05/10/2010

A República Portuguesa faz 100 anos: Arquivo Municipal 100 anos depois

Rua B do Bairro da Liberdade
Vista da entrada do Arquivo Intermédio e do Arquivo Histórico (fechado)

Se no dia 5 de Outubro de 1910 alguém tivesse avançado com a previsão de que dali a um século o Arquivo Municipal de Lisboa não teria instalações próprias e só estaria parcialmente acessível aos cidadãos poucos teriam acreditado. Mas hoje, após 100 anos de República (e quase metade em ditadura) essa é a triste e crua verdade. Se amanhã eu solicitar ao Arquivo Histórico da minha cidade a consulta de um documento serei informado de que não é possível - porque desde o dia 28 de Outubro de 2002 que está encerrado. E se pretender consultar toda a documentação de um qualquer imóvel terei de me deslocar ao Bairro da Liberdade, na periferia da capital. Aí, numa área urbana desqualificada, vou encontrar nas garagens de um banal prédio de habitação social o Arquivo Intermédio da minha cidade. Em dias de chuva, funcionários e munícipes têm de se desviar das águas pluviais que invadem a sala de leitura. Quanto ao terceiro pólo, o Arquivo do Arco Cego, está metido numa casa do Bairro do Arco Cego e é um milagre ainda não ter sido consumido por um incêndio. A Hemeroteca Municipal, onde se guardam alguns tesouros dos primórdios da República, é vítima do mesmo fado, aguardando por urgentes obras de reabilitação do envelhecido e cada vez mais podre Palácio dos Condes de Tomar (Bairro Alto).

No dia do centenário da República não podemos deixar de críticar os sucessivos governos e o município de Lisboa por se terem esquecido, mal tratado até, o Arquivo de Lisboa. Em anos recentes nenhum político teve visão para perceber que a inauguração de um novo Arquivo Municipal de Lisboa - a cidade a quem a República deve tanto - teria sido uma das melhores maneiras de comemorar o centenário. Em vez disso escolheram como centro das comemorações a grande praça real do país, o "Terreiro do Paço", cenário no mínimo incongruente para celebrar os valores da República. Ainda assim, verificamos que a reabilitação da Praça do Comércio (sem dúvida necessária e importante) está longe de concluída e envolta nas maiores polêmicas. A nossa classe política fala, e trata com sentido de urgência, em alienar imóveis do Estado e do Município para a instalação de unidades hoteleiras de luxo. Mas não se esforçam minimamente em encontrar uma casa para albergar os Arquivos da capital. Preferem brincar à "capital do charme" em vez de investirem e trabalharem na conservação e divulgação da História da capital.

Que tipo de República será a nossa quando os cidadãos ficam pura e simplesmente privados de consultar o Arquivo Histórico da sua capital durante oito anos? Ninguém questiona que a capital da centenária República Portuguesa merece um Arquivo digno da sua História. Mas também restam poucas dúvidas de que não há políticos à altura dessa tarefa.

Fotos: O Arquivo Histórico e o Arquivo Intermédio estão arrumados temporáriamente nas garagens do edifício que se vê ao fundo da imagem 1. A imagem 2 mostra a envolvência da entrada dos arquivos.

5 comentários:

Anónimo disse...

excelentes notas!
é totalmente absurdo o estado dos arquivos, só revela desprezo dos governantes da cidade pela cidade.

Xico205 disse...

Só é pena, os edificios do bairro da Liberdade que foram fotografados não corresponderem ao arquivo municipal, nem tampouco são de habitação social.

Mas isto sou eu que digo, que nem sequer sou faccioso.

Xico205 disse...

Antes no Bº da Liberdade que no Alto da Eira. Mal por mal...

Xico205 disse...

Bº da Liberdade na periferia da capital?!!!!!! Este homem não conhece Lisboa!

Patricia disse...

Não percebo porque é que o autor do post ainda não reformulou os dados incorrectos que apresenta sobre o Arquivo Municipal de Lisboa. As instalações do pólo de arquivo histórico e intermédio são no Bairro da Liberdade (mesmo ao lado de Sete Rios, que não é de todo periferia), e não são apresentadas em nenhuma das 2 fotos. O espaço (que não é uma garagem), permite cumprir perfeitamente as funções de conservação, tratamento e divulgação da documentação, sendo até bastante agradável para o utilizador e com bom atendimento (qdo comparado a mtos outros arquivos). http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/default.asp?s=12123
Acho muito bem que sejam denunciadas e debatidas todas as situações que degradam a salvaguarda do nosso património documental e o estado dos serviços de informação, mas neste caso simplesmente não há fundamento.