Como não concordar com as afirmações proferidas pelo Vereador Manuel Salgado no debate final da sessão cívica "Um dia por Lisboa" do passado dia 27 de Maio?
O que se faz em Lisboa "de reabilitação não tem nada: é apenas construção nova em edifícios velhos". De facto, se metade dos 4600 devolutos (a cidade tem 60 mil imóveis) aguardam licenciamento para reconstrução a partir do zero, então Lisboa está mesmo na Idade da Pedra em matéria de reabilitação. Qualquer cidadão atento já reparou que quem compra um imóvel antigo em Lisboa fá-lo para, no mínimo, demolir o interior. E não tenhamos dúvidas, a grande maioria do que em Portugal se apelida pomposamente de "obra de reabilitação" quer dizer na Europa desenvolvida: "uma construção antiga com a sua identidade patrimonial destruída" ou simplesmente "fachadismo". É urgente combater a má qualidade das intervenções, com regulamentos (a Baixa ainda não tem um regulamento!) e formação das empresas ligadas ao imobiliário e à construção civil.
"As obras que até há uns meses foram feitas nos edifícios municipais e as intervenções coercivas em São Bento, Mouraria e no Bairro Alto foram um desastre e estão todas paradas por incompetência de quem organizou". Foi de facto tudo motivado por protagonismo político, e pessoal, aliado a um amadorismo em gestão dos bairros históricos nunca visto em território nacional. Todos nos lembramos da grande operação de marketing vazio da Rua da Madalena fechada ao trânsito. Mas só enfia o barrete quem quer ou não vê.
O Vereador Manuel Salgado, rematou com a conclusão de que a política dos anteriores executivos camarários foi "absurda". Para ilustrar essa "política absurda", escolhi o caso da Rua da Madalena, 199-209 - uma das vítimas dessa operação de marketing mal disfarçada de "reabilitação" da CML. A foto mostra a fachada de tardoz. Em primeiro plano podemos ver uma instalação sanitária numa varanda pombalina (talvez de génese clandestina). Nada melhor que este pequeno exemplo para provar a política de "fachada" e de marketing vazio que marcou os últimos anos de intervenções municipais na Baixa Pombalina de que a Rua da Madalena foi talvez o caso mais paradigmático.
A foto foi tirada em 2004, após a conclusão das obras de "reabilitação" da CML.
8 comentários:
Sim senhor....do "bunker" cinzento, só falta sair a boca de um canhão de 155 mm, porque o tubo do periscópio, já lá está ao lado.
Assim vai Lisboa....e Baixa-Chiado para Património Mundial? Só se for para rir.....
JA
Quem é que mandou afixar aquela tela enorme na Avenida Fontes Pereira de Melo que diz "Lisboa: Capital Europeia da Reabilitação"?
Depois, mais abaixo faz uma contabilização de prédios "reabilitados": Fica a dúvida se de iniciativa pública ou privada, referente a que período.
Claro, fica a dúvida que tipo de reabilitação.
Basta olhar para o Rossio, onde todos os prédios foram pintados por fora, mas estão todos podres por dentro.
Carmona Rocrigues
eu sabia. era apenas retórica...
Será que o Dr. Pedro Santana Lopes usou este sanitário, em balcão pombalino, aquando da inauguração da nova Rua da Madalena?!
Hoje em dia, nas zonas históricas de Lisboa, a reabilitação de prédios tem sido feita para a habitação. O problema está em ninguem querer morar em prédios sem caixas de ar, onde escorre humidade nas paredes e onde crescem cogumelos no tecto. Eu sei do que estou a falar.
É normal que a recuperação dos prédios, na maioria dos casos, tenha de passar por um grande remodelamento do seu interior. Só assim serão minimamente atraentes.
Nem todos têm romantismo suficiente para arriscar a levar com uma trave podre na cabeça
Nem todos são é ignorantes para pensar que um prédio antigo não pode ser remodelado de modo a fornecer padrões de conforto actuais! Não confundir romantismo com estupidez, please! Nem confundir prédio antigo com desconforto, please! Eu sei do que estou a falar pois vivo num imóvel anterior ao terramoto. Não tem caixa de ar MAS TEM quase um metro de parede de alvenaria d epedra que constitui um óptimo isolador térmico (no verão o calor não entra e no inverno o aquecimento não sai). Já vivi num prédio novo, com 25 anos apenas e que foi a casa mais desconfortável em que já vivi!
...É pena haver quem fale do que não sabe. Parabéns anónimo 12:32, pelo descernimento evidenciado no seu comentário.
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