...) e não conseguiu - cada um dos questionados dizia que o assunto era com outro.

Tiago Costa disse...

Esse cinzento pertence mesmo a uma Universidade que fica no centro de Lisboa?
É mesmo horroroso!
Não quero dizer com isto que não goste de ver arquitectura moderna em zonas mais antigas, aqui em Londres vejo-os lado a lado e é um encanto.
Mas enfim, são edificios que não tem nada a ver com essa caixote de alumínio.

Anónimo disse...

É um país em crise em todas as vertentes e sectores.
Qualquer dia vai o Tejo...
Drenam-o num instante!

Anónimo disse...

Deixem-me advinhar:

São do Porto e esta foi a única solução que encontraram para dar cabo de Lisboa!

Anónimo disse...

São todos edificios da Fac. Medicina.

Anónimo disse...

Atelier ZT- Arquitectos Lda

Arquitecto Thomas Zinterl
Arquitecto Gonçalo Sousa Byrne

Anónimo disse...

Alguém que impeça a criatura da 1º imagem a tocar um dedo que seja no Palácio Nacional da Ajuda!!!

Miguel Santos disse...

A intervenção pertence à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, não à Universidade de Lisboa.

Da responsabilidade da Universidade de Lisboa é sim o edifício principal do antigo Instituto Câmara Pestana, justamente o que não foi renovado. Sobre este tema, o anterior reitor da UL esclareceu que a Universidade adjudicou a obra de restauro por sete vezes, e que por sete vezes os empreiteiros escolhidos declararam falência.

Anónimo disse...

Os edifícios foram renovados cumprindo o traçado antigo (exepto o cinzento, que é um bom exemplar de arquitectura moderna). Mentalidadezinhas...

Jorge disse...

"que é um bom exemplar de arquitectura moderna"

De facto, o edifício amarelinho tem muito a ver com este:
http://4.bp.blogspot.com/-k4IghvhYFrI/TYyLsuint9I/AAAAAAAA-K4/_X9YpjCaEas/s400/06%2BInstituto%2BBacteriologico%2BC%25C3%25A2mara%2BPestana%2B%2BC1DM2081017_0003%255B1%255D.jpg

As janelinhas, a mansarda, os respectivos interiores...
São iguaizinhos...

Enfim.
Pior cego é aquele que não quer ver, até porque quem diz que o caixote de alumínio é um bom exemplar de arquitectura moderna e que ficou bem ali, só pode ter mesmo uma mentalidadezinha muito "inha"
Havia de ser no centro histórico de uma capital respeitável.
Punham-no logo no seu devido lugar!