13/08/2008

"Instalação de agências europeias nove meses atrasada"


"Instalação de agências europeias nove meses atrasada- PUBLICO -13.08.2008, Ana Henriques

Administração portuária não dá explicações, câmara diz que edifícios do Cais do Sodré deverão poder ser ocupados em breve
Está nove meses atrasada a instalação da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência no Cais do Sodré, apesar de os novos edifícios que vão receber as duas instituições aparentarem estar prontos há vários meses.
A Administração do Porto de Lisboa, que é a dona da obra, escusa-se a explicar por que razão não foi ainda possível as agências mudarem para a sua sede definitiva. Refere apenas que "está a ultimar tudo para que possam finalmente instalar-se" no Cais do Sodré - algo que estava previsto para Novembro passado, na recta final da presidência portuguesa da União Europeia.
As duas instituições não escondem o desagrado que a demora lhes provoca. O porta-voz da Agência Europeia de Segurança Marítima, Andy Stimpson, fala da dificuldade de programar as actividades da agência a longo prazo com a mudança sempre iminente. "Não sabemos quando vai ser preciso estarem em Lisboa para a mudança os funcionários da agência que fazem inspecções Europa fora", explica, acrescentando que não faz bem nenhum à imagem da instituição a situação indefinida em que se encontra. Acresce que, ao contrário do que tinha sido anunciado, a agência está a pagar grande parte dos custos das suas instalações provisórias, o edifício de nove andares Mar Vermelho, no Parque das Nações. Andy Stimpson escusa-se a falar em montantes, mas diz que se trata de uma soma significativa.
Certificação a decorrer
Questionado também sobre que prejuízos acarreta o atraso na transferência, o Observatório da Droga e Toxicodependência diz que o principal problema se relaciona com o facto de continuar "a funcionar em dois edifícios distintos, um em Santa Apolónia e outro na Avenida de Almirante Reis, com todas as dificuldades inerentes de funcionamento e transporte - mais do que prejuízos financeiros, embora também existam". As novas instalações "parecem adequadas aos padrões de exigência comunitários, embora esse processo de certificação, que é feito com a ajuda especializada do serviço da Comissão Europeia responsável pela gestão de infra-estruturas, esteja ainda a decorrer", informa ainda o observatório.
O que correu então mal? Em primeiro lugar, o facto de a administração portuária não ter tratado do licenciamento dos edifícios desenhados pelo arquitecto Manuel Tainha a tempo e horas, alegando que já tinha as autorizações necessárias por parte da câmara. Uma situação que vem do anterior mandato autárquico e que o actual vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, classifica como caricata. Segundo o director municipal do Urbanismo, Gabriel Cordeiro, nesta fase do processo compete à administração portuária apresentar documentação como o livro de obra e a vistoria dos bombeiros, para que a câmara possa emitir a licença de utilização que permitirá ocupar os edifícios. O que pode acontecer até ao final do mês.

O arquitecto Manuel Salgado, eleito nas listas do PS nas autárquicas intercalares, tentou travar o projecto
Da autoria do arquitecto Manuel Tainha, o projecto para albergar no Cais do Sodré as agências europeias foi desde sempre mal-amado. Há um ano, durante a campanha eleitoral, o agora vereador do Urbanismo Manuel Salgado contava que ainda tentou impedir que as construções fossem por diante quando estava no grupo que elaborou o plano de reabilitação da Baixa, mas sem sucesso. Na mesma ocasião representantes da comunidade portuária garantiram que o projecto foi imposto à Administração do Porto de Lisboa pelo Governo. O Fórum Cidadania Lisboa fala no "atropelo ao usufruto pelo público da zona ribeirinha da antiga ribeira das Naus, acessível há seis décadas, desde a abertura da Av. Ribeira das Naus". O vereador eleito pelo Bloco de Esquerda José Sá Fernandes foi outro dos críticos do projecto. Tal como a Liga dos Amigos do Jardim Botânico, que se queixa de as novas construções ignorarem "preocupações ambientais como a preservação da biodiversidade, a poupança de água e os desafios colocados pelas mudanças climáticas", além de terem obrigado ao abate de "dezenas de árvores e arbustos".
Em Abril passado, a Câmara de Lisboa voltou atrás na decisão de deixar construir um terceiro edifício novo além dos dois que já ali foram erguidos para as instituições europeias.
A proximidade dos edifícios do rio obrigou a criar durante a obra um sistema de drenagem e de rebaixamento do nível freático constituído por poços interiores e exteriores com bombas submersíveis. A proximidade do túnel do metropolitano foi outro problema que a empreitada do Cais do Sodré, a cargo do consórcio constituído pela Somague e pela Teixeira Duarte, teve de enfrentar. !

10 comentários:

daniel costa-lourenço disse...

E na verdade, os espaços exteriores não estão arranjandos.

O espaço compreendido entre os edifícios e a praça do comércio continuam com estulho, tapumes e com bandos de sem-abrigo acampados naquela zona...

Filipe Melo Sousa disse...

Em suma, existem centenas de pessoas à espera para ocupar o edifício. Mas não o podem fazer enquanto um manguinhas de alpaca qualquer não se digne a assinar um papel.

Ainda dizem que a função pública cria valor. Os burocratas superequipados com computadores high-tec patrocinados pelo choque tecnológico continuam a bater à máquina com dois dedos.

Anónimo disse...

Bem...ouvi dizer que a obra não está paga. Este seria o motivo pelo qual Teixeira Duarte e Somague não entregarem a obra.
Seria interessante averiguar a situação.
Espero que sirva de exemplo para o futuro.

Lesma Morta disse...

Paga ou não é incrivel permitir-se mais uma vez roubar o rio à cidade. Numa zona interessante como aquela, de contornos históricos inestimáveis, não se admite.

M Isabel G disse...

De facto. Com tantos locais onde poderiam ser construídos, estes enormes edíficios tinham que ser instalados naquele local magnífico.
Já agora, que ando muito baralhada, trata-se de outra magnífica obra de arquitectura moderna???
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Acabo de chegar de uma cidade do interior onde cresci, alvo do Polis e já não a reconheço. Os locais de convivialidade urbana, o principal centro de socialização, que pertencia ás familias, ás crianças, com bancos e sombras, o quiosque com traça local, tudo isso desapareceu. Nem árvores palito nem bancos com encosto: agora são uns cubos de betão onde se assa no Verão e onde os mais idosos não podem estar.

R. Grazina disse...

Ao menos que nos devolvam aquele pequeno terraço no Cais do Sodré onde podíamos estar junto ao Tejo...

Filipe Melo Sousa disse...

Que se segue? Apelos à ocupação popular?

Arq. Luís Marques da silva disse...

Olá Isabel
Para mim um bom exemplo de arquitectura contemporânea ou não, é aquele que se integra e que faz integrar.
Esta tendência pseudo-intelectual, de fazer arquitectura para irritar as pessoas, não é de facto o meu estilo.
Depois vêm sempre com aquela de que a boa arquitectura é a que choca, mas que depois, é assimilada pelas pessoas á custa da força do hábito:
Eu, chamo-lhe arquitectura "água tónica" ou da treta; é como quiserem...

Anónimo disse...

Surpreendente esta do Manuel Salgado ter tentado impedir a construção, não ouvimos nada. Proavelmente nos corredores do poder, ou num jantar pois não acreditamos que o comentador domingueiro venha dizer e falar nos mamarrachos do Cais do Sodré.
Aconselhava o Sr. Arquitecto a olhar bem para o seu projecto junto a Torre de Belem. Já reparou que o fez ao contrario? Então o Sr Arquitecto faz o edificio em "L" e fechado a poente com vista para a Torre de Belem? Ou para a marina?
Não lembra o diabo!
Não é arquitecto quem quer, mas quem sabe. Agora de vereador não direi o mesmo!

Anónimo disse...

Los nuevos edificios aportan algo de orden a una zona caótica. Si bien es cierto que no permite el acceso a los ciudadanos, es obvio que las nuevas estructuras son visualmente más atractivas que el aparcamiento que allí había antes. El abandono actual de la zona debería avergonzar a las autoridades. Lisboa vive de espaldas al río, y viendo lo que aquí demoran las cosas, lo seguirá haciendo durante muchos años más. Una pena.