29/11/2010

Animação de Natal leva mais gente ao Rossio mas também provoca desagrado


In Público (29/11/2010)
Por Ana Henriques

«Para uns, lembra a Feira Popular e é indigna de uma das principais praças da cidade; para outros, é uma boa maneira de combater a desertificação da Baixa. A festa dura até 9 de Janeiro

Pastéis de nata e outros mimos para clientes

A pista de gelo para patinagem, o carrossel infantil e as barraquinhas que aterraram no Rossio a título de animação natalícia estão a atrair mais gente à Baixa lisboeta, mas também a suscitar críticas entre defensores do património. Motivo: os equipamentos de diversão ali instalados serão pouco consentâneos com a dignidade da praça.

O próprio presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, entidade que se associou à iniciativa, confessa que preferia vê-la na vizinha Praça da Figueira, "um local mais apropriado a eventos lúdicos deste género". Mas "os seus promotores entenderam que o Rossio lhes dava mais visibilidade", prossegue Manuel Lopes. Da responsabilidade da Câmara de Lisboa e da Santa Casa da Misericórdia, que espalhou publicidade aos seus jogos sociais quer pelo ringue de patinagem quer pelos contentores e pela barraquinha que dão apoio à pista de gelo, a animação vai manter-se até 9 de Janeiro.

O blogue Lisboa SOS, um dos mais activos em relação à vida da cidade, mostrou-se ontem muito crítico da iniciativa: "Todos os anos, a Santa Casa e a Câmara de Lisboa atravancam o Rossio com adereços pindéricos. (...) A Feira Popular regressou a Lisboa. Ele há bolas gigantes de plástico, Pais Natal escanzelados, um pavilhão monstro para meter e tirar patins. Ele há de tudo no Rossio! Começou mal o Natal". A "quantidade infinda de grades de metal" espalhada pelo espaço também é motivo de reparo.

O historiador de arquitectura Sérgio Rosa de Carvalho mostra-se igualmente indignado: "Trata-se de uma cacofonia híbrida, de uma insensibilidade total para com a envolvente arquitectónica. A animação não está à altura do poder simbólico da praça". O especialista critica ainda a estrutura metálica quadrangular em forma de árvore estilizada que suporta as luzes de Natal em redor da estátua de D. Pedro IV: "É brutalista, não tem em conta a linguagem arquitectónica do monumento nem as suas proporções". O historiador entende que falta dignidade aos arranjos natalícios - uma opinião com que Manuel Lopes não concorda: "Têm a dignidade mínima exigível. E é gratificante ver a praça cheia de gente".

O vereador do PSD Vítor Gonçalves foi ontem à noite ao Rossio e também não gostou do que viu: "Uma das principais praças de Lisboa foi transformada numa mini-Feira Popular, o que é de muito mau gosto. Se fosse no Campo das Cebolas ou no Martim Moniz, era diferente. Aqui, não se justifica isto".


Os tempos de crise

Mas os comerciantes mostram-se satisfeitos. "É preciso trazer as pessoas para a Baixa, e ao fim-de-semana não costuma haver aqui movimento", observa um empregado do Café Nicola. "Falta de dignidade? Não se pode confundir dignidade com elitismo". O gerente da Confeitaria Nacional acha a iniciativa positiva. "Claro que podiam ter feito uma coisa melhor. Mas se não tivessem feito nada não havia aqui ninguém", resume uma funcionária administrativa que aqui veio passear. Duas estudantes polacas apontam a árvore estilizada de luzes azuis: "Não é lá muito bonita. Mas de outra forma seria mais cara, e Portugal vive uma crise económica"

A Câmara de Lisboa preferiu não comentar as críticas. A porta-voz da autarquia forneceu, no entanto, dados sobre a iniciativa: "Os custos dos equipamentos de diversão que estão no Rossio para dinamização do comércio da Baixa na quadra natalícia foram pagos, através de patrocínio, pela Misericórdia de Lisboa. Os custos relativos aos artistas e à animação de rua que todos os fins-de-semana até 9 de Janeiro estão nas ruas do Ouro, Prata e Augusta são de 25 mil euros e são suportados pela câmara". Mesmo com o patrocínio, 15 minutos de patinagem custam dois euros, o mesmo que uma volta no carrossel, que é uma réplica de um equipamento antigo.»

...

Trata-se, realmente, de uma palhaçada completa, digno dos filmes caricaturais de Tati. O pior é que, se bem me lembro, a publicidade em praças como o Rossio, foram objecto de despacho do Presidente da CML, nem há um ano, em que se dizia que teriam que ser autorizadas expressamente, caso a caso, pelo PMCL.

Não sei se se esqueceram, ou não, da quadra natalícia, mas conviria que não, pois estes abusos não são de hoje mas cada vez são mais inaceitáveis.

E o IGESPAR/DRC-LVT nada diz?

Quanto aos já célebres "Manos Castro", não fora aquela "teia gigantesca" em volta da estátua de D. Pedro IV (ou será Maximiliano do México?), agressiva e dispensável, e este ano as decorações seriam mais "soft" este ano. Mas assim, bem podem todos "limpar as mãos às paredes"...

4 comentários:

J A disse...

Pensava que já tinha visto o pior o ano passado....mas estava enganado.
Por favor não deixem turistas entrar nesta zona até 9 de Janeiro!

A.lourenço disse...

Em Paris existem carroceis antigos em zonas nobres da cidade, existem pistas de gelo ao ar livre, que são agradáveis, que se inserem. Aqui temos sempre que abarracar tudo, sem gosto, miseravelmente.
O passo entre fazer bem ou fazer uma borrada por vezes é mínimo mas nós conseguimos fazer sempre a borrada.Dá algum dinheiro aos comerciantes? Seja, mas não podia dar e ser uma coisa bem feita?TMN, Jogos Santa casa, CML uma tripla de fugir.Que medo.
A cml faz sair leis contra a publicidade em locais históricos mas é sempre ela a violar essas leis, é contra os grafittis mas promove-os(são raras as vezes em que também aí não faz borrada), etc.
Infelizmente esta CML é assim,um poço de incoerência e de mau gosto.

Anónimo disse...

Natal CHUNGA...parôlos tomaram conta de Lisboa.
Em vez de transmitir ordem, sobriedade, tranquilidade, cultura e beleza, a CML transmite e ressuscita o que à de mais rasca.
Um Natal urbano só para quem tem dinehiro! Já estou a imaginar os pais coitados com orçamentos limitados a terem que dizer NÃO aos seus filhos.
Rasca! Chiça que é demais!

Anónimo disse...

Estão mas é com muita sorte por não ter isso sido feito no Terreiro do Paço.

Ou já não se lembram do que lá acontecia aos Domingos (e do que já lá tem sido feito mesmo depois da dita requalificação)?

Desta gestão autárquica tudo se deve esperar...