13/11/2009

Vitorino pede à câmara para salvar o Ritz Clube, cujo fecho seria "crime de lesa-Lisboa"

In Público (13/11/2009)
Por Inês Boaventura


«Um dos antigos sócios do cantor diz que o projecto falhou "por uma inacreditável incúria"

Vitorino Salomé diz que "não salvar o Ritz Clube", do qual foi arrendatário durante vários anos, "é um crime de lesa-Lisboa" e acredita que a morte da emblemática sala de espectáculos só pode ser travada com a intervenção da câmara municipal. Diferente é a visão de dois dos seus antigos sócios, que acusam o cantor de falta de transparência na gestão do espaço e falam em "incúria" para explicar o fim do projecto.

O cantor lembra que as obras iniciadas durante a presidência de João Soares - altura em que foram recuperadas a fachada e a cobertura do prédio na Rua da Glória -, foram interrompidas com a chegada à autarquia de Santana Lopes, que "abandonou completamente o projecto". Depois disso, recorda Vitorino, já durante a presidência de Carmona Rodrigues, houve uma tentativa nunca concretizada de tomar posse administrativa do imóvel, que fechou as portas há quase uma década.

"O projecto chegou ao fim, porque a câmara mudou", sublinha, concluindo que "tem de haver vontade política" do actual executivo camarário para salvar o Ritz Clube, que recentemente foi colocado à venda por 1,5 milhões de euros. "A câmara devia continuar o processo de posse administrativa", defende Vitorino, explicando que o proprietário do imóvel junto à Praça da Alegria "não percebe o espaço e não tem meios" para o recuperar.

Já Maria do Céu Guerra, um dos seis sócios da empresa que explorou o Ritz Clube nos últimos anos, diz que o espaço foi transformado "numa espécie de cabaret negro" e acrescenta que "também do ponto de vista da gestão as coisas foram sempre pouco transparentes". "Para mim o Ritz foi uma espécie de encontro infeliz", conclui a actriz, confessando que se afastou "sem ruído" e com "decepção".

"Tudo o que existiu foi sem nossa aprovação ou conhecimento", afirma por sua vez Hélder Costa, garantindo que "o sócio Vitorino nunca prestou contas do que se passava". O encenador diz lamentar que o "esforço" feito para recuperar "um espaço degradado e mítico da noite de Lisboa tenha sido perdido por uma inacreditável incúria".

Sobre isto Vitorino recorda que era "maioritário" na empresa e recusa que tenha havido "desentendimentos". "Tinha opiniões diferentes, mas é normal, porque cada cabeça sua sentença", diz. O cantor acredita que a sala de espectáculos podia voltar a afirmar-se como um espaço "multicultural, como já foi", recordando que ali se estrearam "bandas que hoje são famosíssimas". O seu palco foi também "catedral da música africana" e do "experimentalismo teatral".

O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico abriu, em 2008, o processo de classificação do Ritz Clube, mas a decisão acabou por ser revogada. A assessora de imprensa do instituto explica que tal aconteceu porque o seu director considerou que "não tinha valor para ser classificado como monumento nacional ou como imóvel de interesse público", e sublinha que a Câmara de Lisboa "ainda o poderá classificar como imóvel de interesse público".»

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