15/09/2008

Prédio mais estreito da Europa tem os dias contados



Com apenas 1,60 metros de largura, o edifício corre risco dederrocada por danos na estrutura causados pela construção de outro prédio. (foto: "Forum arquitectura")


00h14m
MÓNICA COSTA
O prédio mais estreito da Europa, com 1,60 metros de largura de fachada, fica em Lisboa, mas tem os dias contados. As obras numa construção ao lado provocaram-lhe danos irreversíveis, que levam agora a Câmara a impor a demolição.

Há menos de uma década, Manuel Serrão era o orgulhoso proprietário do prédio mais estreito da Europa - a fachada mede apenas 1,60 metros - o número 16 da Rua Aquiles Monteverde, em Lisboa. Mas em Julho de 2000, escavações feitas sem escoramento num terreno contíguo, para construir um novo imóvel (onde hoje existe o número 12), provocou a queda parcial do número 14 e danos muito consideráveis no 16.

"Naquela altura havia pessoas a morar lá. Mas a Protecção Civil desalojou as inquilinas, porque o prédio não estava em condições de ter pessoas a viver lá. A uma das inquilinas arranjaram-lhe uma casa nos Olivais, e a outra foi viver para casa da filha", recordou Manuel Serrão, de 78 anos.

Revoltado com a situação, Manuel pretende imputar responsabilidades aos proprietários do número 12 e ser ressarcido pelos danos sofridos. "O caso está em tribunal há quase oito anos. Parece que, finalmente, vai avançar agora com o início do novo ano judicial", revelou, desgastado.

Com o passar dos anos, Manuel viu o seu imóvel degradar-se. Por cada chuvada mais forte, cai um pedaço do prédio mais estreito da Europa e do edifício do lado. O perímetro das fachadas está vedado com grades da Polícia Municipal, mas segundo a vizinhança, quando o estacionamento escasseia, as grades desaparecem, para dar lugar aos automóveis. As entradas estão vedadas, as janelas tapadas e a demolição parece ser a única solução para um prédio que um dia o IGESPAR (antigo Instituto Português do Património Arquitectónico- IPPAR) quis classificar, de acordo com Samuel Serrão, filho de Manuel.

"Eu e a minha irmã pensámos em dar um destino diferente ao prédio e queríamos instalar lá uma galeria de arte. Íamos concorrer ao Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados (RECRIA), quando o IPPAR disse que queria classificar o imóvel. Aguardámos e entretanto aconteceu aquele acidente. O IPPAR não classificou nada...", lamentou.

Manuel Serrão decidiu entretanto vender o prédio. "Já está à venda há muito tempo. Eu e o dono do número 14 temos uma combinação: vendemos os dois prédios, e dividimos igualmente o dinheiro", afirmou, triste por não vislumbrar qualquer hipótese de recuperação do edifício.

Entretanto, há cerca de três anos a família recebeu uma carta da Câmara de Lisboa, que os intimava a fazer obras no edifício. "A carta dizia que se não as fizéssemos, a Câmara tomava posse administrativa do prédio. Não fizemos obras nenhumas, já que estamos à espera da resolução do tribunal, por isso suponho que a autarquia já tenha tomado posse...", alvitrou Samuel Serrão.

A Câmara de Lisboa, através do gabinete do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, confirmou ao JN a intimação para as obras, que diz serem de demolição, e que o prazo para a sua realização terminou em Fevereiro de 2006. Mas nega que tenha tomado posse administrativa do imóvel e afirma não estar prevista qualquer intervenção coerciva. E adianta que uma vez que as obras não foram feitas, em Dezembro do ano passado "foi comunicado à Polícia Municipal que se instaurasse um processo de contra-ordenação".

Para a vizinhança, que lamenta o estado a que prédio chegou, a situação só vai ter solução quando ali acontecer uma desgraça.

in "Jornal de Noticias", 15 de Setembro de 2008

Parece que mesmo que a vontade dos proprietários seja a de recuperarem o seu património, as teias da Lei impedem que tal aconteça, como se houvesse interesse em demolir tudo o que tenha a ver com edifícios da época romântica; o próprio IGESPAR parece tornar-se obsoleto e moroso quando tal é conveniente...

5 comentários:

Anónimo disse...

NA RUA DA ATALAIA EXISTE OUTRO DO MESMO TIPO, QUASE IGUAL
NUNCA ANDEI A MEDIR OS CENTRIMETROS MAS MAIS UM, MENOS UM, ....
FICA JU TO AO COTOVELO DA RUA
MAS ATENÇÃO AOS TURISTAS, A ZONA É M U I T O M A L frequentada,

Anónimo disse...

É demasiado fácil (pela improbabilidade de questionamento e pela insustentável leveza da questão, desincentivadora de alguém se dar ao esforço de questionar) atribuir a classificação do edifício mais estreito da Europa a qualquer edifício estreitinho da "nossa terra".
Pois, esta atribuição em concreto é completamente fantasiosa, provavelmente pela ausência de pesquisa.
Há, pelo menos, um edifício na Escócia cuja largura de frontaria é bem inferior: 47 polegadas, ou seja, 1,19 metros.
Mais informação em:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/scotland/1634975.stm
Cumprimentos
Luis Oliveira

Arq. Luís Marques da silva disse...

Pois então e em primeiro ligar, deverá fazer o desmentido ao respectivo jornal. Em segundo lugar a primazia da "estreiteza" do prédio escocês, em nada retira ao problema focado no post:
Os entraves burocráticos sucessivos a que estão sujeitos os cidadâos, mesmo os proprietários interessados em recuperarem o seu próprio património, tornando-se mais fácil a simples destruição e edificação nova.
O caso é tanto mais caricato, quanto se sabe que o próprio IGESPAR entendia ser de todo o interesse a classificação do referido imóvel e afinal, agora já não é...

Anónimo disse...

O alçado da casa em questão na escócia é somente a entrada da casa lado da rua pois o lote alarga para o pateo ou jardim posterior.
Se fizerem o exercicio de lançar uma parede perpendicular a fachada do predio à direita (first shop) imediatamente se verifica que o lote é mais largo na fachada posterior.
A diversidade é o que faz da nossa cidade exceptional, "o edificio único único", é a cidade no seu conjunto, infelizmente para nós, muitos só tratam da fachada, e querem a varanda fechada com a bela marquise (esta referencia diz respeito aos acrescentos tipo valsassina) e não se importam de andar de meias roas e cuecas borradas!

Lesma Morta disse...

A propósito de se é o mais estreito ou não embora ache a discussão pouco útil a fonte que confirma a tese é o JN de 14-09-2008 e o comunicado da vereação PS de Lisboa, onde a 06-06-2006 publicado pela Lusa, já se podia ler o seguinte: "Os vereadores do PS na Câmara Municipal de Lisboa lamentam a demolição do prédio mais estreito da Europa, pretendida pelo Executivo municipal, e vão levantar a questão na reunião de Câmara de quarta-feira." De referir que o executivo era presidido por Carmona Rodrigues. Pena é que a chegada ao poder socialista tenha atirado para a gaveta a nobre preocupação e aprovada a demolição do dito. Isso sim é importante, não se o prédio tem ou não mais uns centimetros que o da Escócia.