21/06/2007

Obras dificultam a circulação no Bairro Alto

In Público (21/6/2007)
José António Cerejo

«Edifício dos antigos Armazéns de São Roque foi adquirido por um grupo imobiliário e turístico que tem antiga vereadora do Urbanismo do Partido Socialista entre os administradores

O velho e arruinado palácio dos Andrades, na Rua de São Pedro de Alcântara, frente ao elevador da Glória está finalmente a ser consolidado. Os últimos proprietários não conseguiram ver aprovado para o local um hotel de cinco estrelas, em mais de uma dúzia de anos de esforços, e os novos, que adquiriram o imóvel já este ano, iniciaram agora o reforço da sua estrutura, ao mesmo tempo que desenvolvem um novo projecto para a reabilitação do palácio. Os peões que ali circulam é que já estão a pagar a factura.
Ocupado até ao início dos anos 90 pelos Armazéns de São Roque, o antigo palácio ocupa um quarteirão inteiro, delimitado pelas ruas de São Pedro de Alcântara e do Diário de Notícias e pelas travessas das Água da Flor e da Boa Hora. Com a falência dos armazéns, a instituição de solidariedade social que recebera o imóvel em doação acabou por o deixar ao abandono, mantendo-se apenas algumas pequenas lojas que ocupavam parte do piso térreo.
Nos últimos dias de 1999, uma derrocada verificada no miolo do quarteirão, forçou os comerciantes a abandonar o edifício. Nessa altura foi necessário construir uma enorme estrutura metálica, a toda a largura da Travessa da Água da Flor, que impediu o desmoronamento das paredes exteriores e ainda hoje se mantém no local. A propriedade já se encontrava então na esfera do grupo de João Bernardino Gomes, um empresário da construção civil e da hotelaria que há mais de meia dúzia de anos procurava transformar o velho palácio num hotel de luxo.
Os processos arrastaram-se durante mais de uma década na Câmara de Lisboa e no Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), e no início do ano passado, quando faleceu num acidente de viação, João Bernardino Gomes ainda aguardava a aprovação do projecto.
Em Fevereiro deste ano, o processo de degradação do edifício acelerou-se e Carmona Rodrigues, após uma vistoria dos serviços camarários, deu dez dias aos proprietários para fazerem as obras necessárias para garantir a segurança de pessoas e bens. A notificação ainda afixada no exterior do prédio já não foi emitida em nome de João Bernardino Gomes, mas sim da Hersal, uma empresa do grupo imobiliário e hoteleiro Carlos Saraiva que tem como administradores, além do próprio Saraiva, a antiga vereadora do Urbanismo do executivo de João Soares, Margarida Magalhães, e o ex-chefe de gabinete do ex-autarca, Tomás Vasques.
As obras de emergência não foram feitas no prazo fixado, mas o passeio fronteiro ao palácio, na estreita Rua de São Pedro de Alcântara, foi vedado com barreiras metálicas, tornando a circulação de veículos e peões uma operação de alto risco. Nos últimos dias tudo se complicou, em particular na Travessa da Boa Hora e na Rua do Diários de Notícias, onde as máquinas e os operários começaram a perfurar o solo e a colocar estacas metálicas.
De acordo com Carlos Saraiva, os trabalhos em curso - que não estão identificados no local com o aviso de obras de afixação obrigatória - nada têm a ver com a transformação do palácio no CS Palace Elevador da Glória, que ali quer construir, mas apenas com a consolidação de toda a estrutura.
"O projecto de contenção do eng. João Appleton foi aprovado pela câmara e destina-se a evitar que o edifício se desmorone", afirmou.
O empresário acrescentou que o novo projecto para o futuro hotel está a ser desenvolvido em articulação directa com o Ippar e com o Gabinete do Bairro Alto, mas só será formalmente submetido à apreciação camarária depois de obtido o consenso necessário com aquelas entidades. Por isso mesmo não há prazos para o início, nem para a conclusão das obras.
A fachada do palácio dos Andrades, parcialmente classificado como imóvel de interesse públicio, vai ser integralmente mantida, diz o promotor Carlos Saraiva. Segundo o empresário, os trabalhos em curso destinam~se também a assegurar que ela não ficará em perigo no decurso das obras a realizar mais tarde. Já quanto às traseiras do edifício, profundamente afectadas por desmoronamentos anteriores, o projecto deverá contemplar a sua reconstrução, que não será nunca um pastiche do original. O empreendimento contará com estacionamento subterrâneo, sendo que o acesso, bem como a entrada principal do hotel, se situará nas traseiras, na Rua do Diário de Notícias.
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1 comentário:

Anónimo disse...

É lamentável ver que passado tantos anos este artigo contínua bastante actual.
A insegurança dos peões e automobilistas é muita assim como os perigos para a saúde pública.
Um dos pontos mais frequentados pelos que visitam a nossa cidade tem uma obra interminável destas dimensões.
É urgente uma intervenção.