Exmo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Dr. Fernando Medina
C.C. AML, JF e media
Sem pré-aviso nem consulta aos moradores, iniciaram-se recentemente na Avenida Guerra Junqueiro trabalhos para a substituição da calçada portuguesa pelo chamado “pavimento confortável”. Sem pré-aviso nem consulta aos moradores!
A destruição da calçada portuguesa, para além do empobrecimento da cidade do ponto de vista estético, contraria os princípios que nortearam a candidatura de Lisboa a Capital Verde Europeia:
Ao contrário da calçada, que é um pavimento ecológico, permeável, permitindo que a terra respire e viva (nascem flores e plantas entre as pedras da calçada), este “pavimento confortável” não permite a absorção da água necessitando por isso, em muitos casos, de serem realizadas obras extra para escoamento de águas, para evitar enxurradas.
Por outro lado, e ao contrário da calçada, cujo brilho contribui para a luz tão especial da nossa cidade, este “pavimento confortável” é baço e pardo, entristecendo as nossas ruas e avenidas.
Ao contrário da calçada, extremamente durável e cuja limpeza, manutenção e reparação é fácil, o “pavimento confortável” encarde e deteriora-se rapidamente e a execução da sua reparação é sempre deficiente, por exemplo, quando é necessário reparar tubagens nos passeios, instalar cabos, etc. Os remendos são gritantes, e é fácil de comprovar.
Ao contrário da calçada, cujos mestres – homenageados pela Câmara Municipal de Lisboa em monumento nos Restauradores - transmitem com orgulho às novas gerações este saber único tão português, o “pavimento confortável” não tem saber, nem brio, nem história.
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
A importância patrimonial do “saber fazer” e a beleza da calçada portuguesa, não se esgotam na calçada dita “artística” cuja candidatura a Património Mundial estará prestes a avançar!
A importância e beleza da calçada portuguesa reside na genuinidade do material em que é executada, o calcário, na (apenas) aparente simplicidade da sua execução (o segredo do aparelhar da pedra) e no facto de ser - até a CML, e custa-nos dizê-lo, ter decidido transformar o chão de Lisboa numa manta de retalhos – o pavimento que cobria praticamente todas as ruas e avenidas da nossa cidade conferindo-lhe uma homogeneidade ímpar no contexto das restantes cidades europeias.
A calçada portuguesa, toda ela é testemunho vivo da herança romana no território português, porquanto desenvolve a prática milenar do mosaico de tesselas talhadas em calcário. Tal ficou demonstrado na exposição intitulada Debaixo dos Nossos Pés - Pavimentos Históricos de Lisboa, promovida em 2017 pelo Museu de Lisboa, que é tutelado pela EGEAC, empresa da própria CML.
Assim, apelamos uma vez mais à CML, na pessoa de V. Exa., para parar de destruir a calçada portuguesa!
Parem de destruir algo que faz parte da identidade da nossa cidade!
Melhores cumprimentos
Ana Alves de Sousa, Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Carlos Moura-Carvalho, Cátia Mourão, Jorge Santos Silva, Nuno Caiado, Maria do Rosário Reiche, Alexandra Maia Mendonça, Paulo Lopes, Inês Beleza Barreiros, António Araújo, Rui Pedro Barbosa, Pedro de Souza, Sofia de Vasconcelos Casimiro, Helena Espvall, Jorge D. Lopes, Beatriz Empis, Luís Carvalho e Rêgo, Miguel de Sepúlveda Velloso, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Marta Saraiva, Jorge Pinto, João Oliveira Leonardo, Maria João Pinto, Irene Santos, Maria Carvalho, Pedro Henrique Aparício, Pedro Machado e Rui Sousa Lopes
Fotos: O Corvo e Arquivo Municipal de Lisboa (António Castelo Branco, anos 50)