30/05/2008

RUA DA MADALENA, 199 a 209: um exemplo da política de reabilitação "absurda"



Como não concordar com as afirmações proferidas pelo Vereador Manuel Salgado no debate final da sessão cívica "Um dia por Lisboa" do passado dia 27 de Maio?

O que se faz em Lisboa "de reabilitação não tem nada: é apenas construção nova em edifícios velhos". De facto, se metade dos 4600 devolutos (a cidade tem 60 mil imóveis) aguardam licenciamento para reconstrução a partir do zero, então Lisboa está mesmo na Idade da Pedra em matéria de reabilitação. Qualquer cidadão atento já reparou que quem compra um imóvel antigo em Lisboa fá-lo para, no mínimo, demolir o interior. E não tenhamos dúvidas, a grande maioria do que em Portugal se apelida pomposamente de "obra de reabilitação" quer dizer na Europa desenvolvida: "uma construção antiga com a sua identidade patrimonial destruída" ou simplesmente "fachadismo". É urgente combater a má qualidade das intervenções, com regulamentos (a Baixa ainda não tem um regulamento!) e formação das empresas ligadas ao imobiliário e à construção civil.

"As obras que até há uns meses foram feitas nos edifícios municipais e as intervenções coercivas em São Bento, Mouraria e no Bairro Alto foram um desastre e estão todas paradas por incompetência de quem organizou". Foi de facto tudo motivado por protagonismo político, e pessoal, aliado a um amadorismo em gestão dos bairros históricos nunca visto em território nacional. Todos nos lembramos da grande operação de marketing vazio da Rua da Madalena fechada ao trânsito. Mas só enfia o barrete quem quer ou não vê.

O Vereador Manuel Salgado, rematou com a conclusão de que a política dos anteriores executivos camarários foi "absurda". Para ilustrar essa "política absurda", escolhi o caso da Rua da Madalena, 199-209 - uma das vítimas dessa operação de marketing mal disfarçada de "reabilitação" da CML. A foto mostra a fachada de tardoz. Em primeiro plano podemos ver uma instalação sanitária numa varanda pombalina (talvez de génese clandestina). Nada melhor que este pequeno exemplo para provar a política de "fachada" e de marketing vazio que marcou os últimos anos de intervenções municipais na Baixa Pombalina de que a Rua da Madalena foi talvez o caso mais paradigmático.

A foto foi tirada em 2004, após a conclusão das obras de "reabilitação" da CML.

8 comentários:

Anónimo disse...

Sim senhor....do "bunker" cinzento, só falta sair a boca de um canhão de 155 mm, porque o tubo do periscópio, já lá está ao lado.
Assim vai Lisboa....e Baixa-Chiado para Património Mundial? Só se for para rir.....


JA

daniel costa-lourenço disse...

Quem é que mandou afixar aquela tela enorme na Avenida Fontes Pereira de Melo que diz "Lisboa: Capital Europeia da Reabilitação"?

Depois, mais abaixo faz uma contabilização de prédios "reabilitados": Fica a dúvida se de iniciativa pública ou privada, referente a que período.

Claro, fica a dúvida que tipo de reabilitação.

Basta olhar para o Rossio, onde todos os prédios foram pintados por fora, mas estão todos podres por dentro.

Anónimo disse...

Carmona Rocrigues

daniel costa-lourenço disse...

eu sabia. era apenas retórica...

Anónimo disse...

Será que o Dr. Pedro Santana Lopes usou este sanitário, em balcão pombalino, aquando da inauguração da nova Rua da Madalena?!

Anónimo disse...

Hoje em dia, nas zonas históricas de Lisboa, a reabilitação de prédios tem sido feita para a habitação. O problema está em ninguem querer morar em prédios sem caixas de ar, onde escorre humidade nas paredes e onde crescem cogumelos no tecto. Eu sei do que estou a falar.

É normal que a recuperação dos prédios, na maioria dos casos, tenha de passar por um grande remodelamento do seu interior. Só assim serão minimamente atraentes.

Nem todos têm romantismo suficiente para arriscar a levar com uma trave podre na cabeça

Anónimo disse...

Nem todos são é ignorantes para pensar que um prédio antigo não pode ser remodelado de modo a fornecer padrões de conforto actuais! Não confundir romantismo com estupidez, please! Nem confundir prédio antigo com desconforto, please! Eu sei do que estou a falar pois vivo num imóvel anterior ao terramoto. Não tem caixa de ar MAS TEM quase um metro de parede de alvenaria d epedra que constitui um óptimo isolador térmico (no verão o calor não entra e no inverno o aquecimento não sai). Já vivi num prédio novo, com 25 anos apenas e que foi a casa mais desconfortável em que já vivi!

Arq. Luís Marques da silva disse...

...É pena haver quem fale do que não sabe. Parabéns anónimo 12:32, pelo descernimento evidenciado no seu comentário.