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30/10/2018

Por uma estratégia municipal de redução das temperaturas urbanas


Ex.mo Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina,
Ex.ma Senhora Presidente
Arq. Helena Roseta


Cc. Gab. VMS e VJSF e Media

Tendo em conta as alterações climáticas por que o planeta tem passado nas últimas décadas, e a previsão de que tal se agravará nos próximos anos, partilharão V. Exas. das preocupações da generalidade dos lisboetas face a alguns dos dados mais sintomáticos quanto ao futuro que nos espera, de que se destacam:

· Em 2003 houve mais de 35 mil mortos em toda a Europa em consequência de uma "Onda de Calor".
· Todos os anos, fora destas "ondas de calor", morrem mais pessoas de excesso de temperatura do que durante estas ondas.
· As alterações climáticas vão fazer aumentar, ainda mais, a quantidade e duração destes picos.
· Em 2040, estima-se que em toda a Europa, as mortes por "golpes de calor" sejam o dobro do valor anual actual.
· As principais vítimas desta situação são os muito jovens, os mais velhos e os pacientes de doenças cárdio-vasculares.
· As temperaturas altas vão ser o "novo normal".
· As temperaturas nas zonas urbanas são, geralmente, mais altas que as das zonas rurais sendo este um fenómeno nocturno, devido às diferenças de materiais e à morfologia dos centros das cidades que absorvem mais calor durante o dia e libertam-no mais devagar de noite.

É por isso cada vez maior o número de especialistas a defenderem que para se controlar este calor a nível urbano há que o fazer em duas vertentes em simultâneo: é preciso agir a nível do interior dos edifícios, mas também no seu exterior.

Daí a forma como desenhamos os nossos espaços abertos, desde as estradas aos parques e às rotundas, ter impacto nas temperaturas urbanas, e o modo como construímos os nossos edifícios de habitação e de escritório poder contribuir para a redução das temperaturas na cidade.

Serve o presente para propormos a V. Exas. e à Câmara Municipal de Lisboa, que durante o presente mandato de Vereação, se produza um debate sério e profundo sobre estes aspectos por forma a que a cidade de Lisboa constitua um caso de sucesso no que toca ao atenuar das consequências dessas alterações climáticas no dia a dia da cidade, mas também contribuindo para uma correcção dessas alterações.

Assim, e na medida das nossas possibilidades, apresentamos um conjunto de propostas à CML:

1. Que a CML transforme um número significativo de rotundas e de cruzamentos, onde existam separadores ("ilhas"), em espaços verdes ou com jogos de água por forma a fazer descer a temperatura ambiente.
2. Que promova, em colaboração com a EPAL e as Juntas de Freguesia, uma efectiva operação de reparação das fontes, chafarizes e bicas que, por toda a cidade, estão inactivas há muitos anos.
3. Que nos passeios mais largos da cidade, sobretudo nos bairros residenciais, instale efectivas zonas de vegetação por regra e não por excepção à regra geral dos quiosques com esplanada.
4. Que, decorrente do ponto 3., em todas as iniciativas do "Uma Praça em Cada Bairro" sejam incorporadas zonas de vegetação extensas e de baixa manutenção (ver p.ex. o que não foi feito a este respeito no Largo do Casal Vistoso).
5. Que sejam colocadas fontes nos jardins públicos que não as possuam (p.ex. jardim Fernando Pessa), reduzindo assim a temperatura ambiente por evaporação.
6. Que a CML, nos projectos urbanísticos que licencia, mormente em projectos de construções novas, e uma vez que a partir de 2020 todos os novos edifícios terão de ser NZEB de acordo com a legislação nacional e comunitária, aplique a regulamentação incentivando a componente de arrefecimento dos edifícios com novas tecnologias através da redução de taxas municipais (IMI e outras) favorecendo, por exemplo, o reforço de "telhados verdes" *, com ou sem tanques de acumulação de águas pluviais, tanques de acumulação de água nestes telhados verdes para arrefecer o telhado e o edifício com válvulas que libertam excessos ou podem alimentar o sistema de água dos edifícios ("telhados azuis"*);
7. E promova não só a construção de cisternas nos logradouros dos edifícios novos (ou a reabilitar), por forma a armazenar-se água para fins que não precisem de água potável (rega de espaços verdes, sanitários, etc.), mas que faça também um levantamento das cisternas antigas ainda existentes na cidade histórica e que se estude a sua reabilitação para armazenamento de águas pluviais e com isso promover-se a utilização de águas pluviais em actividades como a rega de espaços verdes e lavagens.
8. E que nos licenciamentos sobre projectos de alterações e ampliações em logradouro, a CML promova não só a necessária alteração ao Plano Director Municipal (no conceito e fórmula relativos à ocupação dos logradouros vs. "superfície vegetal ponderada") no sentido de garantir uma maior permeabilidade dos solos, e mesmo de proibir claramente construções novas em construções pré-existentes de génese ilegal.

E que, mais uma vez reforçamos, a CML promova efectivamente não só a boa manutenção das árvores da cidade de Lisboa, das árvores frondosas, de médio e grande porte, das árvores em espaço público, nos parques à sua guarda, nos arruamentos e nos passeios, em detrimento das crónicas más práticas a nível de podas, rega, etc., que fazem com que Lisboa seja um mau exemplo no que toca à gestão do arvoredo, como ao plantio de verdadeiras manchas verdes, com as espécies mais adequadas de modo a contribuir para uma gestão mais natural das temperaturas.

Sem árvores tudo quanto acima propomos não fará sentido, e, pior, não terá o efeito pretendido.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Rui Martins, Bernardo Ferreira de Carvalho, Virgílio Marques, Mariana Carvalho, Margarida Pardal, António Araújo, Jorge Pinto, Júlio Amorim, Pedro de Sousa, Helena Espvall, Miguel de Sepúlveda Velloso, Fernando Silva Grade, Maria Ramalho, Fernando Jorge, Beatriz Empis, Luís Rêgo, Filipe Teixeira, Maria do Rosário Reiche, Inês Beleza Barreiros

* Sobre "telhados verdes":
http://www.epa.gov/heatisland/strategies/greenroofs.html
https://sftool.gov/explore/green-building/section/76/green-roof/system-overview#green-roof/extensive-green-roofs
http://news.nationalgeographic.com/news/2002/11/1115_021115_GreenRoofs_2.html

*Sobre "telhados azuis":
http://www.nyc.gov/html/dep/html/stormwater/green_pilot_project_ps118.shtml
http://www.experientialdesignlab.com/projects/auxiliary-projects/blue-roof
https://www.cnv.org/city-services/water-sewer-and-drainage/drainage/stormwater-management-for-single-family-and-duplex-developments/roof-based-detention

Foto de telhados verdes em Denver

25/06/2014

À volta do Campo Pequeno, as hortas estão a nascer de mãos dadas com a arte

Projecto artístico de Vera Mantero e convidados abre esta quarta-feira, em Lisboa. Visa promover uma maior aproximação entre as pessoas e os produtos agrícolas.

Por Sara Ruas, Público de 25 Junho 2014 | Imagem de Sandra Ribeiro

Haverá desde performances artísticas até debates sobre agricultura

“Uma horta em cada esquina” é o objectivo do projecto artístico “Mais pra menos que pra mais” de Vera Mantero, Rui Santos e Elisabete Francisca, em colaboração com a Culturgest e o Teatro Maria Matos. Iniciado em Dezembro de 2013, na altura da celebração dos 20 anos da Culturgest, o projecto promove uma agricultura sustentável promotora da arte e da cultura em harmonia com o ritmo urbano.
O projecto envolveu a criação de quatro hortas “e meia” – quatro dos terrenos dispensados foram plantados ou tiveram algum tipo de intervenção, enquanto um outro terreno, devido a certas normas que não foi possível cumprir, será espaço de uma intervenção artística efémera, a “horta súbita”, que será ocupada por plantas durante cerca de duas horas, num cruzamento entre a arte e a agricultura.
A instalação final será apresentada ao público a partir desta quarta-feira e prolongar-se-á até domingo à noite. Além das performances artísticas nos espaços das hortas, haverá também uma série de conferências e debates sobre agricultura e sustentabilidade sob o nome “Circuito Curto – Curto Circuito”, esta quarta e quinta-feira no Maria Matos.
A iniciativa prevê ainda a realização de workshops para crianças, visitas guiadas aos espaços hortícolas, concertos, uma marcha do orgulho hortícola, dança, oficinas de desenho e ainda uma instalação de cinema nas montras e lojas do movimento dos comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Londres e Roma, entre outros que podem ser consultados em http://www.culturgest.pt/arquivo/2014/docs/programa-veramantero.pdf
Durante a duração do projecto, o público poderá visitar os espaços das hortas – dois na Culturgest, um no jardim da Biblioteca Municipal Palácio Galveias e ainda um terreno baldio ao pé da Praça de Touros do Campo Pequeno.
O projecto das hortas urbanas foi organizado a partir de um apelo a todos os que quisessem aprender a cultivar e praticar agricultura. Conseguiram mais de 100 voluntários para as hortas, desde pessoas que viviam perto dos espaços até às que tinham de atravessar a ponte sobre o Tejo para ir ajudar.
As hortas foram feitas em regime de permacultura, um cultivo sustentável de plantas que se entreajudam e protegem e que ajudam à fertilidade do solo, com a ajuda de hortelões profissionais da UrbanGrow, WAKESEED, Horta do Mundo e da Horta da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
As culturas plantadas vão desde as alfaces e agriões às plantas aromáticas e pepinos. No último dia do projecto haverá um piquenique com os vários voluntários e hortelões, para o qual o público em geral também está convidado. Serão usados os vegetais cultivados nos últimos dois meses.
“Queríamos criar uma experiência única, criar espaços e recuperar formas de socialização sem que fosse o regresso ao primitivo” comenta Rui Santos, arquitecto e um dos autores e promotores do projecto. “Queríamos criar uma urbanidade preocupada com questões ambientais.” Rui refere que parte do objectivo foi também combater a solidão, especialmente entre a população idosa.
O projecto foi baseado na campanha Incredible Edible, iniciada por duas mulheres de Todmorden, Reino Unido, em 2007. A campanha promovia o cultivo de vegetais e plantas em jardins e espaços públicos e ajudou imensamente a economia local. A campanha britânica conta neste momento com mais de 50 cidades aderentes em todo o país.
Vera Mantero, cenógrafa e dançarina foi a principal impulsionadora do projecto. Quando inquirida sobre o objectivo principal, responde com a expressão “cenografias comestíveis”. “Para além de espaço de cultivo, as hortas serão também palcos de performance, dança, recitais de poesia.”
A iniciativa surge também como uma continuação de uma instalação artística em Montemor-o-Novo organizada pelos mesmos artistas, chamada “Oferecem-se Sombras”.
Luísa Sousa, 63, é uma das voluntárias do projecto. Enquanto corta arames para poder pendurar os vasos das plantas aromáticas na horta vertical no Jardim do Palácio das Galveias recorda como se envolveu: “Vinha para a biblioteca com a minha filha quando reparei num canteiro muito maltratado e voluntariei-me para tratar dele. Foi quando me falaram desta iniciativa e resolvi aderir.” Ajudou um pouco em todas as hortas, e da experiência só tem a dizer o melhor “Neste último mês aprendi mais que nos últimos dez anos da minha vida.”
Após a conclusão do projecto artístico, a organização espera que os voluntários possam continuar o agrícola. No terreno baldio foi assegurada uma renda a ser renovada anualmente, e nos outros espaços, como na Culturgest e na Biblioteca, os artistas estão a contar com a ajuda dos funcionários.
Texto editado por Ana Fernandes


24/02/2014

Crescem couves e plantas medicinais entre prédios e estradas

Hortas comunitárias, clandestinas, sociais, espontâneas. Existem pelo menos 70.235 hortas urbanas na Grande Lisboa. Uma dúzia de horticultores mostram os seus quintais ao ar livre da cidade. O local onde passam mais tempo do que a cozinhar ou a comer aquilo que plantam.
Por AlexandraGuerreiro, Público de 24 Fev 2014 | Fotos de Oxana Ianin
Com um gorro branco a cobrir as orelhas, Mariama conta que, mesmo com este frio, Malam Baldé se levanta às 6h, só algumas vezes por volta das 7h, para trabalhar no talhão. “Fui trocada por uma horta!” Esta é a frase que Mariama Camara, a sorrir mas não a brincar, usa para exemplificar a dedicação que o marido tem nos seus 30m2 na Adroana. Junto a este bairro social da freguesia de Alcabideche, a Câmara de Cascais inaugurou, em Janeiro, o mais recente parque hortícola do concelho.
Estes talhões fazem parte do programa Hortas de Cascais. As primeiras hortas comunitárias da Área Metropolitana de Lisboa nasceram em 2009, no Parque Urbano do Alto dos Gaios, na freguesia do Estoril. Agora já existem 1372 talhões apoiados pelas câmaras em 11 concelhos da Grande Lisboa.


Com uma enxada portátil com uma lâmina de dez centímetros, José Fernandes empurra a terra das laterais dos alhos para os cobrir. “Cresceram bem e já estavam de orelhas de fora”, diz, fixando o chão. Tem a horta na Quinta dos Lombos, na freguesia de Carcavelos, desde finais de Setembro. A plantação de José está um pouco atrasada. Nem todas as sementes plantadas dão frutos e legumes, justifica.
Ao lado, está outro talhão, mas bastante recheado. “Em casa, ele tem uma planta da horta onde estão as indicações sobre cada cultura, desde o tempo de vida ao espaço que ocupa”, diz Teresa Matos sobre o marido. “Ele passa aqui três, quatro vezes por dia”, continua. Viciado na sua horta que tanto trabalho deu, Sérgio diz que gosta de a vigiar para que nada se estrague.  
André Miguel, responsável pelo projecto Hortas de Cascais, explica que a agricultura urbana tem uma grande importância para a comunidade. Inspirados por aquilo que já se fazia no Grande Porto e perante o número de hortas clandestinas, de uso espontâneo, a Câmara de Cascais percebeu que as pessoas queriam ter a sua horta, uns por necessidade, outros por lazer, conta.
Horta comunitária na Quinta dos Lombos, Carcavelos, Cascais
Ana Sofia deseja plantar uma farmácia natural no cantinho que tem na Quinta dos Lombos. Tem o seu talhão desde Setembro, mas, devido a um braço engessado, a terra permanece castanha, inviolada. A farmacêutica, agora desempregada, expressa o plano: “Quero só flores e ervas aromáticas para ter plantas medicinais”.
Perto do Colombo, em Lisboa, Patrocínia Sabugueiro levanta a foice pela antepenúltima vez no dia, enquanto passa atrás de si um jovem a correr na ciclovia. Há dois anos que tem uma horta comunitária. Já era horticultora, mas o espaço diminuiu. “Antes tinha aqui uma de 1000m2, agora tenho 150”, lamenta, encolhendo os ombros. Mas não se aborrece e continua a trabalhar a terra com a mesma vontade de há 27 anos, quando começou a sua horta clandestinamente naquele local.
Mais abaixo, neste parque hortícola da Quinta da Granja, em Benfica, Maria, João e Mug, a cadela com pêlo castanho-claro e de olhos azuis, têm um talhão pela primeira vez. O casal diz que tudo foi cultivado por eles. “Já temos morangos, uma laranjeira com uma laranja, couve, alface, tomate, cebola e ervas aromáticas.” Inexperiente, o casal frisa que a interajuda entre os horticultores foi fundamental. “A formação [dada pelas câmaras] é apenas um começo.”
António Furtado já tem “muita experiência”. De enxada na mão, enquanto arranca as ervas secas espalhadas pela terra ainda húmida, explica, gesticulando com a mão livre do cabo, como é que se faz uma boa horta. “Primeiro é preciso limpar o terreno tirando a palha. Depois cerca-se. Solta-se o terreno porque está rijo. E põe-se as sementes. Mais tarde, quando a terra estiver seca, tira-se a água da ribeira e rega-se”. Está a começar uma, ao lado de um espaço verde com caminhos pedestres e com um riacho, junto do Dolce Vita Tejo, na Amadora. António está desempregado e não quer ficar em casa de braços cruzados. Não sabe se o solo que cava é bom. Mas do outro lado da ribeira, ao estilo dos socalcos do Douro, couves e favas crescem como se estivessem num dúplex hortícola.
Necessidade versus lazer
No concelho de Loures, num vale verde com vista para a estrada onde passa o 313, o único autocarro de acesso ao Bairro da Apelação, estão centenas de hortas espontâneas. Ao lado deste bairro social da freguesia de Frielas os moradores da povoação começaram, há cerca de um ano, a cultivar neste espaço.
Hortas clandestinas no Bairro da Apelação, Loures
A madeira no chão que traça o apertado carreiro entre estas hortas está encharcada. O caminho está coberto de lama e água. Mas Orlando Mendes consegue chegar ao seu espaço. Com um casaco cor de vinho de flanela quadriculada, de calças de ganga escuras e botas pretas, não está ali para cavar a terra. Com o mau tempo dos últimos dias, não era possível fazê-lo. “Vim só ver se não se estragou nada.”
Nas tábuas que improvisam os caminhos, cruzou-se com Augusto Pontes, o autor da ideia. “Este era um espaço sem nada. Por que não poderia ser usado?” Mãos à obra. Juntou portas de madeira, cabeceiras de cama, tábuas, canas, e cercou uma grande área para si. Tem plantado favas, couves, ervilhas, batatas. Augusto explica que começou a fazer a horta porque não tinha o que comer. Desempregado, aquilo que consegue produzir é o alimento da sua família. Mas no Verão torna-se mais complicado porque a água já não cai do céu.  
Mais a norte, na Póvoa de Santa Iria, ouvem-se crianças a rir e a falar alto perto de Mário Caceres. Estavam a jogar à bola na escola paralela às hortas. Mário tem um talhão de 40m2 com duas portinhas de canas onde se lê “entrada proibida” e uma cerca com uma altura desencorajadora para intrusos. Fica grande parte do dia ali. Reformado, gosta de estar atento e há sempre algo para fazer. Uma folha seca de couve tem de ser tirada ou umas malaguetas apanhadas.
Ter uma horta requer dedicação e tempo. Mesmo assim, as hortas urbanas proliferam. Agora com uma vertente cada vez mais comum: as câmaras criam-nas para reabilitar os espaços verdes. A maioria dos projectos começou em 2011. E o ano passado houve um aumento significativo: 654 hortas comunitárias foram criadas só na Grande Lisboa. “Fica mais barato construir um parque hortícola do que construir um espaço verde”, diz André Miguel. Apesar disso, ainda se multiplicam hortas espontâneas. A maioria daqueles que as têm, tanto as usam para se manterem ocupados como para terem um meio de subsistência. Por sua vez, as hortas comunitárias são mais uma actividade de lazer.
Malam e um vizinho na horta na Adroana
Hortas no Bairro da Adroana, pertencem à autarquia de Cascais
Contudo, a necessidade também está presente nestas. Do talhão em Alcabideche de Malam para a mesa da cozinha, nada é desperdiçado. Mariama explica que “corta o ramo da cebola, parte aos pedacinhos, esmaga com pimentão e azeite e junta com arroz branco. Fica uma delícia!” O casal da Guiné-Bissau tem cinco filhos, ele está desempregado e ela tem um trabalho de apenas quatro horas. Retiram da terra uma grande ajuda.
As hortas servem como um complemento económico porque a maioria dos frescos podem ser colhidos. “Normalmente existe uma relação entre a necessidade e a quantidade: quanto maior a abundância de alimentos num talhão, maior o grau de necessidade”, explica André Miguel.
Por outro lado, a qualidade dos produtos é sempre um factor defendido pelos orgulhosos horticultores. Em Carcavelos, Isabel Campos, vizinha de José Fernandes e Sérgio Matos, tem a horta mais crescida. Ressalva que o sabor é totalmente diferente. “O gosto dos produtos muda, não só porque são biológicos, mas também porque dá um enorme gozo colher aquilo que se plantou”. No seu talhão, a organização prima. Canas ao alto a fazer um triângulo, presas por um fio branco de croché, demonstram-no. A professora reformada explica: “Uma horta inserida junto a um bairro deve ter uma certa estética. Devemos preservá-la porque ninguém gosta de ter uma vista para um jardim que parece uma barraca”.
Brincar aos agricultores
Apenas um dos filhos de Malam, com dois anos, gosta de brincar aos agricultores quando tenta arrancar folhas de couves. Mas as hortas comunitárias pretendem também contribuir para o desenvolvimento das relações interpessoais e intergeracionais. Inseridas numa comunidade, ao ar livre, podem ser uma alternativa de ocupação de tempos livres e uma oportunidade para os mais jovens de adquirirem competências agrícolas.
Na Apelação, Orlando conta que apenas um jovem aderiu à ideia das hortas, ficando com uma. Depois desistiu. “Não queria ter trabalho e vendeu-a a um vizinho por 20 euros. Gastou-os de seguida ali no café”.
Por sua vez, Mário está sozinho na sua horta em Vila Franca de Xira. Conta que “há quem só passa lá uma vez por mês, apanha umas couves e vai embora”. Dos 84 horticultores, apenas oito se juntam para conversar no banco de madeira que fizeram em cima do tronco de uma árvore encurralada entre dois talhões.
Em Lisboa, Maria, João e Mug continuam o seu passeio. No Verão costumam ficar mais tempo. “É mais agradável porque os dias longos trazem mais disponibilidade para quem trabalha”, explica Maria, enquanto fecha a porta feita de painéis de madeira que isola o seu talhão. Mais acima, Patrocínia arranja-se para ir embora. “Uma mulher tem sempre muito que fazer”, diz.
Em Cascais, Mariama também vai para casa, mas Malam vai ficar a colher umas alfaces. Em Carcavelos, José e Sérgio ficam a trabalhar a terra, apesar de não estar tão agradável, como há uns dias, quando estavam mais colegas nas hortas.
Distintas, as hortas espalhadas pelo distrito de Lisboa estão tanto à beira de estradas, como no meio de um espaço verde ou no centro de uma povoação. Uma horta passa a ser vista como um jardim de alfaces, cebolas, morangos, couves, e CD, pendurados para espantar os pássaros comilões de legumes, fruta e sementes.
Augusto Pontes já limpou a terra e vai agora procurar algo abandonado em descampados ou perto de caixotes do lixo para vedar o espaço que acabou de arranjar. Ali crescerá a única alternativa que tem ao subsídio de desemprego que não recebe.
Grande Porto inaugurou 85 talhões só este ano
A Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto – em parceria com oito municípios da região inaugurou este ano mais 85 talhões no âmbito do projecto Hortas à Porta. Os últimos 49 talhões foram abertos no início deste mês em Valongo.
Benedita Chaves, responsável pelo projecto, diz ao PÚBLICO que esperam “abrir mais cinco parques hortícolas este ano”. Em 2013 conseguiram distribuir 217 talhões. O projecto Hortas à Porta, criado em 2004, abrange os municípios de Vila do Conde, Valongo, Póvoa de Varzim, Porto, Espinho, Gondomar, Maia e Matosinhos. Foi pioneiro em Portugal e nasceu a partir de um projecto que visava sensibilizar a população para a compostagem caseira e a agricultura biológica no Grande Porto.
Benedita Chaves afirma que surgiu na Maia há quase dez anos porque os munícipes queriam ter um espaço para praticar agricultura biológica. “Tiravam cursos connosco e gostavam de plantar produtos, mas não tinham um local.” Dois dias depois de divulgarem o concurso para distribuírem 74 talhões, já tinham recebido 200 candidaturas. Hoje as Hortas à Porta já têm 966 talhões nos oito municípios.


28/03/2012

CML impõe novas restrições de circulação no centro

in transportesemrevista.com, 27 Março 2012. Por Andreia Amaral ~



A Câmara Municipal de Lisboa vai proceder ao alargamento da Zona de Emissões Reduzidas (ZER) no centro da cidade. Esta é a segunda fase da ZER e prevê, a partir do próximo dia 1 de abril, o agravamento das limitações ambientais no eixo Av. da Liberdade/Baixa, onde passa a ser restringida a circulação de veículos pesados fabricados antes de Outubro de 1996 e de veículos ligeiros fabricados antes de Janeiro de 1996.
Adicionalmente, os veículos, ligeiros e pesados, fabricados antes de julho de 1992 deixarão de poder circular na zona a sul da Av. de Ceuta, Eixo Norte/Sul, Av. das Forças Armadas, Av. dos Estados Unidos da América, Av. Marechal António de Spínola, Av. Santo Condestável e Av. Infante D. Henrique. A medida aplica-se nos dias úteis, no período compreendido entre as 7h00 e as 21h00, e admitem-se como exceções os veículos de emergência, especiais e de pessoas com mobilidade reduzida.

05/05/2011

Movimento Verde Alfacinha


Chegado por e-mail:


«Boa tarde Cidadania LX,

Gostaria de apresentar o Movimento Verde e sugerir, se possível, a inserção de uma noticia sobre o evento no blog Cidadania LX.
Fico deste já agradecida e estou disponível para mais informações.
Em anexo cartaz e programa.

Obrigada.

Margarida Girão



UMA NOVA COR PARA O PLANETA

O Verde Movimento é a cor que nasceu do desejo de tornar o mundo mais limpo, mais sustentável, mais consciente, mais Verde Movimento. Apostamos na sensibilização através de acções localizadas. Pessoa a pessoa, cidade a cidade, queremos mostrar que não só é possível como é simples tornar a nossa vida mais ecológica.

A revista GINGKO (http://revista.gingko.pt), em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e a NormaJean, está a organizar o primeiro evento do Verde Movimento. O Movimento Verde Alfacinha é um festival a decorrer em Maio (14 e 15), na Avª da Liberdade, Pq. Eduardo VII e Jardim Amália Rodrigues e cruzará os temas do ambiente, sustentabilidade e bem-estar.
A programação é vasta: workshop de hortas biológicas, workshop IKEA para uma casa mais sustentável, um “hospital da roupa” com o estilista Dino Alves com dicas para reutilização de roupa, uma fábrica de poções naturais para crianças e até aulas práticas para fazer sabão natural com cinzas de lareira! Ensinamos a fazer pratos deliciosos com alimentos naturais e económicos. E para adquirir os produtos mais frescos e naturais, teremos no sábado de manhã um mercado biológico na Avenida da Liberdade e ainda um mercado de Antiguidades e Artesanato.

É uma oportunidade para experimentar uma aula de auto-massagem, biodanza, yoga do riso, yoga dinâmico ou yoga Yengar.

Todas as actividades são de acesso gratuito.

Neste fim de semana, com o Movimento Verde Alfacinha, inauguram os quiosques Liberdade com uma programação musical que inclui jazz, ópera, fado e muitos Dj's. É também a oportunidade para experimentar as delícias gastronómicas do Banana Café, do Maritaca, do Hotdog Lovers e do Melhor Bolo de Chocolate do Mundo!

Venha também conhecer a Turma do Bem, uma das maiores redes de voluntários do mundo, com o objectivo mobilizar médicos dentistas para cuidar gratuitamente da saúde oral de jovens carenciados.

Vamos festejar a sustentabilidade! Juntem-se a nós!

www.verdemovimento.com
www.facebook.com/verdemovimento»

20/01/2011

Lisboa entre as piores capitais europeias a cuidar do solo

Um relatório da Agência Europeia de Ambiente mostra que a capital portuguesa tem dos solos mais impermeáveis das capitais europeias. Pior do que Lisboa só mesmo as antigas capitais satélites do regime soviético: Bucareste, Tirana e Varsóvia.
Em comparação, Londres (Reino Unido) tem uma área impermeabilizada de 42,5 por cento e Estocolmo (Suécia), a capital melhor colocada no ranking, de 22,90 por cento.
No relatório, a Agência Europeia do Ambiente recorda que o solo é um dos recursos mais importantes do planeta, porque nos proporciona não só serviços fundamentais, como a produção de comida ou o armazenamento de água subterrânea, mas também protecção contra cheias e regulação microclimática, entre outros.

21/10/2010

Ministério do Ambiente vai criar grupo de trabalho sobre reabilitação de centros urbanos

Chegado por e-mail:

«O ministério do Ambiente vai criar um grupo de trabalho para avaliar e uniformizar políticas de reabilitação dos centros urbanos, após a aprovação do Orçamento do Estado para 2011, revelou hoje, segunda-feira, a ministra Dulce Pássaro.

Dulce Pássaro afirmou que o próprio primeiro-ministro "já deu o seu aval" à criação deste grupo de trabalho "para avaliar o que está a ser e virá a ser feito em termos de definição de políticas de reabilitação de centros urbanos".

"Será um grupo interministerial, que envolve três ministérios, que ainda não está constituído, mas que o será após a aprovação do orçamento", afirmou Dulce Pássaro, durante a abertura do encontro "Património Natural e Cultural: Construção e Sustentabilidade", que hoje decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

A ministra considerou que "é fundamental para o país que o Orçamento seja aprovado, porque só a partir de um quadro de estabilidade se pode governar e efectivamente aplicar políticas".

"Eu acredito que isso vai acontecer e então aí nos constituiremos o grupo e aí começaremos a trabalhar", acrescentou.

Para Dulce Pássaro, o Orçamento do próximo ano exige "que sejam definidas prioridades", mas não vai condicionar os trabalhos do ministério.

"Vivemos tempos de contenção e se não fazemos mais depressa fazemos mais devagar. E para já, em termos desta temática da reabilitação, eu diria que o ano que vem é mais de estudo e de definição de estratégias do que de grande execução", salientou.


TG»

19/08/2010

Entrevista preocupante no Jornal Quercus Ambiente:

Entrevista a Pedro Bingre sobre ordenamento do território, AQUI. Dá vontade a fugir.

31/05/2010

Compromisso ambiental "10:10"/Desafio a inscrição da CML

Exmo. Sr. Presidente da CML
Dr. António Costa


Serve a presente para lançar à Câmara Municipal de Lisboa o desafio de aderir à iniciativa ambiental 10:10.

O 10:10 é uma iniciativa global, mantida em vários países e tem um objectivo simples e eficaz: todos os sectores da sociedade (pessoas, escolas, empresas, organizações, câmaras municipais, governo, etc.) comprometem-se a cortar as suas emissões de CO2 em 10% durante um ano.

Várias câmaras municipais estrangeiras já aderiram ao projecto, como por exemplo Oslo e Bordéus, e centenas de cidades britânicas cobrindo 43% da população britânica, de Birmingham a Manchester, Brighton, Bristol, Oxford, Newcastle, etc. A inscrição mais recente foi a do recém-eleito governo britânico que, no seu primeiro anúncio depois de tomar o poder, assumiu o compromisso a cumprir a meta do 10:10 entre as metas prioritárias do seu mandato [1]

Entre nós, apesar de recém-nascido, o 10:10 Portugal vai a caminho das mil pessoas inscritas, conta já com várias empresas inscritas e é parceiro oficial do programa nacional Eco-escolas. O site da iniciativa é este: http://1010.pt.

E uma vez que a CML assinou em 2009 o pacto europeu para reduzir as suas emissões em 20% até 2020 (http://www.eumayors.eu/) e assume a sustentabilidade ambiental como factor chave da sua política de longo prazo (vide a Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa), pensamos que ao aderir a esta iniciativa a CML terá a oportunidade para abraçar um compromisso concreto e imediato no caminho da cidade mais sustentável e amiga do ambiente por que todos pugnamos.

Por outro lado, uma inscrição da CML servirá de inspiração a muitos outros sectores da cidade -juntas de freguesia, empresas municipais, munícipes, escolas, universidades, empresas – e do país, por ser a primeira câmara municipal a fazê-lo.

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos.



João Pedro Barreto, Paulo Ferrero, Fernando Jorge, Luís Serpa, José Morais Arnaud, Pedro Janarra, Carlos Leite de Sousa, Diogo Moura, João Leonardo, João Chambers, Virgílio Marques, Jorge Pinto, Miguel Atanásio Carvalho, Carlos Matos, Nuno Franco, Alexandra Maia Mendonça, Ana Alves de Sousa, Ana Sartóris e Maria Helena Barreiros



[1] Mais informações aqui: http://vimeo.com/11737406

08/01/2010

Árvore desprotegida na Rua das Damas

Mais uma árvore (Olaia) completamente desprotegida junto de uma grande intervenção urbanística na Rua das Damas (Freguesia de Santiago). A fotografia é suficientemente elucidativa do problema. O Pelouro do Ambiente já foi alertado para este caso em Dezembro de 2009. Esperemos que sejam tomadas medidas de modo a que a integridade desta árvore seja garantida. O dono da obra deveria, por exemplo, construir uma caixa de madeira em volta do tronco. É isso que a lei obriga em países como o Reino Unido. Mas em Lisboa as árvores são tratadas como um estorvo ou simplesmente ignoradas. Este caso vem chamar atenção para a urgência de um regulamento de protecção das árvores em contexto de operações urbanísticas.

22/12/2009

Lisboa quer poupar dois milhões até 2013 na eficiência energética

In Sol Online (22/12/2009)

«A Câmara de Lisboa faz hoje o balanço de um ano da Estratégia Energético-Ambiental que definiu para a capital e apresenta novas medidas que, na área da eficiência energética, permitirão poupar cerca de dois milhões de euros


Só com as novas medidas que a autarquia prevê lançar ao nível da iluminação pública e dos semáforos a autarquia prevê evitar a emissão de mais de oito mil toneladas de CO2 todos os anos.

Numa conferência nos Paços do Concelho, que contará com a participação do presidente da autarquia, dos vereadores do Ambiente, Sá Fernandes, e da Mobilidade, Nunes da Silva, além do presidente da Lisboa E-Nova, serão apresentadas novas medidas nas áreas da recolha selectiva e limpeza urbana, redução do consumo de energias primárias e estrutura ecológica, com a criação de mais corredores verdes.

Na área da mobilidade a aposta vai para as zonas onde a velocidade é limitada a 30 quilómetros por hora, um conceito já em prática na capital, e para a aplicação de um tarifário diferenciado nos parques de estacionamento da EMEL para desincentivar o uso do automóvel no centro da cidade.

Será igualmente abordado o plano para redução do trânsito de atravessamento na Avenida da Liberdade para diminuir os níveis de poluição encontrados naquela zona da capital.

Esta iniciativa surge como a resposta de Lisboa às negociações conseguidas em Copenhaga, na Cimeira do clima, que terminou no final da semana passada.

A Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa foi aprovada em 2008 e, na altura, definia como metas, entre outras matérias, a redução em 8,9 por cento do consumo de energia primária (relativamente a 2002) e da média anual de 1,85 por cento, através de uma actuação prioritária no sector dos edifícios e transportes rodoviários.

Contudo, a Câmara Municipal definiu para si própria metas mais ambiciosas, com uma redução anual de consumo de energia na ordem dos 1,95 por cento para conseguir uma diminuição global de 9,4 por cento até 2013.

No consumo de água a redução definida é de 7,8 por cento relativamente a 2004 e nas perdas uma diminuição de 15,6 por cento.

No sector dos materiais, a recolha selectiva, que em 2006 representava 0,15 tonelada/habitante deverá atingir as 0,19 toneladas/habitante em 2013, ou seja, um aumento de 29 por cento.

Lusa / SOL »

22/04/2009

Lisboa envia 1200 animais feridos por ano para centro de recuperação




MONSANTO
Lisboa envia 1200 animais feridos por ano para centro de recuperação
22 04 2009

No Parque Florestal de Monsanto uma equipa de especialistas dá assistência a animais silvestres feridos. Atropelados, feridos por tiros, envenenados ou mantidos em cativeiro, vários animais são entregues para serem tratados.
Inês Santinhos Gonçalves igoncalves@destak.pt


Lisboa tem muitos e variados jardins, onde a fauna e a flora vão encontrando o seu espaço, mas é no Parque Florestal de Monsanto que se concentra a maior riqueza ecológica da cidade.
É neste verdadeiro pulmão verde da capital que se localiza o Centro de Recuperação de Animais Silvestres, o único da região.
Aqui trabalham cerca de 15 pessoas, entre veterinários, biólogos, engenheiros químicos e vários estagiários.
«A nossa especialidade são as aves», que constituem cerca de 90% dos 1200 animais feridos que ali chegam por ano, explicou ao Destak o veterinário Pedro Melo. Isto explica-se, em parte, por Lisboa estar localizada numa rota migratória entre a Europa e África.
Mas também há raposas, furões, morcegos, «animais que entram em casas ou galinheiros, foram atropelados ou estavam ilegalmente em cativeiro». Há até répteis, como cágados e camaleões que vêm de outras zonas do País e viajam dentro dos car-ros de quem vem de férias.
Apenas cerca de 40% dos animais são devolvidos à natureza, pois muitos apresentam «traumas muito fortes». «Têm que ser capazes de se reproduzir para garantir a biodiversidade», explica o veterinário. Quando isso não acontece são encaminhados para parques zoológicos.
Este centro de recuperação pertence à Câmara de Lisboa, mas está também integrado numa rede de centros do Instituto de Conservação da Natureza. Estes centros entreajudam-se, recebendo e enviando animais.

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Se achar um animal:

• Aproxime-se com cuidado, o animal ferido pode ser agressivo;
• Cubra-o com uma peça de roupa, para privá-lo da visão;
• Coloque-o dentro de uma caixa de cartão perfurada e com tiras de jornal no fundo;
• Contacte o centro de recuperação para saber o que fazer;
• Caso o animal não possa ser transportado para um centro com rapidez, deve manter a caixa num local escuro e calmo.

In Jornal "Destak".






23/03/2009

Lisboa: poluição atmosférica aumenta risco de morte

in TVI24

"O aumento súbito de pequenas partículas poluentes na atmosfera contribui para elevar o risco relativo de morte, revela o primeiro estudo realizado em Portugal para quantificar o efeito da poluição na mortalidade da população de um concelho, refere a Lusa.
O estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) insere-se no projecto RiskarLx e visou avaliar o efeito da poluição atmosférica por partículas na mortalidade dos residentes no concelho de Lisboa entre 2000 e 2004.
Como variáveis, os investigadores contabilizaram a concentração média diária de PM10 (partículas em suspensão na atmosfera com dimensão inferior a 10 microns - unidade que corresponde à milésima parte do milímetro), entre outras.
«O que se pretendeu compreender foi qual a influência da variação súbita das PM10 na mortalidade», explicou a investigadora do INSA Rita Nicolau, frisando que o «impacto é pequeno mas o efeito atinge muitas pessoas».
Do estudo concluiu-se que o acréscimo de 10 microgramas por metro cúbico de PM10 eleva o risco relativo da mortalidade em 0,66 por cento, considerando todas as idades e sexos.
Verificou-se também que o efeito nocivo da poluição atmosférica tende a agravar-se com a idade dos indivíduos.
O risco relativo de morte aumenta 0,85 por cento nos indivíduos com mais de 65 anos e 1,22 por cento nos com mais de 75 anos.
Estes dados foram inferidos com base nos casos de mortalidade independentemente das suas causas, com exclusão dos acidentes.
O estudo analisou mais especificamente o efeito do aumento das PM10 nas mortes causadas por doenças do aparelho circulatório e respiratório.
Nas mortes causadas por doenças do aparelho circulatório, o estudo estima que o risco relativo suba para 1,15 por cento.
Quanto à mortalidade associada a doenças do aparelho respiratório, o estudo só permitiu determinar um aumento de risco para os mais idosos, que foi de 2,24 por cento nos indivíduos com mais de 75 anos.
O estudo visou a «poluição de fundo», aquela que é «permanente», e não directamente relacionada com tráfego, medida na estação dos Olivais.
O Projecto RiskarLX é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e é coordenado pelo Departamento de Ciências Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Este estudo vai ser apresentado hoje no Instituto de Meteorologia a propósito do Dia Meteorológico Mundial, este ano dedicado ao tema «O tempo, o clima e o ar que respiramos»."

06/02/2009

Liberdade Poluída



O problema está bem identificado: apesar de os automóveis serem cada vez menos poluentes (consequência da aplicação das Normas EURO e do esforço de redução das emissões de CO2), o aumento exponencial do número de veículos em circulação é mais do que suficiente para contrariar (e eliminar) essa vantagem. Para se ter uma ideia, entram diariamente em Lisboa cerca de 400 mil veículos, muitos deles apenas como tráfego de atravessamento, outros fazendo parte dos chamados movimentos pendulares casa-trabalho, outros simplesmente para que os seus proprietários se desloquem a Lisboa para consumir e passear. O que leva aos congestionamentos que se vêm hoje em dia nos principais acessos à cidade (A5, IC19, A1, A2, Calçada de Carriche...), que se tente minimizar o problema aumentando o número e a dimensão das rodovias.

Mais vias de tráfego conduzem no curto prazo a uma melhoria efectiva das condições de circulação, mas no médio-longo prazo trazem apenas mais congestionamento devido ao fenómeno de indução, uma vez que um maior número de pessoas tenderá a utilizar o transporte individual devido ao aumento da sua atractividade . Veja-se o exemplo do IC19 (cada vez mais faixas e mais trânsito) da radial de Benfica (no início muito prática para quem regressava da margem sul, agora está impossível em hora de ponta). Isto tendo em conta que em média cada veículo transporta cerca de 1,2 passageiros... uma média que nos deve deixar orgulhosos, com toda a certeza.

A liberdade de cada um usar carro próprio nas suas deslocações interfere negativamente com a liberdade dos outros terem uma boa saúde (sobretudo os Lisboetas que são quem sofre mais com a poluição atmosférica na cidade). Tendo em conta este facto, torna-se imperativa uma mudança de hábitos com vista a reduzir o número de carros que entram diariamente em Lisboa. Estes têm um impacto muito significativo em termos económicos e de saúde pública (não só em Portugal, mas um pouco por todas as principais cidades Europeias) pois a poluição atmosférica é responsável por 310.000 mortes prematuras na Europa todos os anos, mais do que as causadas por acidentes rodoviários. O custo estimado para a economia europeia varia entre € 427 e € 790 mil milhões por ano.

Daí que hoje em dia se fale cada vez mais de medidas disciplinação do tráfego automóvel com vista à melhoria da qualidade do ar, aplicadas em várias cidades europeias. Entre estas medidas inclui-se a criação de Zonas de Emissões Reduzidas, onde não possam entrar veículos que não cumpram, pelo menos uma determinada norma de emissões (EURO I ou EURO II, por exemplo), reorganização da oferta de estacionamento tarifado e aumento da fiscalização do estacionamento ilegal, a melhoria do desempenho ambiental de frotas cativas (como os táxis e os veículos de recolha de RSU)e o aumento da atractividade dos transportes colectivos (com por exemplo maior número de km em corredor BUS, a melhoria da interligação entre modos de transporte público e a criação de parques periféricos que estimulem o park & ride). Isto para não ir tão longe como as portagens à entrada das cidades ou a congestion charge de Londres.


(Também publicado aqui.)

05/10/2008

Amesterdão quer ser capital das cidades sustentáveis

in Público, 05.10.2008, José António Cerejo

Aposta reside no recurso criativo às tecnologias da informação. É a batalha pela sustentabilidade em que Lisboa também está envolvida

Descrever Lisboa como uma cidade amiga do ambiente - onde os espaços verdes são um brinco, os transportes públicos funcionam em articulação perfeita com milhares de bicicletas particulares e os desperdícios energéticos e a qualidade do ar são uma preocupação de todos e de cada um - é sonhar com um futuro prometedor, mas certamente longínquo.

O dia-a-dia de Amesterdão, uma metrópole com uma dimensão semelhante à da capital portuguesa (740.000 habitantes), permite acreditar, porém, que os sonhos se podem tornar realidade e que o crescimento desordenado pode dar lugar ao desenvolvimento harmonioso e sustentável.

Sintomático é o facto de a capital holandesa não se contentar com o que tem e que tanto faz pasmar os visitantes. 'Queremos ser cada vez mais um terreno fértil para o surgimento de estratégias inovadoras face à ineficiência das infra-estruturas urbanas tradicionais', repisa o presidente do município local, Job Cohen, um autarca que não é eleito - é designado pela Coroa -, mas que reúne apoios muito amplos. Em pleno centro da cidade, a qualquer hora do dia, circula-se tranquilamente de automóvel, de bicicleta, de eléctrico, a pé, ou mesmo de barco pelos seus 165 canais. Ninguém se atropela, um maestro invisível parece reger os fluxos de tráfego, a velocidade média de uns e outros está a léguas de distância do nosso passo de caracol. E estacionar um carro até é quase tão fácil como fazê-lo com uma bicicleta, o que não quer dizer que seja simples e muito menos barato. Mas quem estiver disposto a pagar 4,8 euros por hora consegue um lugar com vista para os canais, mesmo no coração do centro histórico.

Um exemplo a seguir
'Desde que aqui cheguei, há ano e meio, nunca me passou pela cabeça comprar um automóvel', afirma Maria Estrada, uma jornalista mexicana. Reside a meia hora de comboio do centro e, tal como uma grande parte do milhão e meio de habitantes da chamada Grande Amesterdão, tem duas bicicletas: uma para ir de casa à estação, nos subúrbios, e outra para percorrer o caminho até ao escritório, no centro da cidade. Quando quer fazer um passeio dificilmente compatibilizável com o uso de transportes públicos, coisa rara para ela, aluga um carro por uns dias. O mais notável é que deslocar-se de bicicleta não é ali uma coisa de pelintras, nem é chique: é apenas natural e óbvio, um estilo de vida partilhado por todos os estratos da sociedade.

A exemplaridade da principal cidade holandesa não se fica, contudo, pelas questões da mobilidade. Exprime-se no estado das ruas, dos jardins e da água dos canais, no tratamento dos resíduos sólidos, na conservação dos edifícios antigos e modernos, na sensibilidade dos cidadãos aos fenómenos do aquecimento global e das alterações climáticas, no combate em favor da tolerância entre as 174 nacionalidades que ali convivem, na programação das novas urbanizações, na gestão dos solos urbanos - solos que, por coincidência ou não, são quase todos propriedade do município... Convém dizer também que o município tem 25.000 trabalhadores (em Lisboa são apenas 11.000 e há quem diga que são demasiados), número que poderá não ser alheio a muito do que extasia os visitantes. '

Parece que eles já resolveram todos os problemas, mas mesmo assim levam a sério as questões da sustentabilidade, que para nós são apenas teóricas', afirma Anil Sasi, um jornalista indiano que acompanhou o PÚBLICO numa visita a uma espécie de loja do cidadão reservada ao acolhimento de trabalhadores estrangeiros altamente qualificados e acabados de chegar à Holanda (os knowledge migrants). É certo que Anil Sasi conhece uma das razões para que assim seja: 'Eles já não têm de se preocupar com problemas básicos como a subsistência quotidiana, que na Índia afecta pelo menos 500 milhões de pessoas, metade da nossa população.

Desafio e oportunidade
Mas há pelo menos outra explicação para que as autoridades municipais de Amesterdão tenham transformado a luta contra as alterações climáticas, o combate às emissões de dióxido de carbono e o aumento da eficiência energética numa bandeira partilhada pelos agentes económicos, científicos e culturais e por grande parte da população: o desenvolvimento sustentável é visto como uma condição de sobrevivência e ao mesmo tempo como uma enorme oportunidade de negócio.

Situada quatro metros abaixo do nível do mar, Amesterdão não podia deixar de encarar o aquecimento global e a subida da água dos oceanos como uma terrível ameaça, que exige a adopção de medidas drásticas. Daí o município ter apostado em metas tão ousadas quanto a descida em 40 por cento, nos próximos dez anos, das emissões de CO2, relativamente aos níveis de 1990.

E a experiência acumulada em séculos de corpo-a-corpo com a força do mar, e de convívio harmonioso com uma natureza adversa, não podia ser encarada senão como um trunfo para transformar em riqueza os desafios presentes. 'As nossas soluções de mobilidade, de eficiência energética, de reciclagem de resíduos ou de economia de recursos podem ser repercutidas em muitos outros locais como um contributo inovador para o desenvolvimento sustentável', afirma Carolien Gehrels, vereadora da Cultura e da Competitividade no município de Amesterdão. Mais directo é Job Cohen, o presidente da câmara local. 'Nós somos um povo de mercadores. Um dos nossos desafios é encontrar ideias inovadoras e criativas nos domínios da sustentabilidade e vendê-las ao resto do mundo', sintetiza, salientando que uma das actuais apostas da cidade reside em 'combinar a agenda das tecnologias da informação e da comunicação com a agenda ambiental'.

Ou seja: a batalha já não se circunscreve aos campos mais tradicionais dos transportes ou o do aquecimento dos edifícios, mas visa também a maximização dos benefícios das tecnologias da informação, com o recurso generalizado às redes de fibra óptica, à banda larga e a soluções que reduzam os consumos de energia. A ideia - sublinhou Job Cohen na semana passada, no decurso de uma conferência internacional realizada no quadro do programa Connected Urban Development, uma pareceria que reúne a empresa Cisco, um dos líderes mundiais em redes informáticas, e sete cidades de vários continentes, como a capital holandesa e Lisboa - é 'reforçar o papel de Amesterdão como centro de incubação de projectos inovadores que contribuam para o desenvolvimento sustentável e que possam ser postos em prática em toda a parte'.

Com 740.000 habitantes, a capital holandesa conta com 600.000 bicicletas e um sem-número de locais próprios para as deixar, incluindo barcos estacionados nos canais e silos de vários andares. Mesmo assim, nem sempre é fácil arranjar lugar.