14/05/2011

Charcutaria centenária Nova Açoreana, em Lisboa, abre hoje portas pela última vez


Baixa fica sem mais uma das suas lojas emblemáticas (ricardo silva)


Charcutaria centenária Nova Açoreana, em Lisboa, abre hoje portas pela última vez Por Cláudia Sobral (in Publico)

Cento e vinte anos de história não chegam para manter aberta uma das mercearias com mais fama da Baixa. No edifício poderá surgir um hotel


A mesma história tem sido contada vezes sem conta. Mudam apenas os nomes. Desta vez é a charcutaria Nova Açoreana, na Rua da Prata, que fecha - hoje é o último dia em que está de portas abertas para a Baixa. Nem a fama nem os 120 anos de história que já conta a salvaram de ter um destino igual ao de tantas outras casas de comércio tradicional.

As instalações deverão, segundo uma das sócias da empresa, Cristina Maneira, ser transformadas num hotel, que ocupará todo o edifício. A charcutaria fecha, mas "com um sentimento de missão cumprida", garante. "Estão a dar uma conotação de um horror a isto, mas é uma coisa normal. Nem eles [os proprietários, com quem chegaram a um acordo para deixar o espaço] são os vilões nem nós somos os coitadinhos."

Para o presidente da Junta de Freguesia de São Nicolau, António Manuel, não é bem assim. "É com alguma pena que vemos desaparecer estabelecimentos como a Açoreana ou a Loja das Meias [que fechou em 2007], que estão ligados à memória da Baixa e fazem parte da sua identidade", diz. "A Baixa fica mais pobre. Mas não podemos ver nisto algo irreversível. A renovação da Baixa vai, com certeza, fazer com que também se venha a afirmar de outra forma."

Reabrir num novo espaço é, admite Cristina Maneira, uma hipótese que se coloca, mas não por enquanto.

Na opinião do historiador de Arquitectura António Sérgio Rosa de Carvalho, que vive perto da Nova Açoreana, o encerramento de mais um "estabelecimento tradicional com características importantes e raríssimas" é algo de desastroso: "Isto depois nunca mais se consegue agarrar. É irreversível."

"Os resíduos de identidade, o brio ligado ao sentimento de tradição e continuidade estão a desaparecer pela crise e por uma espécie de desânimo, uma vontade de desistir, de largar", explica. E o que está a conduzir ao fecho de cada vez mais casas destas - recorda outras como o último correeiro da Rua dos Correeiros, que dará lugar a um hotel - é, acredita, a ausência de um plano de urbanismo comercial em Lisboa.

"Até que ponto é que a câmara vai continuar a olhar para o lado e a fingir que este problema não existe?", questiona. Muitas outras mercearias finas têm fechado na cidade. Uma delas foi a charcutaria Brasília, na Rua Alexandre Herculano, que encerrou no final de 2010.

Em 2009, foi aprovado um projecto de obras de conservação no prédio da Nova Açoreana, que não previam a sua transformação em hotel. O PÚBLICO tentou perceber junto da câmara se, depois disso, entrou outro projecto que preveja a criação de um hotel, mas não obteve qualquer resposta. Tentou também, sem sucesso, contactar o dono do edifício.

8 comentários:

Anónimo disse...

Pelo toldo e pelo aspecto do exterior, ninguém diria que estão ali 120 anos de história.

Que venha o hotel.

Anónimo disse...

Que comentário leviano, percebe-se que não conhece a loja em questão. Vá lá antes que feche e vai surpreender-se como vale a pena manter este espaço!

Anónimo disse...

ninguém impede a charcutaria de abrir noutro local. o edíficio estava abandonado nos pisos superiores (bastava ver a janelas abertas fizesse sol ou chuva) e de certeza que vai ficar melhor com um hotel lá.

Filipe Melo Sousa disse...

claro que vai fechar. onde há estacionamento ali para os clientes. não há pois não? depois admirem-se e digam que os lisboetas é que estão todos errados e que não vos entendem.

Anónimo disse...

Caro Filipe Melo Sousa,
Há estacionamento mesmo ali perto, a poucos passos de distância, practicamente na mesma rua ou ao fim dela, na Praça da Figueira.

A não ser que queira que cada loja tenha a sua própria garagem.

Filipe Melo Sousa disse...

Estacionar na praça da Figueira a pagar o que se paga para ir à charcutaria??


LOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOLOL

Anónimo disse...

Caro Filipe,
Também se paga estacionamento no Colombo.
E não se vai à Baixa só para ir à charcutaria.

Eis o problema dos portugueses. Não vivem as cidades. As lojas da Baixa não são para ir lá comprar qualquer coisinha com o carro estacionado à porta com os piscas, e voltar para casa.

A Baixa deve ser um destino de passeio, uma zona pedonal convidativa a lisboetas e turistas, onde se fazem compras em passeio. Limpem a Baixa, retirem os carros, e terão vida e comércio na zona.

Filipe Melo Sousa disse...

os carros já não moram lá há muito. apenas a aparência de congestionamento com o artifício de sinais sempre fechados, e uma única faixa para a atravessar.

o colombo proporciona comodidade por um custo de estacionamento razoável, chegando mesmo a não pagar nada se fizer compras. e só precisa de se deslocar uma vez, pois encontra lá tudo. quem precisa de sustentar a família, trabalha a não tem tempo percebeu isso há muito tempo, sabia?