15/06/2007

Derrotados das marchas de Lisboa falam em favorecimento e questionam critérios do júri

In Público (15/6/2007)
Inês Boaventura


«Madragoa pergunta se "não haverá um Apito Dourado", e acusa marcha de Alfama de falta de qualidade

As classificações das marchas populares de Lisboa, das quais Alfama saiu vencedora pelo quarto ano consecutivo, estão a causar um coro de protestos entre muitos dos bairros participantes, que falam em favorecimento e questionam os critérios do júri e a qualidade da marcha que ficou em primeiro lugar.
Uma das vozes mais críticas é a do presidente da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, que escreveu uma carta onde manifesta a sua "indignação e tristeza" com os resultados e protesta "contra os juízes e os seus critério de selecção". "Temos o direito de ser avaliados com justiça [e de] saber o porquê desta escolha e em que se baseia", afirma Luís Monteiro referindo-se à vitória de Alfama.
"Não haverá um Apito Dourado em relação às marchas populares?", questiona o autarca em declarações ao PÚBLICO, afirmando que o bairro que venceu as quatro últimas edições "tem vindo a ser favorecido constantemente". Luís Monteiro, que fala em nome da marcha da Madragoa, exige "critérios mais claros, mais transparentes" na avaliação das participações a diz que a marcha que Alfama apresentou na terça-feira "era copy paste da do ano passado."
As críticas são partilhadas pelo responsável pela marcha dos Olivais, que diz que o bairro vencedor "tinha uma marcha para ficar do quinto lugar para baixo", enquanto questiona a qualidade dos arcos utilizados. "É uma injustiça Alfama ter ganho", acusa com revolta o presidente do Grupo de Pesca e Desporto de Santa Maria dos Olivais, Carlos Santos, acrescentando que "os resultados são sempre os mesmos" e que o primeiro lugar "é um dado adquirido".
"O júri tem que abrir os olhos e ver que há mais marchas. Só olham para Alfama", acusa a coordenadora da marcha do Alto do Pina, que garante que a marcha vencedora "este ano não tinha nada para ganhar". Face à decisão do júri, que "não dá para explicar nem para entender", Isabel Barros sugere que a marcha da Alfama deixe de fazer parte do concurso, desfilando num momento prévio com a marcha dos mercados e a infantil.
Também o Clube Desportivo da Graça manifestou o seu desagrado com os resultados, questionando a qualidade da marcha que conquistou o primeiro lugar. "Já começa a ser de mais. E este ano eles não mereciam. Não teve nada a ver com a Alfama de outros tempos", disse o vice-presidente, José Martins.
Pela organização das marchas populares, a cargo da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, Pedro Moreira explica que "há um regulamento com base no qual todas as marchas são sujeitas à devida avaliação e classificação", admitindo no entanto que "a subjectividade também entra". O director de gestão cultural garante que a vitória de Alfama "não é fruto de qualquer situação menos correcta" e que o concurso não está "forjado".
Quanto à participação de um agrupamento espanhol e um brasileiro no desfile na Avenida da Liberdade, que mereceu algumas críticas do público e participantes, Pedro Moreira explicou que o grande objectivo foi "projectar internacionalmente" as marchas populares de Lisboa, já que o vencedor irá participar nas festividades tradicionais de Salvador da Bahia em representação da cidade e do país.
O PÚBLICO tentou sem sucesso falar com os responsáveis pela marcha de Alfama.
São várias as freguesias que acusam a Marcha de Lisboa vencedora de falta de qualidade
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