10/09/2008

Vergonha!


O Hotel dos Trindade ganhou! O pior dos projectos da Rosa Araújo passou com os votos a favor do Sr. Feist e do Sr.Presidente, desempatando. Ele é todo um esplendor de argumentos e narrativas. Ah, ganda Lisboa!

34 comentários:

Anónimo disse...

não entendo a «VERGONHA», pois considero-o um projecto bastante arrojado mas bonito, pois mantem-se as fachadas dos predios. perderia-se muito mais se estes fossem demolidos ou continuassem ao abandono...

Anónimo disse...

nÃO SEI QUE CIDADE FICARÁ PARA AS GERAÇÕS FUTURAS. NÃO COMPREENDO.

Anónimo disse...

Gosto bastante!!

Anónimo disse...

muito bom =D

Anónimo disse...

o futurismo começa a chegar finalmente a Lisboa

Anónimo disse...

Acho tão bom, tão bom, que até estou sem palavras.

Anónimo disse...

Não percebi como votaram os vereadores dos Cidadãos por Lisboa

Anónimo disse...

GOSTO

Anónimo disse...

Talvez pudesse ser um nadinha mais alto. Ficava mair giro

Filipe Melo Sousa disse...

É bom apesar das críticas de pessoas invejosas ver novos projectos em Lisboa. Espero que o hotel tenha sucesso. De resto, os cães ladram e a caravana passa.

Anónimo disse...

Boa tarde,
Desculpem mas, de facto, face às causas que muitas vezes defendem, tenho que equacionar os vossos objectivos. Por acaso, os senhores pretendem o não desenvolvimento urbano de Lisboa? Qual é o problema concreto da substituição de um prédio podre e nojento, provavelmente de recuperação económica inviável, por um hotel em que as fachadas originais são mantidas?


Coloco a mesma questão para o projecto do Largo do Rato, cuja aprovação foi adiada. Qual é o problema do nascimento de um projecto de linhas limpas para substituir o casebre abjecto e decadente que se encontra naquela esquina concreta? Deveremos nós, habitantes de Lisboa, preferir ser confrontados, todos os dias, com a cidade em estado de decadência e morte em vez de fomentarmos ambientes mais vivos, limpos e saudáveis?


Consideraria a vossa intervenção preciosa se pressionassem a CML a ter maior agilidade nas aprovações, a ser obrigada a manter em bom estado o seu vasto e precioso património, em ajudar os proprietários empobrecidos por 40 anos de rendas congeladas a conseguirem manter a dignidade dos edifícios, a cada dia que passa, mais podres e perigosos; Isto para não falar das obras clandestinas em edifícios pombalinos realizadas por aventureiros que poêm em risco o equilibrio dos prédios e ameaçam vidas humanas.


Digam-me, por favor, qual é o vosso objectivo em travar a pouca dinâmica que existe, numa câmara podre e cancerosa, cuja inércia arrasta a cidade inteira para o esgoto. Não há investidor que não tenha vontade de cortar os pulsos quando confrontado com a CML, o IPPAR, o IGESPAR e sabe-se lá quantas mais células irão aparecer num futuro próximo; o Estado, por si próprio, não tem recursos para fazer a recuperação nem do seu próprio património portanto, deveremos concluír e aceitar que a solução correcta, a verdade absoluta e depurada estará na circunstância de devermos ir habitar nas ruínas Romanas.


Parvoices como "o novo museu dos coches" necessitam ser contestadas neste país paupérrimo e vaidoso. Novos edifícios em substituição de pocilgas, venham eles ... com bons arquitectos; Lisboa precisa e agradece.


Sugiro que visitem Paris, Amesterdão, Berlim, Londres... cidades em que foram encontrados equilíbrios entre a arquitectura contemporânea e os edifícios antigos.


Deixo-vos com a descrição de um livro de um autor Inglês:


"...vejo em Lisboa uma enorme boca aberta cheia de dentes podres..."; eu, subcrevo e acrescento, até no bafo!

Anónimo disse...

Concordo com a ultima opinião...excelente mesmo! Lisboa está degradada e renovações e projectos não são uma coisa negativa!! deixem-se de ser Velhos do Restelo

Paulo Ferrero disse...

Att. da penúltima comentadora

O anonimato é muito bonito mas no seu caso, uma vez que nos dirigiu um email assinado por sim com o mesmo texto que agora coloca como comentário, peço-lhe que, das duas uma, ou o assina ou o retira, caso contrário terei que a identificar.

Cumps.

Anónimo disse...

Eu não sei que parte das cidades mencionadas no comentário acima o seu autor visitou; não foi concerteza as partes que eu conheço nem as partes em que amigos e alunos - tenho uma escola de línguas para estrangeiros - vivem. Nessas partes das cidades existe uma harmonia total no edificado porque, simplesmente, se recuperou. Recuperar, em países que têm arquitectura com dignidade suficiente para ser protegida, não é deitar o interior abaixo e colar um penso de cimento e vidro com ecrescências a sair pelo telhado. Isso não é recuperar! Conheço casos destes em que edifícios foram destruídos por guerras - veja-se Munique - mas mesmo em países que viram as suas cidades destruídas por guerras fez-se um esforço para recuperar a estética das suas ruas reconstruindo os edifícios em respeito com os projectos originais quando existiam referências, ou dentro do mesmo estilo quando não havia referências documentais.
Os arquitectos portugueses ainda não perceberam que as cidades não são mostruários e montras onde eles colocam os produtos do seu ego; cidades são para os cidadãos e têm uma história que nos precede em muitas décadas e que tanto apreciamos. Existem áreas de expansão urbana onde este tipo de edifícios são bem vindos e avenidas românticas não são certamente proprias para experiências e aventuras arquitectónicas - foram-no quando nasceram, quando foram criadas inicialmente. Nós, que as recebemos de herança, temos a obrigação de as preservar. É assim que pensam os mais esclarecidos governantes e arquitectos e técnicos da Europa, Europa essa que também pensa em rentabilizar o seu edificado e fá-lo sem destruir a sua herança arquitectónica.

frederico nascimento disse...

Acontece com os redatores deste site bem como com uma grande proporção do colectivo nacional uma clara incapacidade de distinguir o possível do ideal - quem quer investir ali quer fazer aquilo e o projecto é bom, não há quantidade suficiente de pessoaos de calasse alta dispostas a ocupar os milhares de andares enromes que se encontram no centro de Lisboa que seria obviamente o ideal. Entretanto, porque se obtróio com agressividade tudo o que é possível e o ideal reside no céu com os anjos a cidade apodrece. Começo a achar sinceramente, independentemente das boas intenções que não tenho dúvida vos guiam, a vossa influência nefasta.

Anónimo disse...

Penso que todos conhecem o hotel Pestana na Ribeira do Porto; este também inclui uma série de edifícios sem que, contudo, tenham sido necessários acrescentos. Ainda que os interires não tenham sido completamente preservados penso que neste caso da Rua Rosa Araújo dever-se-ia fazer um esforço para manter os interiores que combinariam lindamente com um hotel.
Por outro lado, partindo do princípio que é essencial - ponho as minhas dúvidas - acrescentar andares de forma a rentabilizar, não conseguem os arquitectos subir o edifício de forma a parecer-se que foi projectado assim originariamente? Será que a solução caixa de metal é a única inspiração que lhes ocorre. E que tal documentarem-se, pesquisarem, conferenciarem com historiadores da arte e da arquitectura e apresentaram um projecto realmente inovador e não as costumeiras caixas de vidro, metal e betão que encontramos por todo o mundo sem exepção?

Anónimo disse...

Que realidade ou dimensão existe nas cidades portuguesas que são tão diferentes da realidade de outras cidades europeias em que as cidades estão recuperadas e as cidades são habitadas por todo o tipo de classes, da média à alta. Qual a razão porque só aqui é necessário destruir para rentabilizar; esta discussão já houve lá fora e a conclusão vê-se nas cidades europeias.
Somos um país europeu e não um país sul-americano, como o Brasil, onde o mesmo tipo de preocupação em rentabilizar destruiu cidades lindíssimas e que hoje seriam pontos turísticos de maior importância. O Rio de Janeiro foi uma Paris até vir a modernidade e arrasar o que de romântico tinha a cidade; aquelas torres de betão estão longe de ser dignas da Cidade Maravilhosa. Nos Estados Unidos as classes mais altas vivem nos subúrbios. E todos estes fenómenos estão a acontecer em Lisboa, uma cidade da Europa. Por Favor! não estamos a falar de rentabilizar, estamos a falar de ganância pura e simples, da velha maneira portuguesa de ganhar o máximo com o mínimo sem perceberem estes senhores que atrai mais turismo, por exemplo, quando se preserva do que quando se destroí e constrói por cima. Já tive alunos das mais diversas profissões, de trabalhadores do Banco Mundial a artistas e todos são unânimes: Lisboa está a ser destruída pela ganância e inoperância das instituições que a deviam proteger e jamais o projecto que se vê na fotografia poderá ser um bom exemplo de recuperação e arquitectura.

Anónimo disse...

Gosto imenso do projecto para o hotel! Ainda bem que foi aceite! Venham mais rojectos destes pois Lisboa não pdoe ficar degradada...Parabens à Camara

frederico nascimento disse...

A maior parte das outras cidades europeias nunca foram desabitadas porque nunca tiveram uma lei que durante mais de 50 anos paralizou a actualização das rendas. Na maior parte das cidades europeias a população de todas as classes não foi por isso viver para a periferia. POr isso, na maior parte das cidades europeias os prédios não chegaram ao estado de decrepitude que atingiram em Lisboa, muitos deles (entre os quais o convento dos inglesinhos de cuja recuperação se disse aqui inexplicavelmente cobras e lagartos)em risco iminente de derrocada (se tivesse caído vinham os mesmo que criticaram a reahbailitação criticar os poderes públicos por nada terem feito - devem achar que essa magnífica abstracção o poder público pode e deve acudir e tudo - e o que é que se fazia lá, mais um centro cultural com marionettes visitado por 3 pessoas ao dia. Não para ser coerente com o ultraconservadorismo que aqui grassa deveríamos importar frades ingleses para o voltarem a habitar!). É claro que é preciso rehabilitar, mas há pouco dinheiro e não é má ideia neste contexto criar dinâmicas de vivência em zonas centrais através de projectos como estes, já com investidores interessados.Lembro ainda vivendo em Madrid que o Centro desta cidade tem uma densidade enorme de hóteis sem que nehum Ayatola iluminado tenha vindo protestar contra esse facto, como aqui tambem já li com incredulidade. Outra tendência que aqui se parece desenhar e que me parece muito perniciosa é a de pôr em causa a qualidade de bons arquitectos portugueses e aí, lamento mas a "ditadura dos amadores" teria que apresentar mais argumentos que o abuso mais ou menos gratuito e o seu gosto estético arvorado em padrão universal. realtaivamente a este projecto, acho-o muito bom. Achoque aliás acrescenta ao conjunto de três edifícos que estão longe de ser os mais ricos e significativos da Rua Rosa Araújo.

Paulo Ferrero disse...

E quais são para si, Sr. Frederico Nascimento, os edifícios mais 'ricos e significativos da Rua Rosa Araújo'? Porventura os de esquina, entregues á ReyalUrbis, prontinhos para demolir se esta CML aprovar. É isso?

Anónimo disse...

Caro Frederico,

a arquitectura quando não agrada aos amadores então está desprovida de sentido e não cumpriu a sua função fundamental. As cidades são habitadas por amadores - no verdadeiro sentido da palavra, já que estes sãos os que amam as cidades e nelas vivem, ao contrário daqueles que se assomam a elas quando toca a fazer dinheiro para depois fugirem ligeiros para as suas mansões nas periferias. Não está por acaso a sugerir que cidades são construídas por peritos máximos da arquitectura para outros peritos? Quando um edifício não convence o comum cidadão, e quando não o faz gritantemente, então falhou, ele e o seu mentor.
Por favor não refira Madrid para que não nos envergonhemos com a comparação. Lá os edifícios antigos, a harmonia das ruas, a preservação do património e dos monumentos dever-lhe-ia ter mudado a sua opinião.
Dinheiro não falta em Portugal e temos bastantes provas disso; faltam ideias e vontade. Falta respeito pela cidade.
Espero sinceramente que esta aberração seja parada e uma verdadeira recuperação destes edifícios seja levada a cabo.

Julio Amorim disse...

"Por isso, na maior parte das cidades europeias os prédios não chegaram ao estado de decrepitude que atingiram em Lisboa"

Pena Sr. Nascimento que não tenha visitado as zonas centrais de Göteborg ou Stockholm nas décadas de 60/70. Com casas a cair aos bocados, rendas simbólicas, etc.
Hoje....pagam-se nessas mesmas zonas recuperadas, 30 000 kr/m2 e, para cima. E já agora, edifício antigo com caixote em cima, não existe por estas bandas. E também, raríssimos são os edifícios onde só se manteve a fachada. Para reabilitar, não é necessário destruir, nem deturpar. E de exemplos desses, está a Europa cheia......

Anónimo disse...

O argumento do dinheiro é fantástico. Basicamente significa que se tenta tirar o máximo do lucro possível com o que existe, mesmo que implique destruir um edifício único, a harmonia de uma rua, a beleza de uma cidade, encavalitar o maior número de pessoas possível, fazer caixinhas para caber mais moradores. Será que as pessoas não compreendem que o que se está a deitar abaixo fica irremediavelmente perdido já que não se voltará a construir assim?
Porque razão o argumento tem sido neste espaço: ou se altera/destrói ou então deixa-se degradar? E que tal a câmara obrigar coercivamente, eficazmente, a boa recuperação, a pintura dos edifícios de x em x anos, a manutenção das janelas em bom estado, dos reclamos em condicões, dos toldos limpos. Os prédios têm de ter um condomínio e é este que deve responder pela falha da manutenção de um edifício e é a esta entidade que a câmara deve pedir contas. Porque a câmara não o faz implacavelmente os condomínios tornam-se negligentes. É assim em toda a Europa civilizada.

frederico nascimento disse...

Esse si senhor Paulo ferrero é um edifíco rico e significativo que convém defender. Caso o projecto da Reyal Urbis implique de facto a demolição do edifíco terá todo o meu apoio na defesa do mesmo. Viu como sabe do que estou a falar.

frederico nascimento disse...

Não de facto não visitei Gotemburgo e Estocolmo nos anos 60, 70 (ainda estava no berço). Mas sendo diplomata posso lhe garantir que não só visitei como vivi em Nova Iorque, Paris, Estrasburgo, Madrid e Nova Deli e, desculpar-me-á mas a menos que tenha uma história de vida parecida, não me parece que possa ter uma perspectiva tão distanciada da realidade nacional como a minha (ver que somos nos próprios quem nos bloqueamos e damos tiros nos pés com uma enorme falta de razoabilidade). Voltando ao caso em questão e à nossa famosa falta de razoabilidade: entre uma rua Rosa Araújo decrépita ou recuperada embora com mais dois andares acrescentados por arquitectos competentes, não tenho qualquer dúvida na escolha. Sabe estou um pouco farto da procrastinação e do atirar de oportunidades à rua só pelo facto de não serem perfeitas. Nada é perfeito infelizmente. Também seria mais honesto terem postado uma fotografia a cores do projecto, tendo em conta que o sistema de luz é um elemento importante do volume acrescentado.

frederico nascimento disse...

Há gostos amadores para todos os feitios e obvamente não ponho em causa o vosso amor pela cidade. Em Portugal normalmente os gostos estão subordinados ao receio a assumir qualquer coisa que seja nova ou de uma escala superior a 3 pisos. Quanto a Madrid está de facto óptima mas não me parece que seja uma cidade que encaixe na vosa cosmovisão vide os aranha céus da Praça de Espanha em Madrid, a 100 m do equivalente ao nosso Terreiro do Paço (que eu pessoalmente detesto). Quanto ao Rio de Janeiro perfeitamente de acordo - há aliás um livro do Niemeyersobre o que se fez ao Rio extremamente ilustrativo - mas não me parece que acrescentar dois pisos a um edficício de três, tenha sequer remotamente que ver com a situação do Rio.

Anónimo disse...

e porque não referir berlim no final dos anos 60/inícios dos anos 70 - havia zonas centrais da cidade com ruas inteiras abandonadas (e também Hamburgo na mesma época, na zona junto ao porto e a St. Pauli).

Ou, para citar um exemplo que conheço melhor por lá ter vivido: os bairros centrais de Frankfurt no final dos 70, com tantos prédios devolutos. A grande maioria foi recuperada, e este tipo de casas é dos mais procurados.

etc. e tal

Vasco Nobre disse...

Não só não se manteve a fachada como ela foi alterada, sendo por isso desrespeitada.
Contemporanidade e modernidade nem sempre é sinal de evolução.
Era de esperar, com a quantidade de Leis que temos e Pdm´s de 2ª geração que estas coisas não acontecessem, mas pelos vistos continuamos na mesma, ou seja, é caso a caso, depende de quem olha para a coisa.

Vasco Nobre disse...

A razão que me leva a pensar desta forma, isto para quem pensa que quem critica são pessoas invejosas ou velhos do restelo é a seguinte:
Quando existe um conjunto com coerencia e identidade propria, ainda por cima acarinhado pelos seus habitantes ao longos dos SÉCULOS, não posso estar de acordo que essas mesmas identidades sejam o recreio individual de alguns.
Tão simples como isto.
Porque não se consegue fazer o Hotel na mesma mantendo o que existe ou se houver acrescentos, que sejam da mesma traça? é assim tão dificil?
Vamos só por momentos imaginar todos os predios de Lisboa com acrescentos de vidro por cima. Aposto que até aqui as opiniões se dividiriam.

Anónimo disse...

A situação de acrescentar dois pisos mais a um edifício tem tudo a ver com a situação do Rio como de São Paulo se estiver em causa projectos como o que se vê no plano que, por mais luz que lhe brilhe o sol o fará um bom exemplo de recuperação urbana. No Rio de Janeiro demoliu-se em total desrespeito pelo património porque o que lá estava era velho, ultrapassado, e havia uma necessidade premente de respirar modernidade - alguma coincidência com o que já se leu aqui? Agora os brasileiros vêm à Europa para ver aquilo que já tiveram e pensam que aqui é onde reside o primeiro mundo. Não quero ter de ir para fora para ver aquilo que também temos, ou tivemos. Recuso-me a aceitá-lo. Não concordo, de todo, que não haja um projecto perfeito para esses edifícios e para essa rua. Consulte-se a documentação e referências históricas e terão algumas luzes para o que deveria ser essa rua. É "só" restaurar os edifícios de acordo com a traça original.

Arq. Luís Marques da silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arq. Luís Marques da silva disse...

MAU DE MAIS
Manuel Correia Fernandes, Arquitecto

De acordo com os dicionários, a palavra "fachada" significa "aspecto de pessoa ou coisa que não corresponde à realidade, à verdade, que é falso ou postiço". A expressão "é só fachada!", que usamos com frequência, exprime essa mesma ideia, que também se aplica à arquitectura e com o mesmo significado. Do ponto de vista dos princípios, um edifício é um todo e não pode ser amputado de nenhuma das suas partes sob pena de perder a sua coerência. No essencial, um edifício é originariamente concebido para cumprir uma dada "função" e, por isso, tem uma determinada "forma". Significa isto que um edifício pensado para um determinado fim jamais pode ser útil noutra qualquer função? Claro que não. Todos sabemos que a história dos edifícios, sobretudo daqueles que melhor resistem ao uso e ao tempo, é feita de muitas mudanças. Por vezes, muda a função, mas mantém-se a forma, outras vezes muda apenas a forma e outras, ainda, muda tudo. Alias, nesta matéria, não há lugar a qualquer fundamentalismo. A questão não é a de aceitar ou não a mudança mas, antes, a de saber que mudança se pode ou deve fazer em cada momento. Uma coisa é certa em Arquitectura, não há receitas. Receitas, só na farmácia e, mesmo aí, sabemos que a prática acompanha a evolução do conhecimento.No entanto, um edifício não é apenas "forma e função". Um edifício é muitas outras coisas e tem muitas outras partes e elementos que são conjugados de muitas e diferentes maneiras para produzir os diferentes complexos construídos que são as edificações. Uma edificação também tem, por exemplo, dentro e fora, cimo e baixo, frente e traseira (tardoz), infra-estrutura e superstrutura e assim por diante. A arte de construir é a arte de conjugar todos estes factores, o que torna a Arquitectura numa arte de grande complexidade que é necessário compreender para com ela se poder lidar tal como acontece com qualquer outra actividade de qualquer outra área do conhecimento.Evidentemente que, parafraseando um dito popular conhecido, se pode dizer que "de arquitecto e de louco todos temos um pouco" e, por isso, muitos se atrevem a ter opinião sobre matérias que não conhecem. Claro que todos podemos ter opinião sobre a Arquitectura que é uma coisa sem a qual nenhum de nós pode viver. Contudo, uma coisa é ter opinião sobre o que usamos ou utilizamos no nosso dia-a-dia e outra, bem diferente, é ser capaz de fazer ou produzir isso que usamos. Gostamos do nosso carro, do nosso relógio ou da nossa mesa, mas isso não quer dizer que sejamos capazes de fazer qualquer desses objectos, de os reparar ou de os transformar sem lhes retirar as qualidades que reconhecemos e gostamos de ver neles."Recuperar" ou "reabilitar" é, no entanto e sempre, um acto de "transformar". É por isso que intervir num edifício para, pretensamente, o "recuperar" ou "reabilitar" (para a mesma ou para qualquer outra função) requer a consciência e a responsabilidade que só o conhecimento proporciona. Ora, não se pode "transformar" quando não se conhece nem se compreende o que se pretende transformar. Por outro lado, tomar a parte pelo todo é sinal de ignorância e só por milagre não resulta num acto de pura "destruição". No entanto, está a tornar-se "política" corrente e - pior ainda - aceitável, utilizar o expediente tosco de "conservar a fachada" que é apenas parte dum todo para fazer o que, vulgarmente, se designa por "recuperação" (de edifícios). Nestes casos, podemos dizer que estamos perante uma opção que, por ser falsa e postiça, "é só fachada" e, portanto, literal e culturalmente, errada e mentirosa. Mau de mais para ser aceitável.

in Jornal de Notícias de 16-5-2008

Anónimo disse...

Caro Frederico Nascimento
Todas as classes têm o direito de de viver na cidade, e se quer que lhe diga abomino essa dita "classe alta", bacouca e ignorante que conspirou contra a monarquia e a républica, matou o Rei e atirpu-nos para os braços da ditadura.
Essa dita classe alta autofágica serve-se do estado, e não vê meios para atingir os fins.
A cidade é feita com todos, e atenção a preocupação social não é apanágio da esquerda, mas sim uma um dever ou preocupação humanista e cristã, o dramático é alguns pseudo intelectuais, que se refugiam em condominios privados convencidos de que são iluminados julgam no dever de obrigar todo um povo a pensar como eles, digno de regimes totalitários.
Os comportamentos elitistas de desrespeito para com a cidade e seus habitantes pagam se caro no futuro, basta assistirmos à alienação das populações dos bairros sociais, ou ainda de outras zonas tipo expo.
O projecto em questão é um erro grave, e contribui à desertificação do centro da cidade.

frederico nascimento disse...

Uma coisa lhe garanto na Rua Rosa Araújo, vivia a alta burguesia. Essa mesmo a bacoca que você odeia. Mais o mercado, que o Sr. provavelmente també odeia, faz com que áreas daquela centralidade sejam ocupadas por classes mais abastadas, independenemente de se poder impor uma cota de custos controlados. Era bom que esse estrato voltasse aquela zona da cidade, em vez de se refugiar em condomínios artificais. Mas enfim estamos a entrar em terrenos ideológicos em que não tenho o menor interesse em entrar.

Quanto ao Rio ser igual a Lisboa. tenham paciência e passem por lá. A Av. Rio Branco, tem metade da largura da Av. da Liberdade e tem prédios de 50 andares! Na praça XV a fazer a simetria do Paço Real está um edifíco horroroso de 40 andares construído nos anos 70. Há favelas nas traseiras de Ipanema,Copacabana tem das maiores densidades urbanas do mundo.

Eu sei que para os senhores tudo o que cá se faz é mau mas tenham santa paciência é que um dia fazem-lhes mesmo a vontade...