30/11/2009

Portas azuis sobrevivem em edifícios degradados

In Diário de Notícias (30/11/2009)
por FÁTIMA ALMEIDA


«Lisboa acordou com um mistério: o das portas azuis. Algumas casas abandonadas no centro da capital ganharam uma nova expressão, através da pintura de um azul índigo que cobria o cimento e os tijolos das portas. A cor é inspirada na obra do artista francês Ives Klein, que a associava a ideias vinculadas à liberdade. Trata-se de um projecto de arte pública, na forma de textos poéticos e pintura mural, o [dom] - da Onda Magnética -, que se iniciou em Maio de 2008, sob a direcção do artista catalão, Blai Mesa.

Passado mais de um ano, dez das 11 portas que integraram a iniciativa continuam a exibir as frases poéticas sob o azul Internacional. Os prédios não foram recuperados, mas o alerta permanece e continua a permitir questionar as situação deplorável dos mesmos. As portas azuis são ainda uma metáfora para o diálogo e a passagem para um espaço de reflexão.

A porta que já não está pintada fica em frente ao Jardim do Príncipe Real, e foi substituída por uma porta de metal. "Não sabemos se foi por coincidência mas passado pouco tempo a porta foi substituída", disseram Catherine Boutaud e EkoFive, dois dos artistas, adiantando que é um sinal positivo.

A porta situada na Avenida da Liberdade é a única gráfica. Nela estão contidos os elementos que identificam o projecto, disse ao DN EkoFive, autor da intervenção. "A ponte é um sinónimo de união, de passagem para outra margem, de caminho" . O graffiter e designer português entrou no projecto quando viu da janela do seu ateliê alguém pintar uma porta azul. "Como já tinha esta ideia, desci e fui lá falar com ele, primeiro pensei que era um funcionário da Câmara, mas afinal era arte urbana".

Nas outras dez portas foram inscritas frases poéticas, para as quais a inspiração é a cidade e tudo o que a inspira, como o poeta Fernando Pessoa. Na rua Bernardo Lima, sobre o azul ultramar da porta continua a ler-se: "Sobre o asfalto da razão sobrevive a lógica do sensível". "Apesar de ter sido um catalão e um francesa a fazer as frases nós sabemos o que representou Salazar para os portugueses, disse Catherine Boutaud, sobre a frase inscrita na casa que foi daquele político. Na Rua Sousa Martins lê-se "Há: incerteza deliciosa", inspirada na frase tradicional que se vê em cafés e restaurante". As escolhas visaram "reforçar o vínculo do projecto com o universo gráfico da cidade".

O projecto chegou este ano à cidade de Tarragona, Espanha, pelas mãos de Blai Mesa, e outros artistas (ver caixa). Em relação a Portugal, "vai continuar vivo". E mais portas poderão surgir de azul, revelou, ao DN, EkoFive.

O objectivo foi sempre continuar com o projecto, para que o diálogo com a cidade seja permanente, através de linguagens criativas, como a "poesia, pensamento, e desenhos principalmente", alguns deles graffiti, que nada têm a ver com o bombing, os chamados Tags, que encontramos na rua", explicou.

Para os autores do projecto "a fusão entre espaço público e arte é capaz de gerar conhecimento, assim como dinâmicas criativas e positivas para a comunidade.»

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Por instantes pensei que a cor azul tivesse voltado aos caixilhos do Bairro Azul, mas não.

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