08/03/2007

As armadilhas do PUALZE

Para quem esteja pouco familiarizado com a nomenclatura camarária, a sigla PUALZE poderá não significar nada mais que o nome de um soporífero ou analgésico de proveniência desconhecida. Simplesmente, PUALZE significa "Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente"; é da responsabilidade da CML e o seu autor é um arquitecto do Porto. Até aqui, apesar de estranho (chamar-se a um plano de revitalização "plano de urbanização"...), nada de novo. O pior, mesmo, é que o PAULZE é na verdade um soporífero que se destina a adormecer consciências e a distrair os mais incautos... quando a esmola é grande o pobre desconfia.

Mais evidente isso se torna quando se pára para ler o dito cujo, ou se vai até à Avenida para imaginar o que o PUALZE vai ser na prática, isto se não houver ninguém por aí, claro, com aquilo que Alberto João referiu há tempos e que escandalizou meio Portugal, senão veja-se:

O PUALZE, tendo em vista o seu propósito oficial, inclui termos perigosos como "regulamentar", "requalificar", "potenciar", "novos equipamentos e actividades estruturantes", etc., para justificar "apenas" o aumento das cérceas da Avenida, a demolição de alguns dos edifícios antigos que ainda sobram por lá, a construção de estacionamento subterrâneo, a demissão de toda e qualquer aposta na função habitação (a CML serve-se inclusive do argumento "nível de ruído" para só falar em serviços), a ausência de coragem em avançar com medidas efectivamente restritivas à circulação automóvel, etc.

Puxando ainda um pouco mais pela cabeça, ao cidadão mais ou menos inteligente não deixará de passar despercebida a gravíssima agressão que representará a hipotética construção de parques de estacionamento subterrâneo nos cruzamentos da Avenida da Liberdade!, efeitos que se farão sentir à primeira tempestade (de facto) que atinja Lisboa (cruzes canhoto!), tão fácil é aperceber-se do que isso irá afectar o curso das água subterrâneas. Tal como facilmente se imaginará o futuro negro que estará reservado a prédios como o Palácio Conceição e Silva (neo-mourisco), o edifício da Mme.Campos ou os celebérrimos prédios da esquina com a Alexandre Herculano (objecto de "obras coercivas" ao tempo de Santana Lopes) se a tal "requalificação" for levada por diante: vamos ficar com uma segunda versão a Avenida da República. O mesmo acontecerá aos jardins, logradouros e quintais da Avenida e zona envolvente, a começar pelos da Rua do Salitre, cujos donos terão, enfim, luz verde para os esventrar a seu bel-prazer.

Nesta fase, o PUALZE encontra-se ainda no papel, mas, nos moldes em que está, é esta a altura própria para o travar, porque quando a obra começar será já tarde demais.

Ah, já me esquecia, o PUALZE esteve em cena no Teatro Variedades aqui há meses, com rufar de tambores e tudo...

(parcialmente publicado no DN de 7 de Março)

3 comentários:

Anónimo disse...

!!!APELO URGENTE!!!
Com a crise no Zoológico na aldeia dos macacos já não há dinheiro para alimentar todos. Seja solidário, e adopte um dos animais em http://ohcarmonga.blogspot.com/

Paulo Ferrero disse...

Caro anónimo,
Acho que já é tempo de mudar de agulha ... não acha?
Cumps.

Anónimo disse...

Uma das avenidas mais nobres da nossa cidade está reduzida a meia dúzia de hoteis de de "arquitectura quadrada"(em todos os seus sentidos)...e a belissimos edificio votados ao abandono...prontinhos a serem subtituidos por outros de de igual ou superior "arquitectura quadrada"...enfim...é esta a nossa avenida..sem vida..sem luz...sem a nobreza ke ela merece (saudades das belas avenidas "Ramblas" de Barcelona........)