16/01/2007

Cinema Alvalade passa a Hollywood Residence

In Diário de Notícias (16/1/2007)
Luísa Botinas
José Carlos Carvalho (foto)

"Hollywood Residence é o nome sugestivo do novo complexo de apartamentos de luxo que está a nascer no local onde até há alguns anos funcionou o Cinema Alvalade, em Lisboa. A velha sala de espectáculos sucumbiu ao camartelo dando lugar a 27 apartamentos, de T1 a T7, num investimento de 20 milhões de euros.

A temática cinéfila escolhida para baptizar este empreendimento, que integra também quatro salas de cinema, parece ser apenas o que resta da memória do sítio. O velho Alvalade morreu em 2003, depois de uma longa agonia. Antes já tinha dado entrada nos serviços da Câmara Municipal de Lisboa um projecto de nova construção, deferido em Agosto de 2004.

Novas alterações de interiores e exteriores introduzidas no projecto deram lugar a um novo pedido aprovado em 2005. Contudo, também este acabou por ser arquivado já que em Abril de 2006 o requerente voltou a submeter à apreciação dos serviços de urbanismo da autarquia novo projecto com alterações, nomeadamente a supressão de uma cave, o piso -6. Pedido este finalmente aprovado em Novembro de 2006.

Entretanto, enquanto decorrem os trabalhos de construção da estrutura dos edifícios de apartamentos (além do Alvalade, o imóvel contíguo com fachada para a Rua Luís Augusto Palmeirim passou a integrar o complexo habitacional e de cinemas), estão já neste momento a ser comercializados os apartamentos, com áreas entre 71 e 401 metros quadrados.

Preços 'à Hollywood'

Os preços não são acessíveis a qualquer bolsa. Talvez para as das estrelas de Hollywood não sejam elevados. Mas o mercado imobiliário tem destas coisas e há procura para este segmento de oferta. Assim, um T7 (oito assoalhadas, a ocupar integralmente um piso), custa a "módica" quantia de dois milhões de euros (qualquer coisa como 400 mil contos).

Um T4 (com cinco assoalhadas), por exemplo, já desce um pouco na tabela. Para uma fracção desta tipologia e com uma área bruta de 241 metros quadrados, o preço ronda os 1,3 milhões de euros. São "apartamentos de luxo", diz assumidamente uma fonte do promotor, a Simo, Sociedade Imobiliária de Cinemas, SA.

Segundo a informação constante no processo, a que o DN teve acesso, apesar da supressão do piso -6 não há défice de estacionamento. Os pisos -2, -3 e -4 destinam-se a estacionamento público de apoio aos cinemas, num total de lugares que poderá chegar aos 126. As quatro salas de cinema (500 lugares) cuja designação comercial será Cinema Versailles, integram a rede Cinemacity e terão en- trada independente da do complexo habitacional, pela Avenida de Roma.

Conclusão em Setembro

Quanto a comércio, o projecto prevê apenas uma loja com 200 metros quadrados. O acesso à garagem e as entradas dos apartamentos fazem-se pela Rua Luís Augusto Palmeirim. O DN apurou ainda que a conclusão das obras está prevista para Setembro próximo.

De acordo com o requerente, o novo Cinema Versailles deverá ser explorado pela NLC, uma empresa ligada à Simo e que já é responsável também pela gestão dos cinemas do Beloura Shopping (em Sintra).

A NLC tem um calendário de novas aberturas de espaços Cinemacity previstas para breve, em Leiria, em Viseu (Palácio do Gelo), em Coimbra e em Lisboa (no Campo Pequeno).

O projecto de arquitectura dos dois blocos do Hollywood Residence é da autoria do gabinete RRCRS."


Comentário:

Tentar-se "colar" o novo empreendimento como homenagem, ou memento, ao antigo Cinema Alvalade é de uma profunda hipocrisia. Tive ocasião de consultar por mais de uma vez o processo/projecto, há 5-6 anos. Fiquei com nojo de quem promoveu, apadrinhou e consentiu tamanha maldade a um bairro como Alvalade:

À cabeça, a Junta de São João de Brito, que nada fez oportunamente; e o Sr.Ministro da Cultura da altura, Santos Silva, cujo despacho dos seus serviços autorizava a demolição com o seguinte argumento: "há salas de espectáculo a mais na zona". No meio disto tudo, os serviços da CML ainda foram os menos responsáveis por este atentado ao património de todos nós, já que protelaram até ao limite a autorização de demolição. Pelo meio sobram os proprietários, cujo despudor em manter a sala abandonada é tão grande como o vazio legal que permite que tal aconteça, não a prédios normais como os de habitação e escritórios, mas a salas de espectáculo, no fundo, propriedade de todos quantos a frequentam. Neste caso concreto venceu a especulação, e perdeu a cultura.

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