Tomei há pouco conhecimento do vosso blog e li publicações bastante interessantes.
Uma vez que se preocupam em denunciar situações que envolvem os direitos dos cidadãos em relação ao espaço em que vivem, gostava de alertar para um problema que considero um atentado aos meus direitos.
Enviei este mail para a Câmara Municipal de Lisboa há poucas semanas:
Exmos. Senhores:
Sempre caminhei bastante, mas particularmente nos últimos anos substituí o ginásio por caminhadas diárias, que são fundamentais e trazem grandes benefícios para a minha saúde física e psicológica. Tento variar os meus percursos, mas cada vez tenho maior dificuldade em sentir que os meus direitos como cidadã, como peão, e como caminhante estão a ser respeitados pela autarquia em que vivo.
Quando conjugo o momento de caminhar com alguma outra atividade ou serviço que tenha de realizar, e quero deslocar-me a alguns lugares específicos de Lisboa, o estado dos passeios ou a inexistência dos mesmos torna o meu percurso e a minha experiência muito difíceis. Isto é algo que só quem anda a pé tem consciência e revela que os planeadores urbanos não têm esse hábito e só pensam em deslocações por via automóvel.
O meu exemplo concreto: resido na Rua Jorge de Sena, freguesia de Santa Clara. Para chegar ao Lumiar os passeios são muito estreitos, nem permitem que duas pessoas caminhem lado a lado. Se eu quiser chegar a Telheiras há vários obstáculos sem passeios: o Paço do Lumiar, o próprio acesso a Telheiras. A Alameda das Linhas de Torres está permanentemente suja, com a calçada a colar-se aos meus sapatos.
Numa caminhada mais longa até à Estrada da Luz deparo-me com vários troços desta rua sem passagem para os peões. Tenho mesmo de ir pela estrada, junto aos carros, a caminho da Loja do Cidadão das Laranjeiras.
Esta falta de respeito por quem quer disfrutar da cidade pelo seu pé demonstra o desinteresse dos poderes autárquicos pelos cidadãos, pela sua saúde e pelo próprio património da cidade, que assim não é usufruído por quem o podia estar a observar e a descobrir com calma e serenidade.
Aconselho uma tomada de consciência da necessidade de melhorar os passeios da cidade, para os cidadãos a poderem apreciar a pé, o que pode contribuir para a melhoria da saúde pública e para a diminuição de inúmeras despesas relacionadas com obesidade, problemas mentais e psicológicos, e para a diminuição da emissão de gases e despesas em combustíveis. Sugiro também uma campanha de consciencialização para os cidadãos de Lisboa caminharem mais, substituindo assim o uso do automóvel e das trotinetes, que em nada contribuem para a sua saúde.
Agradeço uma resposta a esta minha preocupação.
Obrigada pela atenção.
Os meus melhores cumprimentos,
Já recebi uma resposta que me encaminhou para o Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa, Volume 2 – Área Operacional Via Pública, Lisboa, Câmara Municipal. Presidente da CML António Costa. Vereador da Mobilidade (2010-2013) Fernando Nunes da Silva. http://www.cm-lisboa.pt/viver/mobilidade/acessibilidade-pedonal/plano-de-acessibilidade-pedonal.
Este relatório está muito bem escrito. Infelizmente não há grande concretização das suas propostas.
Deixo a sugestão de pensarem neste assunto, que afeta a vida de tanta gente, mas que também revela a total falta de consciência da caminhada como um interesse de saúde pública e de interesse dos cidadãos.
Depois de décadas de desvio do interesse público para os transportes rodoviários e para os shoppings, acredito que deve ser feita uma campanha bem pensada para atrair de novo os cidadãos para a rua, para o espaço público e para andar a pé. Para isso tem de haver condições de acessibilidade.
Agradeço a atenção e apresento os meus melhores cumprimentos,
Maria Antónia Pires de Almeida»