12/05/2008

Saldanha: a machadada final?


A aprovação de um loteamento na esquina da Av. Casal Ribeiro com o Saldanha, em Lisboa, que possibilitará a construção de um novo edifício naquela conhecida praça lisboeta, "poderá constituir um grave precedente" para outros projectos que "venham a ser aprovados naquela área ou na Fontes Pereira de Melo, nas mesmas condições", disse ao DN a vereadora da do PCP, Rita Magrinho.

Na ordem de trabalhos da reunião do executivo municipal estava ontem agendada uma proposta subscrita pelo vereador Manuel Salgado que defendia a "aprovação e deferimento do pedido de operação de loteamento no Saldanha", apresentado pelo promotor espanhol Reyal Urbis, que comprou os imóveis devolutos da praça ao ex-dirigente do Benfica, Vítor Santos (Bibi).

Na prática, o requerente pretende construir um único edifício em dois lotes. Para tal, é necessário proceder ao emparcelamento/loteamento. Contudo, a oposição encontra neste documento e nesta intenção aspectos discutíveis. "O que tem esta proposta diferente da que foi apresentada ainda no mandato do dr. Santana Lopes e que acabou indeferida? Nada!", disse ao DN Margarida Saavedra, do PSD.

A vereadora social- -democrata questiona os critérios legais para aprovar o "uso de habitação numa zona eminentemente terciária, à luz do PDM". Além da questão dos usos, foi igualmente levantada a das cérceas e da altura.

Segundo Rita Magrinho, "Este projecto tem pisos a mais. Tem 30 metros de altura ou dez pisos" e, além disso, "invoca-se a conformidade com um plano de cérceas para o Saldanha e Fontes Pereira de Melo que nunca foi aprovado e que não passa de um mero estudo, sem força legal", refere a mesma responsável.

De acordo com o autor do projecto, o arquitecto português Vasco Massapina, "propõe-se um edifício de habitação plurifamiliar, com maior incidência de tipologias de características familiares: T2 e T3".

Quanto aos usos, Massapina esclarece: "A introdução da habitação no espaço da praça tende a melhorar a miscigenação funcional do local, contribuindo para o equilíbrio e segurança informal do espaço da rua/praça ao longo das 24 horas do dia." O edifício deverá ter 45 fogos por nove pisos habitacionais, com um T1, dois T2 e dois T3 por piso. Quanto ao enquadramento na área, o projectista sublinha: " A volumetria-base do edifício proposto é uma grande superfície ondulante que se implanta segundo a geometria da Praça."

Manuel Salgado reconhece que a Praça Duque de Saldanha "não é exemplar em matéria de harmonia de cérceas" e sublinha que a câmara pouco pode fazer sobre a matéria. Contudo, destaca o papel regularizador que a autarquia pode assumir no ordenamento do espaço público e irá fazê-lo", disse.

Assim caiem os últimos resistentes das Avenidas Novas...
A Câmara pouco pode fazer (?!)

20 comentários:

Arq. Luís Marques da silva disse...

E entretanto, a publicidade aposta na fachada, é enganadora e falsa; indica a recuperação/manutenção da fachada do edifício antigo, com aumento de cércea, mas sem a sua total destruição.
Agora percebe-se o porquê: Enquanto decorre o processo de licenciamento na CML, evita-se assim muita polémica.
Aprovado o processo, tira-se o cartaz publicitário, deita-se o prédio abaixo (pode sempre dizer-se que caiu),e constrói-se lá, o novo projecto... E os lisboetas confrontam-se com novo facto consumado
Brilhante!!!

daniel costa-lourenço disse...

Na verdade, a publicidade que consta da fachada refere-se a outro edifício...mas engana bem.

"o projectista sublinha: " A volumetria-base do edifício proposto é uma grande superfície ondulante que se implanta segundo a geometria da Praça."

Com este argumento bem se pode arrasar com toda a arquitectura do sec XIX das Avenidas Novas....

Arq. Luís Marques da silva disse...

É verdade Daniel, esta Lisboa está a saque; a saque de quem não gosta, não a sente e ama como nós.
Ao invês do que se faz lá fora, por exemplo em Dubrovnic, onde até os buracos dos obuses são conservados, por cá, arrasa-se com a cidade romântica.
Os turistas que nos visitam, estão limitados á voltinha das antigas glórias; do Castelo ao Terreiro do Paço, do Cais do Sodré a Belem e pouco mais. Tudo o resto está a ser transformado num piroso suburbio, descaracterizado e sem qualquer valor arquitectónico; a mesma falta de qualidade que é usada como argumento, para ser possível demolir os edifícios românticos existentes.
Deixou de haver concentricidade urbana e por conseguinte, deixou de haver uma referência histórica continua, no percurso da cidade.
Agora, tanto faz estar na Av da Liberdade como nas Av.s Novas, no Saldanha ou no Campo Grande, em Benfica ou em Chelas, que é tudo imensamente igual!!!

Anónimo disse...

Os Srs Daniel e M. Silva andam armados em Dom Quixotes a salvar a "Lisboa romântica" não se dando conta que esta já não existe.E que o Saldanha está destruído há muito,mehor,já não existe há muito.Desde a destruição do Monumental,pelo menos;mas antes,desde a "rotunda" abananada,desde a "auto-estradação" das Avenidas-Novas.
E a Srª Magrinho da CML(PCP) mais Sr.arq.Salgado da CML(PCP?PS?) dão vontade de rir a um cão,uma dizendo que tem pisos "a mais" e o outro dizendo que o Saldanha não é "um exemplo de cérceas"...quando,afinal,todas as Avenidas românticas estão totalmente destruídas!
Conhecem os planos de "cérceas"?
´

12-5-08 Lobo Villa

daniel costa-lourenço disse...

Felismente que ainda existem exemplares arquitectónicos de séculos passados em Lisboa.

Mas o facto de estarem cada vez mais isolados não justificam a sua destruição.

No caso do Saldanha, subsistem cerca de 6 edifícios. As cércas são desiguais. Justifica-se a sua demolição para que as cérceas se igualem? Em que mundo civilizado?

Se começarmos a fazer caixotes tipo Cacém em Alfama, teremos de arrazar com Alfama porque as cérceas já não coincidem?

Arq. Luís Marques da silva disse...

Exactamente Daniel, e é precisamente com a teoria de que "como uns edifícios já foram demolidos, os outros também já estão desenquadrados e por isso...", que se vai destruindo tudo o que resta da Lisboa romântica, o que aliás, já tinha sido referido anteriormente por nós. Na zona do Convento dos Inglesinhos, por exemplo, será um belíssimo argumento para começar a especulação.
Os planos de ordenamento, que eu aliás até conheço muito bem, podem ser feitos e desfeitos, os prédios é que não. Esta é a teoria do urbanismo-parolo, que só interessa aos especuladores, mas é sempre bom ver quem está de um lado ou do outro...

Anónimo disse...

Houvessem mais Dom Quixotes...

Filipe Melo Sousa disse...

Se gostam de edifícios baixos, porque não compram terrenos Lisboetas para construir R/C apenas? Ninguém vos impede.

Anónimo disse...

Cala-te ignorante!

Anónimo disse...

Os Srs. Daniel e M.Silva contentam-se por restarem uns quantos (6) edifícios no Saldanha e,afinal,julgarem que a "cidade romântica" ainda se salva,ou ,ainda outra qualquer "cidade".(Lisboa?)
Não os contesto,e,aprecio o bom esforço.Sinceramente.
O que disse atrás e que afinal não lhes consegui "transmitir" é que uma cidade não sobrevive assim,"por Decreto",com a Srª Magrinho(PCP) a falar de "pisos a mais" ,o Sr Salgado(PS?), de cérceas não "exemplares" e outras baboseiras assim.
Vocês conseguem defender o extertor da cidade,prédio-a-prédio;eu não.Mas,sinceramente,aprecio-os e agradeço-lhes tão inglória defesa,pois para mim a cidade morreu.Esta questão do Saldanha é mais uma confirmação disso.
O inútil túnel do Marquês,na sua quási passividade ,foi a prova de vida da cidade,i.e.,a sua certdão de óbito. Mais prédio menos prédio,mais ponte menos ponte,nâo ressuscita a defunta e falida Lisboa,antes pelo contrário,quanto mais demolição/betão mais enterrada fica.

13-5-08 LObo Villa

Arq. Luís Marques da silva disse...

Não vejo as coisas por esse prisma mas, respeito a controvérsia; perfiro seis prédios de época, no Saldanha, do que nenhum. Por exemplo,não me arrependo nada de, na minha juventude e irreverência, ter estado ao lado do arq. Gonçalo Ribeiro Telles, na defesa da moradia na esquina das Av.s de Berna e Républica. Agora está lá e bem, apesar da envolvência não ser das melhores.
Na altura, ainda havia acção concreta e real, de grupos de cidadania que se importavam com a cidade.
Sabe sr. Lobo Villa, eu conheço as pedras das calçadas de quasi toda a Lisboa; ainda tive a sorte de usufruir do Chiado de outros tempos, de fazer compras com a minha mãe nos "Armazens do Grandela"; do "Chiado" e no "Eduardo Martins", fui lanchar á "Ferrari" e á "Benard", comprei os meus livros da escola na "Bertrand"; tive essa sorte!
Tive a sorte de, ainda poder, sem grandes preocupaçôes, calcorrear toda a cidade a pé:
Assisti ao grande incêndio e... chorei.
Já em arquitectura, gostava de passar pelo nosso precoce "Ground Zero", para ver os trabalhos de recuperação; por lá ficava a observar e a criticar, introspectivamente, o que me ocorria pensar sobre o assunto. Sentia o pulsar da cidade.
È portanto, pelo amor que tenho a Lisboa, que falo e critico: Não me movem outros interesses ou valores, porque deles não preciso.
Entendo ser dever de todos nós, os que de facto sentem desta forma a nossa cidade, sermos capazes de ser cúmplices de um acto de verdadeira coragem e altruísmo; quer ser presidente de um qualquer movimento que queira, efectivamente, pensar e defender Lisboa, longe de especuladores, lobies ou forças políticas? Seja, que eu vou atrás de si!
É por isto que continuo a defender os seis prédios do Saldanha. Porque esses seis prédios são, nesse local, o que resta da história, que faz parte da minha vida e eu, gosto demais dela, para deixar que me a que me roubem!

Arq. Luís Marques da silva disse...

"..., para deixar que me a roubem!"

Anónimo disse...

Patético, "...A volumetria-base do edificio prposto é uma grande superficie ondulante que se implanta segundo a geometria da praça.", este comentário para justificar a forma, e a fachada do prédio é simplesmente um atentado à inteligência.
Esta fachada é mesmo muita feia, faz lembrar a arquitectura pos-oderna do século passado.

Arq. Luís Marques da silva disse...

E pior ainda; para justificar a destruição do existente!!!
Obrigado pelo comentário anónimo 10:53

Anónimo disse...

Caros,
Venho informar que a proposta apresentada hoje pelo vereador Manuel salgado acabou de ser aprovada com os votos contra dos Cidadãos por Lisboa e PCP, as abstenções do BE, do PSD e do Lisboa Com Carmona, e os votos a favor do PS.
Justificação do vereador do urbanismo para defender a proposta: "é apenas um emparcelamento, e no Saldanha já nada há a fazer".
Ao emparcelamento seguir-se-à a demolição...

daniel costa-lourenço disse...

Mais um capítulo na suburbanização do centro da cidade.

Mais uns anos e nada distinguirá Lisboa de um reles subúrbio de uma cidade do terceiro mundo.

Podem começar a conservar em formol os bairros antigos e o resto é entregue aos bichos...

Paulo Ferrero disse...

A curiosidade da votação desta machadada final é, não a abstenção de JSF, que, aquando da discussão do Plano de Cérceas da Av. República - saída de pena de CR & G.Seara -, se apressou (e bem) a criticar (e é só recuperar os recortes de imprensa da altura!) e a elencar os edifícios que seriam objecto da foice, entre eles os prédios deste emparcelamento no Saldanha; porque de JSF já esperamos tudo; mas sim a posição do PS, que neste caso foi determinante para a aprovação deste atentado.

Curioso porque na mesma altura, também o PS se apressou, e bem, a criticar o Plano de Cérceas aprovado pela maioria PSD de então, vindo a implorar a defesa de alguns prédios da Avenida da República.

Pelo andar da carruagem - e uma vez que o IGESPAR e a CCDR-LVT são 'figuras de corpo presente'-, aposto que todos os prédios ameaçados de projectos de amplicação e alterações e/ou emparcelamento/loteamento/demolição (ex. cruzamento Av. Elias Garcia/Av. Rep.; Av. João Crisótomo/Av.Rep.; Av.Miguel Bombarda/A.Rep.; Av. Duque de Loulé, Av. Fontes Pereira de Melo) vão ter o 'sim' do PS.

Alegremente, sem que ninguém lho lembre, a começar pelos media (é bom ter memória).

Ninguém, não, porque aqui lho lembraremos, prédio a prédio, sempre que for caso disso.

Arq. Luís Marques da silva disse...

Desculpa-me discordar quanto aos bichos. É que, tal como Roma antiga, Lisboa está invadida não de bichos mas de bárbaros, que não a respeitam nos seus mais infímos pormenores, levando á sua destruição progressiva; a diferença é que os bárbaros antigos, eram bravos guerreiros que lutavam frente a frente. Enquanto que os nossos, os de Lisboa, são mais como os patos...
Nem na qualidade dos invasores temos sorte. Irra!!!

Anónimo disse...

Alguém votou nos bárbaros. Não chegarm pela via das armas.

Anónimo disse...

Pois mas eles só mostram o que são, depois de lá estarem...