04/11/2010

CML critica construção no subsolo na Boavista Nascente


In Público (4/11/2010)
Por Inês Boaventura

«A proposta de Carrilho da Graça para a zona entre Santos e o Cais do Sodré mereceu aplausos mas também críticas, pela densidade de construção


A Câmara de Lisboa aprovou ontem, entre louvores ao trabalho do arquitecto Carrilho da Graça e críticas à densidade de construção e à falta de equipamentos, a proposta de modelo urbano do Plano de Pormenor da Boavista Nascente. A construçãode seis caves num dos edifícios mereceu reparos por parte de vereadores da oposição e também da maioria.

O plano apresentado em reunião camarária por Carrilho da Graça desenvolve-se numa área de 7,45 hectares, entre a Rua da Boavista e a Avenida 24 de Julho e entre a Praça D. Luís I e a Rua do Instituto Industrial. Para esta zona, o arquitecto propõe uma série de "edifícios colocados de perfil" (entre os quais estão dois volumes projectados por Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus para a nova sede da EDP), para garantir a preservação do sistema de vistas.

Lembrando que esta é uma área de aterros, vários vereadores manifestaram-se preocupados com as seis caves na futura sede da EDP, duas das quais para actividades comerciais e as restantes para estacionamento. Nunes da Silva, membro da maioria, considerou que esta é uma obra inviável. Carrilho da Graça refutou essa afirmação dizendo que a empresa Nemus - responsável pela avaliação ambiental estratégica do plano de pormenor - concluiu pela sua viabilidade.

Helena Roseta, vereadora da Habitação, criticou a "excessiva densidade de construção" e o comunista Ruben de Carvalho fez reparos à falta de equipamentos. Manuel Salgado, que detém o pelouro do Urbanismo, respondeu dizendo que os índices de construção são "ajustados a este território" e frisou que está previsto um centro de saúde, uma creche, um posto de limpeza urbana e "3000 metros de área edificável para um uso que a câmara vier a definir".


Mexer na 24 Julho e Benfica

O vereador do Urbanismo destacou que com o Plano de Pormenor da Boavista Nascente será também possível corrigir "a péssima solução" hoje existente na Avenida 24 de Julho. Segundo Manuel Salgado, a ideia é "reduzir as faixas de rodagem, aumentar as faixas pedonais e arborizar" esta artéria, obra que será "essencialmente" financiada com as contrapartidas de promotores imobiliários.

Além desta proposta (aprovada com os votos contra do CDS e do PCP e com as abstenções de Roseta e Nunes da Silva), foram aprovadas por maioria as propostas do Plano de Pormenor de Alvalade XXI e do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina.

A propósito da votação de um plano urbanístico para a zona do mercado de Benfica, o vereador Santana Lopes defendeu que a autarquia deve tomar a seu cargo a requalificação de Santa Cruz de Benfica, bairro que o PSD considera ter sido "dizimado" pelas obras da CRIL. "Toda esta história é muito infeliz para Lisboa", admitiu António Costa, acusando a Estradas de Portugal de tratar o município "com algum desrespeito".»

...


Este "modelo urbano" parte do princípio que aquela zona, ou melhor, é o que resta de uma zona industrial "suja e desordenada" e há que a "higienizar e ordenar". Não haverá outra maneira de o fazer sem ser acabar com os boqueirões e alinhar cérceas pela mais alta, harmonizando com a estética "contemporânea", de uma assentada, ou melhor, fazer um loteamento gigantesco em 4 lotes, num total de 7,45ha? Ainda por cima correndo os 7-8 blocos a construir com caves para estacionamento, sobretudo com os estudos hidrogeológicos débeis que sustentam o plano (aliás, no próprio texto do estudo, se confessa a debilidade dos mesmos).

O único ponto totalmente positivo é a arborização da Av. Dom Luís I, prolongando a mancha verde do Cais do Sodré a Santos. Gosto também do "resgate" do conceito de pátio de Alfama, do espaço público, das ruelas e becos, mas isso já lá está. Porque não "apenas" reabilitá-los?

E a cidade junto à Av. 24 de Julho, tem que ser harmonizada com a estética Expo? Já não bastam os monos inenarráveis da Segurança Social e afins junto à Av. Infante Santo? É preciso "contaminar" até ao Cais do Sodré com mais coisas como o IADE?
Dá graça ver quão diligentemente se defende este PP por contraponto à histeria contra o projecto de Foster. Mas tem também graça ver que quem foi buscar este último e quem demoliu parte significativa dos pavilhões industriais precisamente nesta zona, transformando-os em estacionamentos à superfície e luna parks de ocasião, está agora unha e carne com este PP.

Depois, é também engraçado falar-se do sistema de vistas desde o miradouro de Santa Catarina... pois só realmente com arranha-céus plantados em frente a este se deixaria de ver o rio desde o miradouro. Mas era engraçado que também se fizesse uma projecção virtual da vista de cá de baixo, desde a 24 de Julho, para cima, para a colina de Santa Catarina. Com a densidade e a volumetria deste PP talvez só mesmo do comboio, quiçá do meio do rio, é que se poderá avistar a colina. Ou não será assim?

Finalmente, não se chega a perceber o que querem fazer com uma série de prédios que consideram em "mau estado" ou em "ruína" e de que discordo completamente: Rua São Paulo 91, 103 e 113, Pç. D. Luís, 6, 13 e 22; R.Boavista, 51 e 83, Rua da Moeda, 5R. D.Luís 16 (imagens a seguir). Vão demoli-los??!!






4 comentários:

Anónimo disse...

Quanto maior for a densidade maior será as necessidades de estacionamento. A lógica que se tem vindo a desenvolver, é a de sustentar e manter os lisboetas a viver na periferia e portanto a lógica de trazer o carro para Lisboa.
Existem outras possibilidades, este plano fica ferido de morte a partir do momento que não é pensado a solução para a avenida, electrico e comboio. A solução urbana deveria passar por aí, num esquema de quarteirão e não polvilhar de edificios isolados, o resultado do cais do sodré é o melhor exemplo.

O medo dos movimentos civicos, como este leva a que os pisos não são representados na fachado, não existe termo comparativo, e um "espelhar" do verde engana a todos.

Má solução, e vamos continuando a destruir o potencial da cidade.

Jorge Lima disse...

Vão deitar abaixo o que resta da antiga Fábrica do Gás? Meu Deus, aquilo era tão bonito que sempre que lá passava pensava que tinha sido algum convento em tempos... só encontro esta gravura assim de repente... http://teresamarques2009.files.wordpress.com/2009/02/fabrica-do-gas.jpg?w=300&h=210

Anónimo disse...

Estão a ver mal a coisa.

Aquelas caves todas, incluindo a de seis pisos, está-se mesmo a ver que são para arrumação de bicicletas e portanto o projecto é... porreiro, pá.

PS- Entendem agora porque é o tal de Carrilho aparece em tudo o que é apoio a Costa & Salgado & Zé?

A.lourenço disse...

os edificios apresentados na primeira foto são simplesmente horríveis para o local.Qualquer dia temos uma expo ,de Loures a Algés. Ainda há dias a palavra de ordem não era recuperar?