14/03/2012

"Numa época de crise, não revigorar a democracia é abrir brechas perigosas"


No prefácio ao livro está presente a sua crítica à mediatização da política e à falta de credibilidade dos políticos. Há mais de uma década deu a cara por uma proposta de sistema eleitoral que pretendia aproximar os eleitores dos eleitos. Como é que hoje se resolve o problema da credibilidade dos políticos?
in Público
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Mas ... Dr. António Costa ao desenvolver este perfil e anunciar prematuramente a sua "possivel" Candidatura a "voos mais altos"... sem ter cumprido a sua missão em Lisboa ... não está precisamente a contribuir para aquilo que crítica ...?

“E o livro é também, no dizer do seu autor, uma “expressão de revolta”, aquela que “diariamente” sente “pela vulgarização mediática de uma visão da política como uma actividade cínica, animada de mesquinhas ambições pessoais, feita de calculismos e silêncios expectantes, indiferente às pessoas, incapaz e incompetente para cuidar dos problemas, jogo de ‘poderosos’ e palco de corruptos"

Relembro aqui ... um dos muitos exemplos da atitude autista da C.M.L.... e aqui ilustrada não apenas perante a Comunicação Social ... mas através da reacção de um Cidadão que se dirige  à mesma ...
António Sérgio Rosa de Carvalho.

19/10/2011
"A câmara não comenta" e "a câmara não é obrigada a responder".

"Ouve-se dizer contínuamente no meio jornalistico que a actuação da C.M.L. no que respeita a Assessoria de Imprensa tem sido um desastre … silêncio ensurdecedor sobre todas as questões …. “trapalhadas”quando se dignam a responder … a última coisa que qualquer Instituição precisa é de uma imagem de Autismo Arrogante … ou de uma má relação com a Comunicação Social"
António Sérgio Rosa de Carvalho (27 DE SET DE 2011 in CidadaniaLX)

"A autarquia, a quem as primeiras perguntas escritas foram dirigidas em 12 de Agosto, limitou-se a informar, através da assessora de imprensa Luísa Botinas: "A câmara não comenta" e "a câmara não é obrigada a responder". ( 'Como é que alguns fazem em Lisboa o que mais ninguém pode'
In 'Público' de 16.10.2011 - Por José António Cerejo )



Carta de um leitor.
.
Caro Sr. Director do Público,
escrevo a propósito da reportagem assinada por José António Cerejo publicada no jornal de hoje que levanta algumas suspeitas sobre o modo de funcionamento dos serviços da CML. O artigo refere factos claramente definidos, identifica claramente as pessoas tidas como responsáveis e no entanto a CML, instada a comentar ou a apresentar outra versão dos factos, considera apenas liminarmente que não é obrigada a responder. É sobretudo esta resposta que me leva a escrever esta carta.
Posso admitir que nada na lei obrigue a CML a responder, a esclarecer, a defender-se das enormes suspeitas levantadas sobre a transparência do funcionamento dos seus serviços. Pode ser que para a CML lhe baste uma legalidade que se contenta com “confirmações a título particular junto de técnicos da Câmara”, com “opiniões informais fávoráveis dos serviços municipais”. Mesmo sem os conhecer, pois que a CML se recusa a dá-los a conhecer, posso até admitir que a CML se tenha salvaguardado com outros expedientes mais substancialmente legais para se defender num caso em que o interesse público é posto em causa de forma tão flagrante. Não é isso que aqui ponho em causa, mas sim que a CML, o seu Presidente, nomeadamente, se contente com essa escusa.
Não é sobre essa observância formal da lei que os eleitores, os munícipes, pedem contas. O que queremos é que a Câmara e o Presidente que elegemos quando postos em causa de forma tão clara nos respondam de forma igualmente clara.
Que o Presidente não pode estar a par de tudo, dir-se-á. Pois não. É por isso que tem assessores, técnicos que o informam, que dão pareceres. Mas então, perguntar-se-á, de que servem os pareceres da arquitecta da Câmara e da equipa da Direcção de Planeamento Estratégico que propõe o indeferimento do pedido de licenciamento do loteamento? E o parecer do arquitecto Manuel de Freitas, igualmente referido no artigo?
Não é tanto este caso concreto (mas também!) que está em causa. É o sentido de responsabilidade da Câmara, e do seu Presidente. Ficarei surpreendido se Jorge Sampaio, se João Soares e se o actual Presidente da Câmara se remeterem ao silêncio num caso em que tão declaradamente é posta em causa a transparência (fiquemo-nos por esta palavra, ainda assim bastante imprecisa) da sua actuação num caso em que interesses privados põem em causa de forma tão flagrante o bem comum.
Gostava também que o Director do Público e o seu jornalista não se contentassem com as evasivas da CML e insistissem no seu, no nosso, direito ao esclarecimento cabal deste e doutros casos semelhantes.
Os meus cumprimentos
José Lima
(eleitor nº 5519 da Freguesia de São Vicente de Fora)

( Publicada por Lisboa SOS em Segunda-feira, Outubro 17, 2011 )
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No prefácio ao livro está presente a sua crítica à mediatização da política e à falta de credibilidade dos políticos. Há mais de uma década deu a cara por uma proposta de sistema eleitoral que pretendia aproximar os eleitores dos eleitos. Como é que hoje se resolve o problema da credibilidade dos políticos?

Há muitos anos que penso, e a minha experiência autárquica só o tem confirmado, que uma das condições essenciais da credibilização da política e do reforço da confiança entre os eleitos e os eleitores é uma relação cada vez mais directa entre os eleitos e os eleitores. É essa proximidade que permite às pessoas ganhar confiança, porque têm um instrumento de responsabilização mais directo e individualizado. Isso é fundamental para revitalizar a democracia. O grau de descrença normalmente verbalizado pelas pessoas em relação ao sistema e aos políticos tem de ser combatido.
E a comunicação social?
O problema da comunicação social não tem solução, porque há uma incompatibilidade estrutural que é a seguinte: o discurso divulgado pela comunicação social tem de ser necessariamente simplificado para poder caber nas x linhas e nos x caracteres da página do jornal. As realidades políticas são cada vez mais complexas e, portanto, cada vez mais exigem a complexificação da análise, da solução e da sua explanação.
E como se restabelece a comunicação entre partidos e eleitores?
É cada vez mais cruzar os políticos e os cidadãos directamente. Multiplicar os pontos de contacto e os momentos de esclarecer e responder, de explicar, de propor e de ouvir o que as pessoas têm a dizer.
Em relação à proximidade, não considera estranho que não haja contacto entre os grupos e os movimentos sociais saídos da manifestação de há um no do 12 de Março e os partidos, nomeadamente com o PS? São pessoas que têm uma agenda política clara, querem ser representados pelos partidos, mas os estes não os ouvem.
Desde o princípio do século XX que os estudiosos apontavam para o risco de os partidos, enquanto instrumento de mediatização dos cidadãos com o sistema político, serem sucessivamente capturados por estruturas internas e irem deixando de ser espaços de cidadania. Os partidos têm feito um esforço para se tentarem reorientar, criando fundações, think tanks, introduzindo eleições primárias, introduzindo eleições directas. Têm consciência de que há um problema de representação.
Segundo o Observatório da Democracia, só 10% dos portugueses se sentem representados pelos partidos políticos.
Tenho também tido a experiência de que há também uma desconformidade entre o que é a declaração geral das pessoas em relação à política e aquilo que é o relacionamento efectivo e concreto de cada um com a política. Mas que é preciso fazer um esforço grande, é.
Portanto, os políticos têm de voltar a sair das sedes do poder, descer à cidade, ao espaço de cidadania?
Tem de se fazer um esforço de aproximação. É evidente que as novas tecnologias também criam novas possibilidades de comunicação, que têm que ser usadas. Mas temos de ter consciência de que se não fizermos um esforço de aproximação, nós não conseguiremos revigorar a democracia. E, numa época de crise, não revigorar a democracia é abrir brechas que podem ser perigosas.

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