08/10/2010

Ribeiro Telles indignado com proposta que abre caminho à construção em logradouros


In Público (8/7/2010)
Por Ana Henriques e Cláudia Sobral

«Proposta socialista de revisão do PDM de Lisboa contraria acordo pré-eleitoral do PS com José Sá Fernandes, selado há um ano para as últimas autárquicas


O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles mostrou-se ontem indignado com a medida do PS para autorizar a construção em logradouros, proposta na revisão do Plano Director Municipal (PDM) de Lisboa. "É uma anedota em termos de planeamento", reagiu Ribeiro Telles na entrevista a publicar na edição do PÚBLICO do próximo domingo.

A proposta socialista foi detalhada na última reunião de câmara, anteontem, e a questão dos logradouros foi um dos alvos de toda a oposição representada no executivo liderado por António Costa - e até o vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, se mostrou preocupado.

Lançar uma campanha de recuperação dos logradouros - via associações de proprietários, com incentivos financeiros de apoio técnico dado pelo município -, foi precisamente uma das condições do acordo pré-eleitoral de Sá Fernandes com os socialistas que governam Lisboa, e cujas listas acabou por integrar, na qualidade de independente. Além disso, Ribeiro Telles é a principal figura da associação de apoiantes de Sá Fernandes, a Lisboa é Muita Gente. Recentemente homenageado com a Medalha de Mérito Municipal, grau ouro, o arquitecto paisagista não assistiu à discussão camarária sobre a revisão do PDM, mas disse, depois de informado sobre a proposta, tratar-se de uma "medida gratuita, a favor da especulação urbana".

"Segundo percebi - prossegue, referindo-se ao documento a que depois teve acesso e ao que lhe foi transmitido -, logradouros são as tapadas, são os quintais, são as cercas conventuais e são as quintas de recreio - aquelas todas do Paço do Lumiar que são do século XVI e XVII. Se isso tudo é logradouro, evidentemente que é um desastre para a cidade de Lisboa. Quer cultural quer ambiental."

Criticou ainda a imprecisão de vários conceitos usados na proposta de revisão, como o de superfície verde: "Ervas sobre betão são superfícies verdes." " [Isso] não é de uma cidade do século XXI e do sistema natural de uma cidade do século XXI", acrescentou. "É encapotar para as pessoas não perceberem bem o que é. Uma árvore vai buscar água às camadas inferiores e as raízes são a forma que tem de se sustentar. Acho bem que, depois de todas as árvores caírem em cima de automóveis e de pessoas, a câmara seja responsabilizada."

Às dúvidas colocadas em relação à proposta de autorizar mais construção nos logradouros - algo que actualmente se faz com muitas restrições (no máximo, 20 por cento da área total) -, respondeu na reunião o vereador Manuel Salgado, vice-presidente do executivo, responsável pelo Urbanismo e coordenador da revisão do PDM. Invocou a necessidade de criar mais estacionamento em Lisboa - nomeadamente nos logradouros -, sob pena de os promotores imobiliários desistirem de reabilitar os prédios antigos. E referiu também o facto de parte dos logradouros já estar ocupada com construção clandestina, que viola a regra dos 20 por cento da área total, actualmente em vigor.

O programa eleitoral do presidente, António Costa, não menciona os logradouros. Diz, no entanto, que Lisboa necessita de aumentar a quantidade de solo permeável e o coberto vegetal. Nesse sentido, promete, entre outras coisas, "promover um programa de fomento de agricultura urbana".

Ribeiro Telles destaca as mesmas necessidades. "Lisboa precisa de locais permeáveis. Diminuir essa área na cidade - potencialmente, uma estrutura verde consistente - é mau em qualquer logradouro", afirma o homem que coordenou o Plano Verde para Lisboa, que está, aliás, em exposição no antigo Mercado de Santa Clara.»

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Ah, grande Arquitecto!

7 comentários:

Julio Amorim disse...

"E referiu também o facto de parte dos logradouros já estar ocupada com construção clandestina..."

Bolas....que raio argumentação é esta?

Anónimo disse...

Este homem não tem papas na língua. O solo da cidade não deve ser especulado mas cuidado, qualificado. Só assim se consegue uma cidade equilibrada e atractiva para viver. A câmara ainda não percebeu isso?

Anónimo disse...

Será assim que a Câmara de Lisboa quer ganhar dinheiro para fazer face à dívida? Permitindo a ocupação de tudo? Por favor, não estraguem, estejam quietos!!!

Luís Alexandre disse...

Sinceramente, não percebi o alcance desta infeliz idéia.
Construir o quê nos logradouros?Legalizar como?
Como é que se vai compatibilizar isso com as permilagens dos condomínios?
A impermeabilização do solo ao ritmo que se tem feito é um sinal de estupidez. A CML deveria era fazer exactamente o contrário, incentivar o aumento das áreas verdes, para permitir um melhor escoamento das águas pluviais e a melhoria das condições climatéricas e atmosféricas na cidade.

Unknown disse...

não percebo é como é que Ribeiro Teles ainda continua a apoiar JSF, que diz que está preocupado. JSF apenas se preocupa em manter o poder e dar nas vistas.E em fazer umas obritas, algumas mal feitas, para justificar a sua presença.

Sandra disse...

Um verdadeiro atraso esta proposta para o PDM! Vamos andar ainda mais para trás?! O Sr. Vereador Salgado acredita ser mais importante que os lisboetas do futuro tenham todos um lugar de estacionamento do que quintais e logradouros arborizados. É inacreditável como em 2010 ainda há autarcas que defendem este tipo de "ideias"! Valha-nos pensadores como o Arq. Ribeiro Telles para denunciar estes crimes urbanísticos encapotados de "solucções" para repovoar a capital!

Julio Amorim disse...

Sim....com gente assim Lisboa vai só continuar bem Lx...lixada!