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«Bom dia
Sou uma das leitoras do blog e pensei que seria útil um testemunho de uma pessoa que, sendo residente na zona da Baixa, sente que mora numa cidade de um país subdesenvolvido. Morar no centro de Lisboa significa conviver com uma inexistente fiscalização de estacionamento indevido, constantes situações carregadas de falta de civismo e verdadeiros atentados à liberdade das pessoas que circulam e habitam na cidade. Neste momento o dia a dia na Baixa é condicionado pelo excesso de veículos, pela diminuição do espaço pedonal, pelo excesso de turismo e pelo comércio direcionado ao turismo, que destrói a vida cultural da cidade, a sua história e o comércio tradicional que existia para servir os habitantes da cidade. Não existe qualquer regulação da publicidade agressiva e da ocupação do espaço pedonal por expositores de postais, menus de restaurantes, etc. No prédio onde habito a entrada era feita por uma das lojas típicas da baixa, com balcão de atendimento, o mesmo que foi destruído e ocupado por vitrines ambulantes com souvenirs. Para entrar e sair do prédio tenho que esperar que o senhor (um dos muitos estrangeiros agora detentores da maioria dos espaços comércio da baixa), se levante do seu banquinho e desvie todos os acessórios da loja. A entrada do meu prédio devia ser alvo de preocupação da Câmara de Lisboa pois era uma entrada com um desenho histórico que pertencia não só ao nosso prédio mas ao património cultural da cidade. Não entendo como este senhor pode ter destruído património cultural da cidade sem ter até agora encontrado qualquer entrave, qualquer fiscalização. A destruição da cidade em prol do turismo deveria ser regulada de modo a que este turismo seja sustentável a longo prazo. A transformação da cidade num hotel gigante faz com que os turistas dentro de algum tempo não o queiram vir visitar, pois esta deixará de ter qualquer interesse. Com os prédios a serem ocupados por hotéis e não havendo o mínimo esforço para atrair novos residentes para o centro da cidade, daqui a uns tempos não haverá vida cultural de bairro na Baixa e esta vai desaparecer enquanto bairro. Deste modo, penso que não será muito atrativa para o tão ambicionado turismo.
A regulação do trânsito e estacionamento, ou a inexistência dela, torna a cidade num espaço condicionado pelos carros. A ausência de fiscalização resulta não só na dificuldade de acesso ao estacionamento, por parte dos residentes, provoca também um excesso de veículos em circulação no centro da cidade uma vez que, o estacionamento no centro é facilmente conseguido e as infrações não são punidas. Diariamente tenho vários veículos estacionados em frente ao meu prédio, sendo este numa das perpendiculares à rua Augusta onde a circulação de carros é proibida. Para além destes, existem ainda os carros da polícia que, mesmo tendo estacionamento próprio, insistem em estar parados por períodos longos no meio da rua de São Julião e agravar gratuitamente a circulação na rua. Tal como uns tantos outros polícias tantas vezes convivem pacificamente com os vendedores de droga que desfilam pela rua Augusta. Cada vez que esbarro com estes carros da polícia, com os carros estacionados diariamente nas ruas pedonais, sem nunca serem bloqueados e com o comércio local destruído para fazer mais uma loja de lembranças, sinto que não vivo na Europa. Juntando a isto o facto de na Baixa não existir modo de fazer separação do lixo para reciclagem, o que me parece grave dado a quantidade abismal de lixo produzido por todos os hotéis, restaurantes, lojas… Lisboa parece ser gerida por amadores e dirigentes incapazes de perspetivar as consequências que as mediadas de hoje terão a longo prazo. O mais curioso é que estes problemas já não se colocam em imensas cidades de países da Europa pelo que não se pede que apareça nenhum génio com soluções brilhantes, basta alguém capaz de copiar. Alguém capaz de aplicar medidas que eduquem a população e os serviços de Lisboa, alguém que se dê ao trabalho de fiscalizar e punir.
Joana Nogueira»