09/05/2008

Câmara de Lisboa critica tráfego automóvel na nova ponte e exige ferrovia subterrânea

In Público (9/5/2008)
Catarina Prelhaz

«"De boas intenções está o Inferno cheio e mais cheios do que o Inferno estão os moradores pela quantidade de promessas que não são cumpridas." Os cerca de 170 inquilinos assentem com a tirada do "senhorio". Vivem em casas plantadas à beira do "lixo", "podres" e sem portas, torneiras ou sequer trincos que funcionem. "Dizem-nos que mais vale viver assim do que na rua." Têm casas de banho "de metro quadrado", armários corroídos, elevadores destruídos, depósitos de água de 80 mil litros que estrebucham há décadas sem manutenção. As "poucas e localizadas" obras que o senhorio mandou fazer sem fiscalizar deixaram também cicatrizes: há "montes de entulho", cabos eléctricos "ao pendurão", paredes pejadas de escaras e ruas sem iluminação.
Mais: uma nova ponte sobre o Tejo, munida de automóveis e locomotivas, vai aterrar sobre as suas casas, alfinetando pilares pelas duas freguesias. Motivos suficientes, dizem os moradores de nove bairros tutelados pela Câmara de Lisboa, para se queixarem ao "senhorio", o presidente da autarquia, António Costa (PS), em mais uma reunião descentralizada do executivo, na noite de quarta-feira dedicada aos fregueses de Marvila e do Beato.
A autarquia, admitiu o vereador Manuel Salgado, acha "discutível" que a ponte Chelas-Barreiro tenha uma componente rodoviária e tem "dúvidas" quanto aos benefícios para a cidade do aumento do tráfego automóvel, mas reconhece a "mais-valia" daquela ligação para uma zona que quer ver revitalizada. Por esse motivo, está a pressionar o Governo para que a ponte seja mais baixa junto à margem Norte, de modo a permitir enterrar a ferrovia, minimizando o impacto sobre as populações.
António Costa faz as contas do projecto apresentado pelo Governo: por exigência do Porto de Lisboa, a ponte tem de chegar à margem "muito alta", a 47 metros, de forma a não impedir a navegação até ao terminal de granéis da Matinha, e a partir daí o seu declive precisa de ser "extremamente brando" por causa da ferrovia, com "faixas de rodagem e pilares que irão estender-se por mais de um quilómetro". Ora, diz o presidente da autarquia, para evitar o impacto "brutal" da nova travessia, a ideia é que o terminal da Matinha mude de sítio (o diálogo com o Governo ainda não cozinhou uma "solução final") e a ponte "toque o solo mais cedo, nos terrenos da Manutenção Militar, para que possa entrar em subterrâneo para ligar à linha ferroviária de Cintura".
"Promessas possíveis"
Bairros das Amendoeiras, Armador, Condado, Lóios, Prodac, Quinta do Ourives, Quinta do Chalé e Salgadas: um a um, os moradores alertaram os vereadores para a epidemia de "barracas interiores" que fustiga Marvila e Beato, mas saíram apenas com as "promessas possíveis" do executivo.
Os quatro primeiros bairros serão recuperados em 2009, caso não falhem as negociações para a obtenção de um empréstimo junto do Banco Europeu de Investimento. O projecto de recuperação dos prédios, equipamentos colectivos e espaço público que a câmara está a ultimar (o protocolo previamente assinado naufragou por ser "demasiado vago", explicou António Costa) será submetido a discussão pública em Setembro.
O processo de loteamento do bairro da Prodac Norte já foi enviado para discussão pública a 30 de Abril: falta-lhe apenas a aprovação camarária. Quanto à zona Sul, o plano, embora "mais atrasado", está a ser analisado pela autarquia, que espera também os projectos de alteração de 300 fogos de Xabregas, vendidos há dez anos sem estarem concluídos e licenciados, para que possa regularizá-los. Já nas Salgadas, o construtor tem até segunda-feira para iniciar as obras de reabilitação em falta. Padecendo do mesmo problema, a Quinta do Chalé saiu só com a promessa de que irão ser encontradas "respostas com rapidez". Sem solução ficou a Quinta do Ourives, que apenas sofrerá "alterações" pontuais até ao fim do ano por falta de verbas.
Depois de uma mão-cheia de promessas, ficou uma mão-cheia de críticas. "Chelas? Sim, daqui a uns anos certamente nos orgulharemos do nome. Porque aí quando nos perguntarem onde vivemos responderemos Xelas, Bru-xelas", atirou no final uma das moradoras.»

Boas notícias. Aparentemente. Como diria o outro ... a luta continua.

1 comentário:

daniel costa-lourenço disse...

O terceiro mundo ainda encravado em lisboa...e meio milhão de casas vazias em Portugal...