11/09/2008

Rua Rosa Araújo, em Lisboa, vai começar a crescer um bocadinho em direcção ao céu
PÚBLICO 11.09.2008, Ana Henriques
"A câmara quer acabar com esta rua?", questionou Helena Roseta. "Recuso-me a assumir o papel de tutor de estética", disse vereador do Urbanismo
Uns dizem que é da modernização que nasce a luz, outros que será a sentença de morte da transversal da Avenida da Liberdade. No meio de muita polémica, a Câmara de Lisboa aprovou ontem a junção de três edifícios da Rua Rosa Araújo para fazer um hotel, que crescerá para além da altura original dos imóveis, aos quais serão acrescentados novos pisos.Da autoria do arquitecto Frederico Valsassina, o hotel de quatro estrelas do grupo Porto Bay destina-se a uma zona próxima da avenida. Ao mesmo tempo que aprovou este projecto, a autarquia chumbou dois outros para a mesma rua. Um deles tem por objectivo transformar um pequeno anexo do palacete da Fundação Medeiros e Almeida, da autoria do arquitecto Ventura Terra, colocando-lhe em cima vários andares. O outro prevê o emparcelamento de mais três prédios e a substituição de um quarto por uma construção nova, em vidro, para fazer surgir um único imóvel de seis pisos de escritórios e comércio num quarteirão que faz esquina com a avenida, o chamado quarteirão do Banco Espírito Santo.Contestados por movimentos cívicos e por todas as forças da oposição camarária, os três projectos estiveram todos para ser chumbados, apesar dos elogios que lhes foram feitos pelo vereador do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado, que se mostrava satisfeito por os serviços camarários terem convencido os promotores imobiliários a baixar a volumetria inicialmente prevista e recordava que o Instituto do Património Arquitectónico se tinha pronunciado a favor das transformações. Património ou economia?Algo que que não impediu a vereadora independente Helena Roseta, do movimento Cidadãos por Lisboa, de perguntar à maioria socialista se era sua intenção "acabar com a Rua Rosa Araújo", ao aprovar tais intervenções. "Com esta intervenção, a casa desenhada por Ventura Terra vai desaparecer sob uma coisa incaracterística", observou. "Trata-se de uma opção errada para esta zona da cidade. Estamos a descaracterizar a rua e a valorizar brutalmente este património" do ponto de vista económico, acrescentou. "Não é o ideal", comentou também o aliado dos socialistas na autarquia, o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda José Sá Fernandes, outro dos que votaram contra as três transformações. Já os sociais-democratas abstiveram-se, alegando que, sendo o problema meramente estético, caberia ao vereador do urbanismo pronunciar-se sobre este aspecto. Manuel Salgado não gostou do que ouviu: "Recuso-me a assumir o papel de tutor de estética nesta câmara". Mais tarde haveria de dizer que "não se pode conservar tudo em formol" e que há vários edifícios classificados na Baixa que rompem com o estilo pombalino. Ou seja: nem tudo o que destoa é necessariamente mau. E no que à harmonia da Rosa Araújo diz respeito dificilmente podia ter ontem acontecido pior, como reconheceu o arquitecto: se por um lado o hotel acabou, surpreendentemente, por ser aprovado com os seus novos pisos a crescer um pouco em direcção ao céu - graças ao inesperado voto favorável de um dos vereadores de Carmona Rodrigues, Pedro Feist, que assim ajudou os socialistas nas suas intenções -, os outros dois projectos foram chumbados, ou seja, mantêm--se os antigos edifícios até decisão em contrário. O trabalho de Valsassina prevê "a manutenção das fachadas principais do conjunto e a ampliação com desenho e linguagem contemporânea de três a quatro pisos, sendo os primeiros recuados". Pedro Feist, que chumbou os outros dois empreendimentos, justificou o seu voto favorável em relação ao hotel com o facto de já conhecer o projecto há muito tempo e por lhe agradar. Mas mostrou-se confiante que as restantes transformações venham a ver a luz do dia, após os promotores alterarem os projectos.
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ESTAMOS BEM SERVIDOS OU NÃO ESTAMOS?
A CIDADE CONTINUA A DESERTIFICAR-SE E NO LOOCAL ONDE JÁ HÁ 20 HOTEIS FAZEM MAIS UM. OS TURISTAS EM BREVE FICARÃO SOZINHOS A OLHAR UNS PARA OS OUTROS, À PROCURA DE INDÍGENAS QUE PASSAM NOS AUTOCARROS CHEIOS VINDO DOS SUBÚRBIOS.
O COSTA ASSIM NÃO VAI ONGE.
E COMO ESTÁ BELISSIMAMENTE ACOMPANHADO!
O problema é meramente estético, dizem os sociais democratas.
Caramba, é uma descoberta, poder isolar a estética do resto, até aqui a estética vivia sem vida própria mas ao ganhá-la, torna-se menor, é … “meramente”. Chamem os filósofos para terem aulas com os sociais democratas, gente fantástica que governa e destrói as nossas cidades, em alegre convivência (democrática) com os socialistas pragmáticos
A Pedro Feist agradou o hotel porque já conhecia o projecto há muito tempo
Também me parece bem, um voto por agrado – agrada-me-não-me-agrada-agrada-me-não-me-agrada, como os amores de infância à mercê de malmequeres. Pensar a cidade em função de gosto pessoal e da quantidade de tempo que se conhece um projecto é uma tarefa digna de um parlamentar da cidade.
Salva-se a Roseta e ao menos desta vez o Sá Fernandes

6 comentários:

Tiago R. disse...

Seja justo.
O PCP também votou contra as três propostas.

Anónimo disse...

Quem assina este texto?

Anónimo disse...

ok
mas sabe que historicamente o PCP tem (quase)tantas culpas como os outros partidos na situação desta cidade, por acção,por omissão e etcs...

Anónimo disse...

LOBO VILLA 12-9-08

O que se está a passar em Lisboa do tipo "agrada-me-não-me-agrada" é uma vergonha; é o que se passa no resto da governação,é simplesmente a falta de planeamento, de "destino",de idéias...é o neo-liberalismo puro e duro, da negociata caso-a-caso, do dinheiro,do compadrio,da corrupção sistémica a avançar pelo meio das "estéticas,do desvario ,da anarquia total, á "boleia" de um Manuel Salgado que de urbanismo não sabe a primeira linha...e de política ainda menos,mas convencido de "bom, que Costa e Cª dele se vão servindo...
Salgado,pensando-se de esquerda,não se apercebe que não tem pulso nem saber para segurar estes devaneios "estéticos" da direita imobiliária,mas julga que tem...
Foi o pior que nos calhou,pois entretanto a cidade vai-se desfazendo.Roseta ia bem melhor!Agora,Costa chamou-a,a ver vamos...

JCD / tart lover disse...

As questões que levanta são muito pertinentes. Tive ocasião de tratar este assunto num texto que publiquei em http://stolethetarts.blogspot.com/. Espero que o assunto não "morra" por aqui. Há valores muito altos a serem defendidos, que não são apenas os patrimoniais.

Anónimo disse...

Após três anos o projecto para a Rua Rosa araújo foi aprovado. Aos proprietários coube a tarefa de apresentar um plano para a construção de um hotel, coisa que estão no seu pleno direito.
A responsabilidade da aprovação do projecto e após todos estes anos coube ao IGESPAR e à CML. Ou seja, a responsabilidade da construção do referido hotel deve-se exclusivamente às entidades acima mencionadas. Bastaria a existência de regulamentos muito claros e muito precisos para que a decisão de aprovação ou não aprovação deste e de outros projectos fosse feita em tempo razoável. Infelizmente não é isto que acontece em Lisboa. Os proprietários esperam e desesperam apenas por inépcia das entidades públicas responsáveis.