25/06/2008

Av.República (e imediações) à espera do fim (34)


Avenida Miguel Bombarda, Nº 25 e 27

Para estes dois pequenos prédios gémeos está reservada a foice, desde 2002, altura em que foi aprovado projecto de construção de conhecida e omnipresente imobiliária (Proc.960168/EDI/2002). Contudo, o projecto de demolição (970182/EDI/2004) ainda está em apreciação, vá-se lá saber, talvez preso nas malhas da burocracia, não da vontade férrea em dizer 'não'.

9 comentários:

Arq. Luís Marques da silva disse...

Paulo, parabéns por este trabalho que alerta para a verdadeira dimensão deste cancro que mina a nossa cidade.
Abraço

daniel costa-lourenço disse...

A cidade está saque e a responsável é a CML.

daniel costa-lourenço disse...

Proponho uma subscrição pública para a construção de um monumento aos "destruidores da cidade", em contraponto aos "construtores da cidade", construído ali na praça 25 de abril, no Poço do Bispo.

Só tem é de aparecer um privado que doe o terreno.

E no monumento, em baixo de "destruidores da cidade" escrevia-se "uma homenagem do povo de lisboa, para que não se esqueça a acção da Câmara Municipal de Lisboa e seus executivos, ao longo dos décadas"

Anónimo disse...

Paulo, parabéns por este trabalho.

Sugiro a sua compilação em forma de "livro" e envio para as redacções dos jornais.

Podem estragar a cidade, mas que ao menos sejam apontados por isso, as responsabilidades a quem as tem.

Tomás Belchior disse...

O que acho curioso nesta série de posts sobre a Av. da República e imediações é que se misturam duas posturas eventualmente contraditórias:

- A preocupação com a preservação do património.
- A preocupação com a preservação de tudo o que é "antigo", independentemente de ter algum valor ou não.

Quanto à primeira postura, nada a apontar e só posso aplaudir a iniciativa. A segunda (é neste ponto que acho as duas contraditórias) parece ignorar a ideia de que o património se constrói.

Por exemplo, muitos dos prédios desta série da Av. da República são "gaioleiros", edifícios cuja construção era péssima já na altura e "os que restam continuam nos dias de hoje a apresentar grandes problemas de segurança para os seus utilizadores" (ver LNEC). Na melhor das hipóteses, tinham fachadas com valor e pouco mais.

A preservação destes gaioleiros não é preservação do património, é conservadorismo, no mau sentido da palavra.

Como disse o Arq. Manuel Graça Dias no seu livro "O Homem que Gostava de Cidades": "Um dos problemas da cultura conservadora é esta incapacidade em aceitar a contemporaneidade, os valores correntes que a constroem e compõem; é a incapacidade de ler, amar e admitir, no dia-a-dia, os valores que integrarão as nostalgias do futuro."

A generalização cega destes apelos à preservação acaba por cair precisamente neste erro.

Anónimo disse...

Concordava consigo se não encontrasse no seu texto uma lacuna: a qualidade do novo edificado, não só do ponto de vista da segurança (que acredito seja mil vezes superior, mas também assim teria mesmo de ser) como também do ponto de vista visual, e neste capitulo contam-se pelos dedos de uma mão os casos de sucesso.

O resto são "delirios de arquitecto", que não se preocupam minimamente em enquadrar os seus projectos na area que os envolve, porque sabem perfeitamente que também esta - mais cedo ou mais tarde - cairá.

É a lei do "cada um por si".

Anónimo disse...

Concordo com o "aviso" do Tomás, mas penso que o ponto de vista do CidadaniaLX é o de "preocupação com a preservação do património.", não a de defender o que é antigo, só por ser antigo.

Anónimo disse...

Em relação ao comentário do Tomás parece-me que ele se deve aplicar aqueles que fazem/autorizaram/autorizamas demolições. Esses é que não tiveram o mínimo de cuidado em preservar o que deve ser preservado. O Fórum Cidadania Lx denunciar aqui o que vai ser demolido parece-me bastante aceitável. Somos adultos e cada um que veja, analise tire as suas conclusões. Estar a ser feita à partida uma selecção do que deve ser posto é que poderia ser tendencioso.

Nestes últimos anos tem acontecido um verdadeiro terramoto em Lisboa. É destruir cegamente sem olhar ao que tem que ser preservado. A História faz-se, logicamente, com muitas coisas. E a arquitectura não pode ser dela afastada. Perdemos constantemente grandes testemunhos que fazem parte da nossa história. E isso é muito grave. Devíamos pensar melhor.

Arq. Luís Marques da silva disse...

Há teorias que têm servido ao longo das últimas décadas, para proteger e sustentar de uma forma moralista e arquitectónicamente correcta, a destruição das construções do sec XIX em Lisboa.
Ora, todos sabemos que nem todas as construções do sec XIX, são exemplares brilhantes de arquitectura da época mas, como também o não são, todas as construções existentes nos bairros históricos mais antigos. Ora, tal motivo, não justifica nem valida, aos olhos de quem seja sério, a ideia de destruir metade dos seus prédios (mesmo os que estejam estruturalmente debilitados)...
É que o valor patrimonial, histórico e arquitectónico de uma determinada zona, não pode ser apreciada nem medida caso a caso, mas sim como um todo, como um conjunto. É o que acontece, nos vários casos apontados neste blog e que, sugestivamente o título indica; "Av da República (e imediações) á espera do fim".
É portanto, toda uma parte significativa da história da arquitectura da cidade que está a ser destruída e não um caso isolado de um edifíciozinho sem importância e sem valor(até prémios Valmor são destruídos).
Aqui, neste espaço de debate, também estão em causa os valores de contemporaneidade levados ao seu mais sublime e desinteressado patamar: Não se defende a destruição do património, justificando o acto com tiradas sonantes de intelectualismo académico, porque não nos movem interesses que não a sua simples defesa; pretende-se preservar o edificado e aumentá-lo na medida do respeito mútuo entre ideias de diferentes épocas que devem manter-se e interligar-se.
Estas zonas das Avenidas Novas, Av da República, Av da Liberdade e outras, têm uma identidade e uma história que deveria ser mantida como forma de leitura prática e palpável, de uma época determinada A novidade, deve criar o seu espaço e não limitar-se a ocupar o já existente; deve criar vida e sustentabilidade própria, numa simbiose com a cidade mais antiga, aquela que ficou lá atrás.
O novo, não pode nem deve substituir por completo o anterior, sob pena de perdermos a identidade e a memória da cidade, forma injustificável de legado ao futuro, destruindo irremediávelmente, o percurso da história.
Entendo pois, que o vanguardismo do pensamento da arquitectura, não reside sómente no formalismo, ou na concorrência da erudição das formas, mas também, na capacidade de sermos capazes de relegar os instintos mais primários de ocupação de espaço ou da destruição do edificado, por motivos simplesmente pragmáticos e economicistas.
A cidade, em minha opinião, deve manter um percurso histórico coerente e de fácil análise e interpretação; deve mesmo manter uma concêntricidade que resulte da sua evolução natural.
A destruição e digo-o com convicção, a que assistimos, nada tem de fundamentos teóricos modernos, aceitáveis e credíveis, neste início de século; é antes demonstrativo do atraso relativo, em que alguns dos nossos pensadores mais proeminentes, teimam em prosseguir.