21/05/2008

Nova ponte pode ter "impacto desastroso" no trânsito lisboeta

In Público (21/5/2008)
Ana Henriques


«Perda de população da capital corre risco de ser potenciada pela aproximação ao Barreiro. Costa desistiu de tabuleiro mais baixo


A construção da terceira travessia do Tejo, entre Chelas e o Barreiro, pode ter um "impacto absolutamente desastroso" na fluidez do tráfego em Lisboa, caso não seja reestruturada a rede viária da capital, admitiu ontem o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.
O autarca falava num debate que teve lugar na assembleia municipal, e no qual participaram representantes das várias entidades envolvidas na questão. Embora veja no problema "uma oportunidade" para resolver estrangulamentos de tráfego já existentes, e que a nova travessia agravaria, António Costa não escondeu que a sua resolução implica obras de grande dimensão nas artérias da cidade - como a ligação do Marquês de Pombal à Av. Almirante Reis e à Mouzinho de Albuquerque. A antevisão de uma cidade atafulhada com ainda mais automóveis não é mero temor catastrofista: ao quase concluído alargamento do IC19, vindo de Sintra, vai juntar-se a construção de uma nova auto-estrada ligando este concelho à CREL, o IC16. O especialista em transportes José Manuel Viegas explicou como funcionam as coisas: "Cada um por cento adicional de tráfego alonga três a quatro por cento as filas de trânsito". Resultado? "Em menos de nada as filas de trânsito em Lisboa poderão agravar-se em mais de 50 por cento", se ao impacto da nova ponte juntarmos o destas duas últimas obras rodoviárias. Todos falam na necessidade de melhorar a rede de transportes públicos de Lisboa para reduzir o uso do transporte individual - mas será que isso chega?
António Costa voltou ontem a repetir que quer que as receitas das portagens de acesso a Lisboa revertam para o financiamento da melhoria das estradas e dos transportes públicos de Lisboa. Para José Manuel Viegas não é suficiente: "É preciso outras fontes" de financiamento, defendeu. Isso e um entendimento entre as autarquias da área metropolitana sobre o sistema de transportes - sob pena de "cada município olhar apenas para os interesses dos seus eleitores e ficarmos todos a perder". O especialista mostrou-se precupado com a perda de população de Lisboa, fenómeno que corre o risco de ser potenciado com a aproximação da cidade ao Barreiro por via da nova travessia.

Mais vias na Vasco da Gama

O novo aeroporto de Alcochete e a rede de comboio de alta velocidade são a justificação da futura ponte. Embora a Vasco da Gama seja o melhor trajecto para aceder ao futuro aeroporto, o acréscimo de tráfego que sofrerá ao tornar-se o principal acesso à infra-estrutura aeroportuária implica a construção de uma alternativa. "Quando a ponte Vasco da Gama atingir um tráfego de cem mil veículos/dia passará de três para quatro vias em cada sentido", referiu o presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Carlos Matias Ramos. Com obras de alargamento? Não. Através do estreitamento das vias. "Duas faixas passarão a ter 3,25 metros e outras duas três metros, valores que hoje já são inaceitáveis em muitos países da Europa", observou.
Entretanto, o presidente lisboeta desistiu de exigir a redução da altura da nova ponte, depois de ter recebido um estudo do Ministério das Obras Públicas explicando que essa alteração comprometeria a navegabilidade no Tejo, uma vez que as embarcações de grande porte deixariam de poder passar. As objecções de António Costa prendiam-se com o impacto visual que a travessia Chelas-Barreiro terá na cidade - quer na vista de rio, quer já na margem, pelos viadutos que implicará fazer e pilares para os sustentar. As freguesias de Marvila e do Beato, onde a ponte amarra na margem Norte, serão particularmente afectadas neste aspecto, além de sofrer com o aumento do tráfego e do ruído por ele provocado. Um grupo de trabalho com representantes da autarquia, da Rede Ferroviária de Alta Velocidade, da Rede Ferroviária Nacional e da Estradas de Portugal está há dois meses a estudar soluções para reduzir estes e outros impactos.»

Pergunta-se:

1. Porquê esta ideia de facto consumado?

2. Porquê a sensação de que os compromissos são demasiados?

3. Ninguém tem vergonha que venha Madrid dizer que Lisboa não precisa de outro aeroporto?

4. Porquê o silêncio das autarquias da margem Sul?

5. Quem vai construir na margem Sul?

6. Porque ninguém fala em túnel? Não sabem fazer?

7. Porque não uma ponte só ferroviária?

8. Porque não uma ligação única à Linha de Cintura?

9. Vem aí uma Circular das Colinas rebaptizada?

10. Se a Avaliação Estratégica Ambiental for desfavorável, e Bruxelas retirar o apoio financeiro, o Estado português vai retirar a quem a verba em falta?

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa mensagem de facto consumado é terrivelmente redutora para a autarquia.

Temos de obter resposta às muito pertinentes perguntas do Paulo Ferrero.

Miguel Carvalho disse...

Segundo me contaram (não pude acompanhar essa parte do debate na AML) o António Costa disse que iam ser necessárias alterações desde o Beato, prologamento da av. EUA, até Pr.Espanha...
Não é circular das colinas, pq aquela zona zona é plana, mas claramente é uma versão recauchutada da circular.