Nem mesmo o facto de manter a esplanada quase sempre cheia, sobretudo em dias de sol, e de continuar a ser, 56 anos depois de ter aberto na Avenida de Roma, uma extensão da Escola Secundária Rainha D. Leonor, impediram que a pastelaria Sul América fechasse.
Domingo, 21 de Fevereiro, foi o último dia de actividade deste velho café pelo qual passaram várias gerações de estudantes e de moradores do bairro. E, na passada segunda-feira, a pastelaria já não serviu bolos. Nos vidros da porta, revestidos a papel branco, lia-se apenas: “Estabelecimento encerrado”. Foi mais um velho café de Alvalade a fechar as portas – que não se sabe ainda quando reabrirão ou com que funções.
Alfredo Lopes, detentor do quiosque de jornais situado mesmo em frente da pastelaria, partilha a tristeza de ver a Sul America de portas fechadas. Mais do que tristeza, até, a preocupação de perder a clientela que a antiga pastelaria lhe trazia. “Muitos eram também meus clientes”, salienta. “Estou aqui na Avenida de Roma há 44 anos e a Sul América já existia quando vim para cá. Agora, resta-me esperar que abra outra pastelaria que venha substitui-la…porque isto só dá para ser um estabelecimento deste tipo. Mas sabe-se lá quando é que isso irá acontecer”, questiona-se. “Ao que me disseram, os donos tiveram um contratempo com o senhorio, que lhes aplicou um aumento de renda muito grande e eles viram-se obrigados a fechar”, diz ao Corvo Alfredo Lopes. Esta explicação para o encerramento não está, porém, confirmada pelos proprietários da Sul-América, que O Corvo tentou ontem contactar mas sem êxito.
No interior da pastelaria, na passada terça-feira estavam ainda dois empregados, envolvidos em limpezas do estabelecimento, mas ambos remeteram qualquer esclarecimento para os proprietários. No bairro de Alvalade – onde, a cada dia, surgem novos estabelecimentos mais modernos, embora alguns deles com vida demasiado breve -, fechara igualmente, há cerca de um ano, a pastelaria Nova Lisboa, que já tinha 65 anos de existência. Mas, meses depois, em Julho de 2015, a Nova Lisboa reabriu com uma nova gerência e num formato diferente, em que os bolos deixaram de ser a grande atracção. Manteve, porém, o balcão da cervejaria e o restaurante que lhe estava associado, que foram ambos alvo de obras, e, pouco tempo depois, muitos dos velhos clientes, quase todos com a mesma idade da antiga pastelaria, regressaram.
No caso da Sul-América, porém, não se sabe que tipo de estabelecimento poderá surgir. “A pastelaria fechou de vez”, assegura o dono do quiosque, que, privado da clientela habitual, também já não sabe por quanto tempo se irá ali aguentar
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