11/01/2007

Saída de Carrilho estava acertada "há muito"

In Diário de Notícias (11/1/2007)
João Pedro Henriques e Susana Leitão

"Manuel Maria Carrilho renunciou ontem ao mandato na autarquia lisboeta alegando "falta de tempo". "Procurei até ao limite do possível compatibilizar todas as minha funções", explicou, justificando que "as constantes sobreposições de reuniões e de sessões, da Assembleia da República, dificultaram a compatibilização destes dois mandatos".

O socialista, na declaração de saída, foi ao detalhe de explicar as suas dificuldades de agenda: "Para lá das sessões públicas da Câmara de Lisboa, que coincidem sempre com as sessões plenárias do Parlamento, são inúmeras as sobreposições que só o dom da ubiquidade permitiria ultrapassar. Basta lembrar as recentes votações do Orçamento do Estado ou da Lei das Finanças Regionais, ou ainda os debates mensais com o primeiro-ministro."

Sobre o momento político desta decisão, o até ontem líder da bancada do PS na autarquia da capital frisou ter "plena consciência de que esta decisão tem lugar num momento grave para a cidade, em que se multiplicam os sinais da incapacidade do executivo em funções para resolver os mais prementes problemas de Lisboa".

Sem responder a qualquer pergunta dos jornalistas, Manuel Maria Carrilho garantiu que os vereadores do PS "vão continuar a fazer uma oposição construtiva e eficaz", frisando a ideia de que Lisboa continua "sem estratégia nem liderança".

Manuel Maria Carrilho, para além do cargo na autarquia, sem pelouros e sem salário, é também deputado à Assembleia da República, onde, além de ser vice-presidente do grupo parlamentar do PS, é ainda membro da Comissão de Assuntos Europeus.

Carrilho foi o candidato do PS nas autárquicas de 2005, conseguindo impor o seu nome ao partido liderado por José Sócrates, que até muito tarde resistiu a essa solução. Carrilho viria depois a ser derrotado por Carmona Rodrigues nas eleições.

Saída concertada

Logo após o anúncio da renúncia, Miguel Coelho, presidente da concelhia de Lisboa do PS, apressou-se a dizer que "há muito tempo" ele e Carrilho tinham acertado esta saída.

Segundo acrescentou, a intenção agora do ex-candidato do PS é dedicar-se ao Parlamento com "bastante intensidade". Coelho deixou também bem claro quem passará a liderar o PS na vereação da Câmara Municipal de Lisboa: o número três da lista, Dias Baptista, também dirigente da concelhia (ver texto em baixo). Ou seja, ultrapassando o número dois, Nuno Gaioso Ribeiro, que em Outubro passado deu ao DN uma entrevista criticando o "comportamento político irresponsável e ausente" de Carrilho na autarquia, entrevista essa que levou a concelhia a retirar-lhe confiança política (e a despejá-lo mesmo do seu gabinete na câmara municipal).

Concelhia reuniu-se

Ontem à noite a comissão política concelhia do PS de Lisboa discutiu o caso. Antes da reunião, a deputada Leonor Coutinho - que nas últimas eleições para aquela estrutura do PS protagonizou a oposição interna a Miguel Coelho - afirmou ao DN que agora era "chegado o momento da unidade" no grupo dos vereadores socialistas. "Agora as condições são melhores do que nunca", afirmou, acrescentando ainda que essa unidade deve "obviamente envolver" Nuno Gaioso Ribeiro, alvo, no seu entender, de uma "decisão completamente exagerada" e até "sem grande significado político".

Em defesa do direito de os militantes exprimirem opiniões contra o sentido oficial do partido, Leonor Coutinho invocou ao DN declarações, ontem, de José Sócrates, numa reunião com deputados do PS, na Assembleia da República. Segundo disse, Sócrates terá - no contexto de uma intervenção sobre o referendo do aborto - sublinhado precisamente a tradição pluralista e não monolítica do partido, enfim, a sua capacidade de não penalizar opiniões diferentes e contrárias. Deu, aliás, o exemplo da reacção (ou melhor, não reacção) do PS face à candidatura presidencial de Manuel Alegre, contra o então candidato oficial Mário Soares.

Quanto à renúncia de Manuel Maria Carrilho, Leonor Coutinho não se alongou muito: "É uma pena que não tenha tomado essa decisão logo no início no mandato." Tomou-a um ano depois
."

PF

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