17/12/2014

Fontes Pereira de Melo em discussão: a repetição do erro demolidor

Está aberta à participação pública, até sexta-feira, 19 Dezembro 2014, a discussão do projecto imobiliário previsto para a Av. Fontes Pereira de Melo, 41 (Processo 431/EDI/2014 - Projeto FPM4) no site da Câmara Municipal de Lisboa: http://www.cm-lisboa.pt/viver/urbanismo/licenciamento.

Publicamos aqui a opinião de Miguel Lopes Oliveira, contributo já enviado para a CML.

Exmo Sr. Presidente
da Câmara Municipal de Lisboa,

Relativamente ao projeto 431/EDI/2014, gostaria, ainda que louvando o plano relativamente ao designado “Praça” e “Bosque”, de manifestar o meu total desagrado relativamente às demolições propostas:

1) Porque implica:
- Redução dos elementos históricos da Avenida Fontes Pereira de Melo, que os próprios autores do projeto nos alertam que “a habitação romântica (…) tornou-se praticamente inexistente” (Cf. Torre da Cidade, Memória Descritiva, pg. 6).
Na verdade, já só sobram outros 2 palacetes nesta avenida: Sotto Mayor e a Sede do Metropolitano-Palacete José Moreira Marques.

- A repetição do erro demolidor na zona das Avenidas Novas, alvo de várias críticas. Recorde-se o exemplo do abate do vizinho Hotel Aviz, que foi considerado o hotel mais sumptuoso do mundo pela revista Life, algo que o atual Sheraton não consegue.

- A repetição do erro descontextualista
Como por exemplo entre o palacete da sede do Metropolitano de Lisboa e os respetivos edifícios contíguos da Avenida Fontes Pereira de Melo.

2) Os edifícios existentes têm elementos arquitetónicos de interesse, ao contrário do que é referido na Memória Descrita:

- A fachada do palacete de gaveto e os restantes edifícios têm uma linguagem arquitetónica contextualizada com a Casa Museu Anastácio-Gonçalves e Maternidade Alfredo da Costa, que são elementos a preservar por força das zonas de proteção de imóveis e hospitais, respetivamente.

- O palacete de gaveto tem dois pátios, um interior e outro exterior, que se relacionam mediante um arco de características singulares, único na zona das Avenidas Novas.

- Atente-se para a forma como a Memória Descrita se refere ao espaço: “conjunto idílico e ajardinado com casas apalaçadas”(Cf. Torre da Cidade, Memória Descritiva, pg 4). É importante a preservação das fachadas para se mantenha vivo o conceito acima mencionado, reinterpretando-o com os elementos propostos designados por “Praça” e “Bosque”.

3) A Torre proposta:
- Cria uma fortíssima disparidade volumétrica e de linguagem arquitetónica com os dois outros edifícios contíguos dentro do mesmo quarteirão---Casa Museu e o edifício Maracanã.

- Prevê que a empena do edifício Maracanã fique como parede cega, forçando à descontextualização deste edifício, separado da Torre por um espaço de pouca utilidade.

- Reduz a incidência de luz sobre a Avenida Fontes Pereira de Melo, cuja largura não é suficiente para comportar esta concentração de grandes volumetrias. Atente-se numa imagem presente no documento em análise (fig.2).

- Na sequência do ponto anterior, a proposta estará claramente a afetar o conceito de Lisboa como cidade da Luz e do Mar.

Alguns dos pormenores arquitetónicos com proposta para desaparecer da Avenida Fontes Pereira de Melo. 
A primeira foto mostra o palacete em causa e o seu antigo vizinho palacete Silva Graça, depois hotel Aviz. Serve para alertar para que não se repitam os mesmos erros.

4) Ainda a notar mais 2 aspetos:

- Lisboa aposta nas indústrias do lazer, nomeadamente turismo e cinema. Aliás, o conceito acima referido da cidade da Luz e do Mar provem da Associação de Turismo de Lisboa. As fachadas hoje existentes, quando recuperadas, no conjunto com os restantes elementos (Casa Museu e Maternidade Alfredo da Costa), serão muito mais valorizadas por estas áreas económicas, do que a torre proposta.
Recorde-se que existe uma linha de autocarros turísticos (hop on- hop off) que atravessa a Avenida Fontes Pereira de Melo. A zona das Avenidas Novas deve aumentar o interesse turístico da cidade e não o oposto.

- Estão disponíveis outros terrenos próximos deste local (Ex: O terreno devoluto da Rua Casal Santa Luzia), onde é possível a construção em altura para aumento da área de serviços terciários e consolidação do “skyline” de Picoas, sem colidir com a preservação de conjuntos históricos (“idílico”, segundo a memória descritiva) e restantes problemas relacionados com a excessiva concentração de grandes volumetrias, nomeadamente as sombras.


CONCLUSÃO
Assim, defendo outra solução arquitetónica, que mantendo as fachadas existentes e o propósito de uso para espaço terciário de comércio e serviços, permita:
- Preservar a história da cidade e da sua arquitetura muito interessante.
- Criar contextualismo e transições suaves de volumetria com os outros elementos arquitetónicos do mesmo quarteirão, em vez de acentuar as diferenças.
- Promover a humanização do espaço, da projeção da luz e do interesse económico turístico e fotográfico da cidade.



A cércea proposta irá induzir uma concentração excessiva de elementos sombrios sobre a avenida. 
   
Existem terrenos livres para a construção em altura, evitando demolição de arquitetura histórica de interesse e problemas com a concentração excessiva de grandes volumetrias.



Sem outro assunto de momento,
agradeço a toda a sua atenção à minha exposição

Miguel Lopes Oliveira

Mais info: notícia do Público:
Torre de escritórios com 17 andares projectada para a Av. Fontes Pereira de Melo


13 comentários:

Paulo disse...

Vão acabar por chumbar a torre, mandam abaixo o palacete velho na mesma, e fazem um atarracado de 8 pisos, com marquises ao vosso gosto.

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Concordo com o anterior comentário. para a CML, promotores e afins, as ruínas que estão neste gaveto da FPM nunca irão ser salvas. faça-se a torre e encerre-se o assunto que se arrasta há décadas.

Anónimo disse...

Concordo com o comentário do Sr. Miguel.

E na minha modesta opinião este edifico é muito mais aprazível que a torre de vidro anterior que foi proposta.

Anónimo disse...

Ainda não percebi uma coisa: o baixo assinado contra o projecto deve-se ao facto de ser uma "torre", ou apenas por irem destruir o palacete? Em 2004, em Alcântara, propuseram a construção de 3 torres bem maiores e gerou-se polémica. Então o investidor concordou em fazer só 8 ou 9 andares. Mas passados dez anos não avançou nada porque a CML também não autorizou, e o terreno continua um baldio. Qual o interesse em ter baldios e ruínas pela cidade?

Anónimo disse...

Os comentarios anteriores são absurdos. O que está em causa é a Cidade, e conversa de plataforma de electrico.
O edificio existente de gaveto tem uma composição interessante, e tem viabilidade.
A torre esta sobredimensionada para o local, já bastante degradado e congestionado. Quanto às torres em alcantara o arquitecto Vieira não demolia edificios relevantes numa arteria importante e estes de alguma forma integravam os pilares da ponte que fazem a escala.

Paulo disse...

As críticas ao projecto do Siza em alcântara foram iguais ou piores do que esta. Até deu em várias reportagens na TV. Na expo aconteceu algo semelhante; por pressão dos moradores chumbaram 2 torres na zona sul que faziam parte do Plano de Pormenor. E o espantoso é que nem tapavam vistas devido à sua posição. Ou seja o problema é ser "torre". Se for baixo, mesmo que seja medíocre ou tape vistas, não dizem nada. Aquele novo hotel "evolution" no Saldanha é bem foleiro, mas não vi nenhuma petição contra, sem esquecer que também demoliram um prédio antigo. Poderia aqui ficar o dia inteiro a dar exemplos.

Miguel Lopes Oliveira disse...

Eu gostaria de esclarecer que eu não sou contra a construção em altura, mas apenas deste projeto em particular, pela demolição que representa.

Eu próprio sugeri alternativas para construção em altura, mas sem dúvida que há muitos "caixotes de marquises" que eu gostaria de ver demolidos.
Eu já expressei anteriormente noutros blogues de internet de que acho que Lx tem direito a construção em altura, mas em locais como Sete Rios e Benfica.

Paulo disse...

Um artigo interessante relacionado com o tema:

http://ocorvo.pt/2013/03/20/arranha-ceus-continuam-um-tabu/

Anónimo disse...

Nas "etiquetas" da mensagem está escrito "mamarracho". Porque razão qualquer prédio novo é considerado mamarracho? Fui ao site da CML ver imagens e plantas do dito projecto. Revela alguma simplicidade e coerência formal que o anterior projecto compave não tinha. O palacete já estava condenado ha muito, independentemente da torre. No site do arquitecto Valsassina está lá um estudo com um prédio baixo e feio para o mesmo local. Seria melhor do que este? Duvido muito.

Anónimo disse...

O blogue cidadanialx também poderia sugerir algumas intervenções em prédios que não sejam propriamente históricos. Por exemplo, agora que supostamente vão fazer essa praça e o novo prédio, não seria nada mau pensado sugerir aos proprietários do imaviz uma intervenção na fachada, para substituir aqueles estores feios, e quem sabe a própria caixilharia, dando uma imagem mais coerente à fachada. A própria CML deveria apoiar essas iniciativas, com benefícios no IMI.

Anónimo disse...

Percebo o querer de preservar o palacete (que neste momento nada mais é que uma carcaça sem miolo! Onde está o património interior? não interessa? Noutros edifício como se tem feito, perservar a fachada e fazer de novo os interiores já não vos causa comichão? A mim causa porque isso é construir uma mentira e que essa sim destroi significativamente o nosso património! Sou adepto de perservar o antigo, mas apenas o que tem valor! Neste momento este palacete já nada lhe resta. Anos atrás, antes do interior cair/ter sido demolido faria sentido perservar, hoje em dia NAO)

É interessante também assistir que um dos vossos pontos contra este projecto é "Criar contextualismo e transições suaves de volumetria com os outros elementos arquitetónicos do mesmo quarteirão, em vez de acentuar as diferenças."

Disto se pode concluir que, pelo vosso gosto, se dará mais importância ao edificio decadente dos anos 70, sem qualquer valor arquitectónico, que ao edifício sheraton (que é um dos maiores exemplos de arquitectura moderna em Portugal) e que esse sim é importante perservar. Com este vosso ponto se percebe a falta de informação e cultura arquitectónica que este site transmite. Será que então se quer um edifício de 6 andares só para fazer juz ao edificio que terá colado a ele ignorando o Sheraton? Não me parece um argumento sequer válido. Muito menos me parece que um edifício de 6 andares ao lado de um de 26 seja uma transição suave.
O novo projecto, esse sim, faz uma transição suave de cotas e revela preocupações formais que só beneficiam a cidade!

FAÇAM o projecto (que não é nenhum mamarracho) !

Como os vossos argumentos contra este edifício é por ser apenas uma "torre" não merecem sequer atenção da Camara Municipal. Demoliram dois edificios (com interior que deveria ter sido recuperado) no saldanha para construir um hotel (esse sim, MAU projecto), mas como não era "torre" nem contestação houve!

E contra factos. não há argumentos!

a FAVOR da "TORRE"

Paulo disse...

A torre foi aprovada na semana passada pela CML, e ainda bem. Resolve-se de uma vez um problema com várias décadas e sem fim à vista.

João Ribeiro disse...

Meu Deus que falta de sensibilidade e bom senso de certas pessoas... Acabemos com todas as ruínas que existem e assim acabam-se com 1 milhão de edifícios históricos possíveis de rentabilizar em Portugal? Vamos acabar com a nossa herança porque está degradada, mesmo que seja recuperável?

Vamos por pontos:

- Sou contra demolir edifícios antigos porque são parte do nosso património, História e identidade arquitectónica. São estes edifícios que embelezam as cidades e atraem os turistas.

- Neste perspectiva recuperem-se os recuperáveis e se por razões de segurança se demolir, que se construa o novo edifico com pelo menos fachada semelhante.

- Sim sou a favor de se manter pelo menos a fachada, mas se der para recuperar o interior que se recupere também. Temos de ter em conta a viabilidade económica neste aspecto mas pelo menos a fachada deveria ser obrigatório, sem excepções. Não é uma mentira como o sr em cima diz, é a cara do edifico que fica preservada.

- Ao construir um novo edifício temos de ter em conta a localização e envolvência para que a sua arquitectura não choque com os demais. Ou seja numa zona de prédios característicos não se irá construir um caixote de betão e vidro aos ziguezagues. Existem zonas modernas apropriadas para isso.

Resumindo, é tudo uma questão de bom senso e bom gosto e arrisco-me a acrescentar, de Patriotismo

Cumprimentos,

João Ribeiro