Exmo. Sr. Presidente da CML
Dr. Fernando Medina,
Exmo. Sr. Vereador do Urbanismo
Eng. Ricardo Veludo,
Exmo. Sr. Director-Geral do Património Cultural
Eng. Bernardo Alabaça
CC. AML e media
Constatámos há poucos dias que começaram obras no antigo Convento das Mónicas, conjunto histórico da cidade de Lisboa, por isso mesmo inscrito na Carta Municipal do Património (item 51.01), e que está inserido na Zona Especial de Protecção do Edifício da Voz do Operário.
As obras em causa dirão respeito à execução do projecto de alterações e ampliação referente à transformação do antigo convento em hotel de 5****, do grupo MEMMO, com capacidade para 128 quartos e com estacionamento em cave para cerca de 160 automóveis.
Este projecto, da autoria do arq. Samuel Torres de Carvalho, foi aprovado em 2013 pelo então vereador do Urbanismo, em despacho da sua autoria, sem discussão em reunião de CML e, muito menos, discussão pública, à semelhança de alguns outros projectos em que valioso Património do Estado foi objecto de venda a privados e alteração de uso (ex. antigo Hospital da Marinha, com projecto do mesmo autor, antigo Convento do Beato, autor atelier Risco, etc.).
Mais uma vez, perguntamos a V. Exa., senhor Presidente, como é possível que um projecto desta envergadura, com este impacto visual e de tráfego, em pleno casco histórico de Lisboa, seja aprovado por despacho de vereador, sem ir a reunião de CML, sem passar pelo crivo da discussão pública, nem sequer em sede de Assembleia Municipal.
Mais uma vez, um projecto que viola várias alíneas dos artigos 27º, 28º, 29º, 30º do PDM, ao,
- Proceder a demolições de interiores, ampliações e alterações de fachadas, não cumprindo o estipulado pelo PDM em vigor para edifícios inscritos na Carta Municipal do Património, como é o caso.
- Proceder à edificação de construção nova, em pleno logradouro, recorrendo ao expediente de ser construção no local onde já existe construção espúria, contrariando o disposto no PDM, que defende a demolição de construções ilegais reconvertendo-as em solo o mais permeável possível.
- Proceder à construção de estacionamento em subsolo, em zona sensível (arqueologia e hidrografia) sem o mínimo estudo de impacte.
- Proceder à mudança de uso do edificado com forte comprometimento da manutenção das características urbanas, paisagísticas, históricas, construtivas e arquitectónicas da zona.
Não conseguimos compreender como é que este projecto aprovado em 2013 não foi declarado nulo pela nova equipa do Urbanismo, e devolvido à procedência, à semelhança de outros casos divulgados.
Não só isso não aconteceu como o projecto de Alterações durante a Execução da Obra, datado de 2018, continua hoje em apreciação pelos serviços de Urbanismo, não sendo liminarmente reprovado, como devia.
Incompreensível, também, é constatar-se que Lisboa «Capital Verde Europeia» pregue, e bem, a defesa dos valores naturais, com a renaturalização de zonas da cidade como no caso da Praça de Espanha, e ao mesmo tempo tolere na antiga cerca do Convento das Mónicas a construção de um edifício de grande volumetria com 10 pisos de altura sendo metade deles para caves de estacionamento automóvel. Tudo isto soa a conceitos e estilos de vida obsoletos, contrariando o futuro sustentável que se quer para as cidades europeias.
Finalmente, é confrangedor assistirmos, mais uma vez, à demissão completa da DGPC do cumprimento da sua missão e das suas responsabilidades, pronunciando-se apenas, e mais uma vez também, à emissão de parecer de aprovação condicionado à arqueologia, abdicando de se pronunciar sobre o impacto deste projecto na ZEP do edifício da Voz do Operário (MIP) como na leitura da colina que é feita a partir do Mosteiro de São Vicente de Fora (MN).
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Fernando Jorge, Júlio Amorim, Bruno Palma, António Araújo, Nuno Caiado, Pedro Formozinho Sanchez, Helena Espvall, Sofia de Vasconcelos Casimiro, Rui Martins, Gonçalo Cornélio da Silva, Virgílio Marques, Inês Beleza Barreiros, Beatriz Empis, Carlos Boavida, Maria João Pinto, Irene Santos, Jorge Pinto, Maria do Rosário Reiche, Pedro Jordão, Fátima Castanheira, Pedro Machado, Teresa Silva Carvalho, Marta Saraiva