14/02/2007

Faz agora 20 anos que o então presidente da CML, Nuno Abecasis, cedeu uma parte importante do Parque Eduardo VII a um clube de ténis privado, dando assim uma machadada fatal no maior parque do centro de Lisboa, já pouco apelativo por causa da alameda central, construída por causa da indecisão sobre o prolongamento da Avenida da Liberdade. A desertificação do parque deu origem a um mito recorrente, o da pouca apetência dos lisboetas por parques e jardins, que é facilmente desmentido pelo sucesso do parque da Gulbenkian, ali ao lado.

Em 1996, a concessão, que pelo acordo de 1998 deveria terminar em 2008, foi prolongada até 2026, pela câmara de coligação entre PS e PCP. Hoje, segundo o Público, a CML deverá ter aprovado o prolongamento da concessão por mais 50 anos! O argumento é o de que a empresa concessionária precisa de fazer obras de vulto, para as quais só poderá obter crédito se a concessão for prolongada por meio século.

A proposta deverá ainda ser aprovada pela Assembleia Municipal. Sugiro que a AM tome uma de duas atitudes: 1) revogar a concessão à empresa Clube VII, com base no testamento de José Maria Eugénio de Almeida, que no século XIX ofereceu à CML os terrenos onde está o parque na condição de que este fosse de usufruto público, e, já agora, remodele o parque, nomeadamente acabando com a alameda central, talvez repondo o projecto inicial de Miguel Ventura Terra; 2) já que as disposições testamentárias foram infringidas e o parque quase não é usado, que se vá até ao fim e se venda o parque a privados. Pelo menos deixamos de ter um parque que só fica bem nas fotografias aéreas e deixamos de nos preocupar com o assunto. E com isso talvez a CML recupere uma parte significativa dos 200 milhões de contos de passivo -- e não os tostõezitos que receberá com esta concessão. Por meia puta, mais vale puta a sério.

Pedro Ornelas

2 comentários:

Nuno Santos Silva disse...

O projecto inicial de Miguel Ventura Terra está disponível on-line?

Rosa disse...

Não conheço o projecto do Miguel V.T.(gostava de conhecer), mas também o projecto do Keil do Amaral, não contemplava a alameda central que hoje conhecemos, para este espaço ele tinha projectado o "Palácio da Cidade" , um edifício público que teria criado certamente uma dinâmica diferente neste local.
A Alameda central e aquela triste geometria verde tem de ser alterada quanto antes.