30/11/2009

Mau gosto e necessidade duvidosa

In Público (30/11/2009)


«É difícil acreditar que a Câmara Municipal de Lisboa tenha aprovado o projecto para a edificação da nova igreja do Restelo, sobretudo se pensarmos que a necessária autorização foi obtida durante o mandato de três presidentes da autarquia. Não sei quais os desígnios do arquitecto responsável por tamanho mamarracho, mas o resultado é simplesmente catastrófico. Mesmo que a intenção tenha sido de conotar a obra com os Descobrimentos portugueses e a consequente evangelização dos povos nativos através da representação de um barco, a volumetria excessiva, as proporções duvidosas e as cores psicadélicas chegavam para que se tivesse impedido que o projecto vingasse. O uso do minarete, com 100 metros de altura (mais consentâneo com uma mesquita do que com a simbologia de um templo cristão) só pode ter sido criado por uma imaginação delirante.

Apesar de também ser católico, custa-me aceitar que o Patriarcado de Lisboa não se tenha oposto a que se gastem milhões de euros na construção de mais esta igreja, sobretudo numa época de acentuada crise económica, mesmo que uma boa parte dos custos tenha sido suportada por doações. A realidade é que no Restelo (e à sua volta) existem variadíssimas igrejas que, além dos Jerónimos, são mais do que suficientes para as celebrações dos actos de culto. Pior do que isso, é a constatação que as mesmas nunca se encontram cheias de fiéis, mesmo durante a celebração da missa dominical. Parece, pois, descabido que se apadrinhe uma megaconstrução (ainda por cima de inegável mau gosto) quando se trata de uma obra perfeitamente dispensável.

Não seria melhor que as autoridades eclesiásticas tivessem incutido um pouco de bom senso no clérigo que a idealizou, lembrando-lhe que a generosidade dos fiéis poderia e deveria ter sido encaminhada para minorar a pobreza extrema que, cada vez mais, é o triste apanágio da sociedade em que vivemos?

Fernando Raposo de Magalhães, Lisboa»

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