É um dos segredos mais bem guardados de Lisboa: uma casa-museu que alberga peças únicas mas que ninguém conhece.
(...)
Uma das mais importantes colecções privadas de arte de Portugal está às moscas. A directora da Casa-Museu Medeiros e Almeida não esconde o número desconcertante de visitantes por mês: "Uma média de 500, mas há dias em que não temos um único."
É uma média inferior à do museu de arqueologia de Albufeira, por exemplo. A diferença é que o Medeiros e Almeida fica no centro de Lisboa e alberga tesouros de valor incalculável, de quadros de Tiepolo, Brueghel, Rubens, Delacroix e Ribera a uma colecção de relógios que impressiona qualquer um. Os especialistas não hesitam em fazer comparações entre esta colecção e a de Calouste Gulbenkian. A falta de visibilidade da primeira deve-se, em grande parte, à falta de divulgação. "Não temos um tostão de apoio público", diz a directora, Teresa Vilaça, para justificar aquele que é um dos maiores e mais bem guardados segredos de Lisboa, enquanto percorre os salões de paredes e tectos de madeira com pinturas.
Quem passa à beira do discreto palacete oitocentista da Rua Rosa Araújo, nas imediações do Marquês de Pombal, não imagina as maravilhas que ele encerra - nem os dramas que as suas peças contam. Como o serviço de chá usado por Napoleão no seu exílio em Santa Helena, em prata e ébano, ou o relógio de bolso do general Junot, que acabou os seus dias louco - um Breguet de ouro pelo qual o coleccionador Medeiros e Almeida, nascido em 1895 e falecido em 1986, pagou a módica quantia de quatro mil contos nos anos de 60. Quando soube do montante envolvido na compra Salazar telefonou a Medeiros e Almeida a pedir-lhe para ver a peça, que não chega a ter seis centímetros de diâmetros. O coleccionador era um homem do regime, embora não se coibisse de se relacionar com quem entendia.
"Sacrifício exemplar"
Também no capítulo das artes decorativas a casa-museu se distingue pela raridade de algum do seu imenso espólio. Na sala das porcelanas há 20 séculos de história, dos objectos em terracota às exóticas terrinas do séc. XVIII. No mobiliário o destaque vai para uma cómoda lacada Luís XV decorada com paisagens chinesas e roubada por Goering de Paris durante a ocupação nazi. Fabricada por um marceneiro de renome, é comprada por um comerciante de arte português logo em 1947. "Vale o preço de uma herdade completa com vacas e tudo", escreve então o Diário de Notícias.
Pouco virado para a vida rural, é a partir desta altura que Medeiros e Almeida atinge o auge da sua carreira de empresário, o que lhe permite tornar-se um dos maiores coleccionadores de arte do país. Nos leilões chega a disputar peças aos principais museus da Europa. Este é o momento certo para conseguir as raridades na posse das famílias arruinadas pela II Guerra, e ele não hesita. Até porque os negócios que fez durante o conflito correram-lhe bem, nomeadamente o abastecimento de combustível à aviação aliada, conta Teresa Vilaça.
Nalguns casos o coleccionador espera anos até conseguir determinada peça. Mas quem hoje contempla a escultura de Bernini na sala do lago, o colorido púlpito barroco indo-português da capela ou o rebuscado relógio em cristal de quartzo, lápis-lazuli, pérolas e prata oferecido por Luís da Baviera à imperatriz austríaca Sissi não tem dúvidas: foi um esforço bem sucedido.
Vista por um especialista, Anísio Franco, como "um caso exemplar do sacrifício de um proprietário para doar o seu espólio à comunidade", a colecção continua à espera de uma afluência de público que a obrigue a alargar o horário de funcionamento. Inaugurada há seis anos, a casa-museu abre das 13h às 17h30 aos dias de semana, e a partir das 10h00 aos sábados. Aos domingos está fechada.
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Uma das mais importantes colecções privadas de arte de Portugal está às moscas. A directora da Casa-Museu Medeiros e Almeida não esconde o número desconcertante de visitantes por mês: "Uma média de 500, mas há dias em que não temos um único."
É uma média inferior à do museu de arqueologia de Albufeira, por exemplo. A diferença é que o Medeiros e Almeida fica no centro de Lisboa e alberga tesouros de valor incalculável, de quadros de Tiepolo, Brueghel, Rubens, Delacroix e Ribera a uma colecção de relógios que impressiona qualquer um. Os especialistas não hesitam em fazer comparações entre esta colecção e a de Calouste Gulbenkian. A falta de visibilidade da primeira deve-se, em grande parte, à falta de divulgação. "Não temos um tostão de apoio público", diz a directora, Teresa Vilaça, para justificar aquele que é um dos maiores e mais bem guardados segredos de Lisboa, enquanto percorre os salões de paredes e tectos de madeira com pinturas.
Quem passa à beira do discreto palacete oitocentista da Rua Rosa Araújo, nas imediações do Marquês de Pombal, não imagina as maravilhas que ele encerra - nem os dramas que as suas peças contam. Como o serviço de chá usado por Napoleão no seu exílio em Santa Helena, em prata e ébano, ou o relógio de bolso do general Junot, que acabou os seus dias louco - um Breguet de ouro pelo qual o coleccionador Medeiros e Almeida, nascido em 1895 e falecido em 1986, pagou a módica quantia de quatro mil contos nos anos de 60. Quando soube do montante envolvido na compra Salazar telefonou a Medeiros e Almeida a pedir-lhe para ver a peça, que não chega a ter seis centímetros de diâmetros. O coleccionador era um homem do regime, embora não se coibisse de se relacionar com quem entendia.
"Sacrifício exemplar"
Também no capítulo das artes decorativas a casa-museu se distingue pela raridade de algum do seu imenso espólio. Na sala das porcelanas há 20 séculos de história, dos objectos em terracota às exóticas terrinas do séc. XVIII. No mobiliário o destaque vai para uma cómoda lacada Luís XV decorada com paisagens chinesas e roubada por Goering de Paris durante a ocupação nazi. Fabricada por um marceneiro de renome, é comprada por um comerciante de arte português logo em 1947. "Vale o preço de uma herdade completa com vacas e tudo", escreve então o Diário de Notícias.
Pouco virado para a vida rural, é a partir desta altura que Medeiros e Almeida atinge o auge da sua carreira de empresário, o que lhe permite tornar-se um dos maiores coleccionadores de arte do país. Nos leilões chega a disputar peças aos principais museus da Europa. Este é o momento certo para conseguir as raridades na posse das famílias arruinadas pela II Guerra, e ele não hesita. Até porque os negócios que fez durante o conflito correram-lhe bem, nomeadamente o abastecimento de combustível à aviação aliada, conta Teresa Vilaça.
Nalguns casos o coleccionador espera anos até conseguir determinada peça. Mas quem hoje contempla a escultura de Bernini na sala do lago, o colorido púlpito barroco indo-português da capela ou o rebuscado relógio em cristal de quartzo, lápis-lazuli, pérolas e prata oferecido por Luís da Baviera à imperatriz austríaca Sissi não tem dúvidas: foi um esforço bem sucedido.
Vista por um especialista, Anísio Franco, como "um caso exemplar do sacrifício de um proprietário para doar o seu espólio à comunidade", a colecção continua à espera de uma afluência de público que a obrigue a alargar o horário de funcionamento. Inaugurada há seis anos, a casa-museu abre das 13h às 17h30 aos dias de semana, e a partir das 10h00 aos sábados. Aos domingos está fechada.
4 comentários:
E com peças deste calibre, vamos esperar que as diferentes seguranças sejam todas de primeira qualidade......
JA
A Casa-Museu Fundação Medeiros e Almeida tem aquela que é a melhor coleccção de relógios do país, incluindo várias peças Breguet e mesmo algumas assinadas Abraham-Louis Breguet.
perolas a porcos... mais de 20 anos depois na UE ainda estamos neste estado civilizacional! Mas os Centros Comerciais: cheios! Capitalismo tonto e burro.
Eu não percebo as dúvidas da directora do museu Medeiros e Almeida até porque não têm a menor razao de ser. O horário de visitas é tudo menos apelativo - ou será que essa senhora não sabe que aos dias de semana as pessoas geralmente estao a trabalhar às horas a que o museu está aberto?- é que nem aos domingos o podemos visitar, que está fechado... só mesmo aos sábados (que suponho ser o dia em que o museu recebe a maioria dos visitantes). A entrada no museu é "cara" se atendermos aos preços pagos noutros museus portugueses, ainda que a colecção seja muito interessante. Mais uma vez o sabado é o dia que escapa a regra, visto que nesse dia a entrada é gratuita (benditos sábados. Quanto à falta de verbas, esse é um argumento simplesmente ridículo!!! O senhor Medreiros e Almeida providenciou para que o museu tivesse autonomia financeira, por isso não se percebe como o museu nao tem dinheiro para se autopromover.... mais uma vez não preciso de provas para argumentar que quem lá trabalha, incluindo essa directora, devem receber ordenados desmesurados para o pouco trabalho que fazem e depois ainda se queixa da falta de verbas!!!!. De resto eu fui duas vezes ao dito museu e de uma delas, que era o dia dos museus e a entrada era gratuita (atá a bem pouco tempo era o uníco dia do ano em que não se pagava para lá entrar) achei muito interessante os comentários dos vigilantes que se estávam a queixar que naquele dia não iam poder sair mais cedo porque estávam sempre a chegar visitantes. Pelos vistos a falta de visitantes é muito bem vista pelos vigilantes que assim tem a "recompensa" de saírem mais, e assim se depreende que as supostas 4 horas e meia que o museu está aberto por cada dia ainda são encurtadas!!!!.... Por outro lado, ainda neste mesmo dia, ouvi uma visitante referir que o museu estava muito pouco divulgado e que a fundação deveria melhorar isso. Pouco depois uma das conservadoras do museu comentava para a senhora que estava a vender as os bilhtes de entrada "falta de divulgação! a divulgação é feita aqui no museu!" de onde depreendi que a conservadora não gostara da crítica da visitante. Deixo aqui esse desabafo/crítica porque a meu ver a fundação Medeiros e Almeida não está a cumprir bem os deveres que lhe competem. E já era tempo de alguém fazer alguma coisa. A continuar tudo como está, mais vale que o museu só abra ao sábado, que nem se vai notar muita diferença no número de visitantes... e muito menos no exiguo número de horas que ele está aberto ao público por semana!!!
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