01/04/2015

Retorno sobre investimento dos parques de estacionamento da EMEL


Chegado por e-mail:

«para CML, em Bcc

Exmo. Dr. António Costa

Numa cidade repleta de indigentes e sem-abrigos como é o caso de Lisboa, é totalmente injustificável o apoio público que a edilidade através da EMEL, oferece de forma manifesta aos residentes que têm automóvel. Numa cidade com enormes carências sociais, onde o respetivo presidente é acusado até pelo próprio governo central de criar "taxas e taxinhas", numa cidade que tem muito do seu património público ao abandono, é totalmente incompreensível este apoio que a edilidade faz aos munícipes que possuem um automóvel particular.

Em Amesterdão a título de exemplo, onde o salário médio de um morador ronda três vezes o do lisboeta, além de não haver este tipo de apoio público descarado ao automóvel, os residentes pagam cerca de 500€ por ano para estacionarem os seus veículos na rua. Em Lisboa paga-se 80€ para estacionar em parques cujo custo unitário de construção pago pelos contribuintes ronda os 20 mil euros. Tudo isto na capital de um país recém resgatado pelos credores internacionais.

Esta tabela não inclui custos de financiamento nem custos operacionais, como limpeza, segurança ou manutenção dos parques de estacionamento. Fiz em tempos as contas considerando estes custos, e o retorno do investimento rondava os 500 anos.

Retorno sobre investimento dos parques de estacionamento da EMEL

Rogo-lhe que reflita nestes números

Com os melhores cumprimentos

João Pimentel Ferreira»

11 comentários:

Anónimo disse...

Alguem explique ao autor:
1º Os lugares para avenças de residentes são limitados em relação à totalidade dos lugares disponíveis.
2º O valor de 80 euros é MENSAL e não anual.

Anónimo disse...

na calçada do combro a mensalidade (e não anualidade..) é cerca de 80 euros e há uma lista de espera.

o autor não só usa números errados como assume que o juro será zero... é verdade que a euribor é quase nula mas não será por muito tempo.

Anónimo disse...

Pelos vistos o autor desta carta é mal informado.
1.º Cada parque tem um certo número de lugares para avença. Em geral são cerca de 1/3 ou 1/4 dos lugares.
2.º A avença é mensal e não anual, como aliás o comentador anterior referiu. Logo, 80*12=960 euros por ano, que é quase o dobro do que pagam nos países nórdicos que referiu. E isto no tal país que foi "resgatado" recentemente pelos credores.
3.º Não vejo onde é que a câmara protege os cidadãos com automóvel. Aliás, o que se tem visto nos últimos anos é exatamente o contrário.
4.º Não sou "defensor" do sr. Costa nem do seu partido. Mas a realidade é a realidade. Porque é que, sendo eu lisboeta, pagando sempre e a tempo todos os impostos, não tendo transportes públicos atempados e relativamente acessíveis, porque não poderia usar o meu carro?!

João Pimentel Ferreira disse...

Caros comentadores. Fui eu o autor. Obrigado pelo reparo referente à periodicidade da avença. Fui "enganado" pela notícia do jornal Público que não mencionava a periodicidade. Refiz as contas, considerando custos de capital (3% a 20 anos) e custos de manutenção de equipamentos, limpezas e segurança (assumi 10€ por mês por lugar, comparem com qq condomínio com garagem).

Novas contas AQUI

Esta é uma boa reflexão para a tão falada "Reforma do Estado". Qual é o papel do Estado? Oferecer estacionamento a quem não tem lugar para estacionar, quando há tantas carências sociais? O problema do estacionamento, que existe, deve ser sanado unicamente pela iniciativa privada sem qualquer apoio público. Em bens muito mais essenciais, como alimentação ou vestuário, é assim que acontece. O Estado não tem lojas de roupa, nem restaurantes, mas tem parques de estacionamento.

cumprimentos

Anónimo disse...

resposta ao ponto 4) A realidade é efectivamente a realidade. Se fosse apenas o seu carro, encantado, apoiava-o na íntegra. Mas são centenas de milhar de carros em Lisboa diariamente, e o espaço urbano não estica. Andar de carro nunca foi exactamente um "direito", sempre foi um privilégio que se banalizou. Doravante, ou continua a exigir que suportem o seu privilégio e das outras centenas de milhar de utilizadores (e no tempo dos seus filhos Lisboa fica como Singapura ou o Rio de Janeiro), ou começa a exigir que os seus impostos sejam canalizados para medidas que diminuam a utilização do carro. Porque há contribuintes como o senhor que também pagam impostos e desejam a sua cidade menos entupida. Não são "menos" que o senhor.

Anónimo disse...

As contas continuam erradas porque não se pode aplicar os valores das avenças a todos os lugares.
O melhor mesmo é ir ao site da Emel e ler os relatórios de contas e procurar pelo valor da receita media diária por lugar dos parques de estacionamento.
E de caminho ler o resto do relatório para perceber que não só os parques dão lucro como esse lucro é reinvestido na cidade.

João Pimentel Ferreira disse...

As contas nesses aspeto estão certas pois não se podem misturar contabilidades autónomas. Se a EMEL tem outras receitas, mormente restaurantes, bordéis ou outros lugares de estacionamento para turistas, essas receitas não se devem refletir nem imiscuir na relação direta que existe entre a EMEL e os residentes.

Em qualquer país civilizado os parques de estacionamento são geridos por entidades privados, pois ter lugar para estacionar nunca foi um bem consagrado como sendo fundamental, ainda para mais num país com elevadas carências sociais. Se habita no centro da cidade, e não tem lugar para estacionar, é um problema que apesar de existir, diz-lhe respeito a si e não ao bem coletivo.

Se todavia habitasse na rua, porque tinha ficado desempregado, seria um problema que além de ser seu, seria de toda a comunidade, pois num país que ser quer civilizado não pode permitir que hajam pessoas a dormir na rua.
cumprimentos

Anónimo disse...

"Utilizar o carro não é um direito", mas infelizmente a cidade conseguiu expelir de tal forma os negócios que muitos munícipes como eu vêem-se obrigados a sair da cidade todos os dias para trabalhar em locais onde chegar de autocarro é totalmente impraticável de dia, quanto mais à noite ou fora de horas (como é o meu caso). Lamento que assim seja, quem me dera poder ir de bicicleta para o trabalho ou até a pé. É a filosofia e o lado pouco apelativo de lisboa para atrair a classe média, que acabou por fugir, levando com ela o emprego.

João Pimentel Ferreira disse...

O problema do espalhamento urbano a que se refere, em que a classe média se deslocou para a periferia adquirindo o pacote dos três 'c' - carro, casa, crédito - e por conseguinte provocou a desertificação e o envelhecimento das zonas centrais, não se resolve aumentando o espaço para o automóvel, mas exatamente através do processo contrário. Se retirarmos automóveis dos centros urbanos requalificando o espaço público, melhorando a qualidade do ar e diminuindo o ruído, acredite pois tem sido assim em todas as urbes, as pessoas voltarão a reabitar os centros urbanos.

Resumindo, a devolução do centro de Lisboa às pessoas e o combate à sua desertificação, passa exatamente por expulsar os automóveis dos centros urbanos, podendo-se assim requalificar verdadeiramente o espaço público. Tem alguns raros bons exemplos como o Terreiro do Paço ou a Rua Augusta. Não consta que estejam desertos.

cumprimentos

jac disse...

"a devolução do centro de Lisboa às pessoas e o combate à sua desertificação, passa exatamente por expulsar os automóveis dos centros urbanos".
Caríssimo, expulsar os automóveis é ridículo, agora se houver investimento nos transportes públicos acredite que o fluxo auto diminuirá acentuadamente.
A única forma de resolver a desertificação é com a melhoria do edificado e com um baixo custo por m2, o que é difícil.
Essas teorias anti-carros, anti-calçada portuguesa, anti-bares, anti-edifícios modernos, resumindo anti-tudo não leva a lado nenhum.

João Pimentel Ferreira disse...

Bons sistemas de transportes públicos apenas não chega, e falo por que conheço realidades diferentes. Berlim é uma cidade com excelente oferta de transportes públicos, mas continua a ser uma cidade ruidosa, com elevada poluição do ar e com um fenómeno de espalhamento urbano, porque é uma cidade que deu primazia ao automóvel. Já na Haia, onde vivo, ou na generalidade das cidades Holandesas, os transportes públicos são bons, mas expulsaram-se ainda os carros dos centros urbanos, e todavia, mesmo com preços altos por m², os centros urbanos fervilham de gente e de comércio. Veja o que é o centro comercial Colombo se não apenas uma pequena cidadela totalmente pedonal, onde muitos dos que ali vagueiam lá foram ter de transportes públicos.

As pessoas procuram para habitar o que lhes providencia qualidade de vida, e a qualidade do espaço público, o facto de o mesmo ser ou não espaçoso, a qualidade do espaço pedonal, o ruído ou a poluição do ar são fundamentais nessa equação para a escolha de uma casa para habitar. Os automóveis deterioram todos esses indicadores que podem potenciar altamente a habitabilidade com qualidade de vários bairros.