11/11/2009

7 ANOS ENCERRADO AO PÚBLICO É MUITO TEMPO. É tempo de dar atenção ao Arquivo Histórico da CML!

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Exma. Senhora Vereadora da Cultura,


No passado mês de Outubro fez sete anos que o pólo do Arquivo Histórico do Arquivo Municipal de Lisboa encerrou ao público. Os munícipes de Lisboa, os cidadãos do país e os investigadores estrangeiros estão privados de consultar o Arquivo Histórico da cidade desde 28 de Outubro de 2002.

Quanto aos restantes dois pólos do Arquivo Municipal, a situação é igualmente grave. O Arquivo Intermédio está instalado temporariamente nas caves de um imóvel de habitação social no Bairro da Liberdade. Uma localização na periferia da cidade, junto a uma mancha florestal, num espaço pensado para garagem, e com uma Sala de Leitura onde chove. Não é cenário digno de nenhuma cidade. O Arquivo do Arco Cego foi instalado num dos edifícios do Bairro do Arco Cego, de reduzidas dimensões, obsoleto e que não foi pensado, nem adaptado, para receber um equipamento desta natureza.

Resumindo, o diagnóstico da situação é alarmante e vergonhoso. Com os actuais edifícios não estão asseguradas as melhores condições de conservação dos espólios, nem de atendimento aos cidadãos.

A câmara da capital do país não pode continuar com os seus arquivos fracturados pela cidade, indevidamente instalados e parcialmente encerrados.

Lisboa não pode adiar mais o investimento na preservação e divulgação da documentação administrativa e histórica da cidade.

Um novo Arquivo Municipal de Lisboa:

- Com dimensão estruturante para a cidade e até para o país;

- Funcional e mais aberto para servir as expectativas da sociedade contemporânea;

- Com qualidade de instalações e serviços para responder aos desafios do futuro;

- Localizado no centro da cidade para funcionar como motor da reabilitação urbana.

Ao novo executivo que agora tomou posse compete encontrar, com urgência, uma solução sustentável e definitiva para os Arquivos Municipais da capital.

Mas Lisboa deve abandonar a ideia de uma nova construção como se tem defendido nas últimas quatro décadas. À luz do desenvolvimento sustentável, a solução mais correcta deverá passar pela "reciclagem" de um edifício já existente e devoluto.

É esta opção que toda a Europa tem estado a fazer. Há cada vez mais exemplos de arquivos e bibliotecas que se instalam em imóveis históricos como antigos mosteiros, palácios, sedes de bancos, fábricas e outras estruturas industriais. Destacamos os seguintes bons exemplos:

-Madrid, Archivo e Biblioteca Municipal – antiga fábrica de cerveja de 1912 (El Aguilla);

-Barcelona, Arxiu Històric de la Ciutat – antigo palácio de origem medieval (Casa de l'Ardiaca);

-Barcelona, Biblioteca da University Pompeu Fabre – antigo reservatório municipal de 1874;

-Valladolid, Archivo Municipal – antigo Mosteiro de Santo Agostinho do séc. XVI;

-Salamanca, Biblioteca Pública – antigo palácio do séc. XVI (Casa de las Conchas);

-Pamplona, Archivo Real y General de Navarra – antigo conjunto de paço e igreja medieval;

-Amsterdam, Stadsarchief (Arquivo de Amesterdão) – antiga sede de banco ultramarino (1919-1926);

Como sabemos, várias unidades hospitalares de Lisboa, instaladas em antigos conventos de grandes dimensões, estão em vias de serem alienados pelo Estado. No centenário da Implantação da República, Lisboa terá a oportunidade de encontrar uma casa para o seu Arquivo Municipal.

Apelamos ao novo executivo que, tal como já se fez com a Cadeia Penitenciária de Lisboa e o Convento da Graça, dialogue com o Governo com vista a conseguir um imóvel adequado à instalação do Arquivo Municipal de Lisboa. De entre os imóveis candidatos, destacamos:

-Hospital de São José (antigo Colégio Jesuíta);

-Hospital Miguel Bombarda (antigo Convento de Rilhafoles);

-Hospital dos Capuchos (antigo Convento dos Capuchos);

-Hospital de Santa Marta (antigo Convento de Santa Marta);

-Hospital do Desterro (antigo Convento do Desterro);

-Hospital do Rêgo / Curry Cabral (antigo Convento das Convertidas de N. Sra. do Rosário).

Lamentavelmente, e por falta de visão estratégica, alguns edifícios do Estado, bons candidatos para receber o Arquivo Municipal, foram recentemente alienados. É o caso do antigo Hospital/Convento de Arroios cuja dimensão e posição na cidade eram muito adequados. Outra hipótese propriedade privada seria a Fábrica Simões, em Benfica.

Cabe agora ao presente executivo municipal a responsabilidade de garantir que Lisboa não perderá outra boa Casa para acolher o seu precioso Arquivo e Biblioteca Central. A História do Mundo não se pode escrever sem Lisboa. Estaremos à altura da História da nossa cidade?


Com os melhores cumprimentos,


Fernando Jorge, Paulo Ferrero e Júlio Amorim


ANEXO: Dois exemplos a estudar por Lisboa


Amesterdão, Stadsarchief - O "Arquivo do Concelho de Amesterdão" foi transferido recentemente para o centro da cidade. O mais importante arquivo da cidade está desde 2007 instalado num edifício emblemático de Amesterdão, construído entre 1919 e 1926 para sede de um grande banco holandês com actividade centrada nas colónias (o equivalente à sede do BNU na Rua Augusta). A adaptação da antiga sede de banco a novo arquivo é exemplar. Exemplar também é o horário de abertura do Arquivo de Amesterdão. Foi pensado de modo a que todos os munícipes tenham a possibilidade de ir ao arquivo da sua cidade: está de portas abertas aos fins-de-semana entre as 11h e as 17h. Este exemplo de Amesterdão é particularmente relevante para Lisboa na medida em que se trata do arquivo de uma cidade da Europa com um passado muito semelhante ao de Lisboa. Para mais informações: www.stadsarchief.amsterdam.nl

Valladolid, Archivo Municipal – O antigo Mosteiro de Santo Agostinho do séc. XVI, à semelhança de muitas casas congéneres em Lisboa, recebeu diversas ocupações desde o séc. XIX incluindo um quartel do exército espanhol. Mas em 1942 uma permuta entre o Ministério do Exército e a Câmara Municipal de Valladolid libertou finalmente o conjunto monástico. Depois de décadas mal instalado, os arquivos e biblioteca central foram destinados ao antigo Mosteiro. O projecto de adaptação do mosteiro às novas funções (1999) foi da responsabilidade dos arquitectos Primitivo Gonzáles e Gabriel Gallegos. O novo arquivo, inaugurado em 2002, constitui um notável exemplo que a Câmara Municipal de Lisboa devia estudar. Para mais informações: www.ava.es/modules.php?name=Archivo

11 comentários:

Unknown disse...

100% de acordo!! e com urgencia!

Anónimo disse...

prefiro o projecto do vale se santo antónio.

Xico205 disse...

O Arquivo impede o projecto do Vale de Santo Antonio? Porquê? Vão deitar abaixo as belissimas torres do Alto da Eira? Naaa

Anónimo disse...

Parabéns pela denúncia da situação de esquecimento a que têm sido votados os arquivos da cidade!

Anónimo disse...

A CML já gastou milhões com o projecto do Vale de Santo António. Trata-se de um projecto excelente. O objectivo seria o de instalar a Biblioteca Municipal Central de Lisboa + depósitos e o Arquivo Municipal de Lisboa (Histórico, Fotográfico e Intermédio). O projecto cumpre todas as normas técnicas internacionais para a actividade arquivistica. Isto para além de, com a agregação dos vários arquivos e biblioteca, seria possível alcançar economias de escala em serviços de apoio como a reprografia, digitalização, referência, entre outros. Os utilizadores/investigadores teriam tudo a ganhar: a reunião num único edificio de várias fontes de informação sobre a nossa História.
O que terá acontecido a este projecto?

HOMOSAPIENS disse...

Podem ver o projecto da Biblioteca e Arquivo Municipal de Lisboa que foi cancelado, depois de terem sido gastos mais de 3 milhões de € na preparação do terreno:

http://lx-projectos.blogspot.com/2007/01/biblioteca-e-arquivo-municipal.html


Um excelente projecto dos Aires Mateus e Alberto Souza Oliveira, que concerteza íria dar uma nova imagem e vida ao Vale de Santo António, infelizmente temos os dirigentes que temos.

Cumpts.

Cláudia Castelo disse...

Com esta carta e com o debate público que está a lançar, o Movimento Fórum Cidadania Lisboa presta um serviço de enorme relevância à cidade, à cultura, à investigação e à democracia. Este assunto não tem merecido a atenção devida da parte de sucessivas vereações camarárias. Por estranho que pareça, os investigadores também não têm, de uma forma organizada, questionado o desinteresse da CML pelo seu património histórico.
Como cidadã, lisboeta, arquivista e historiadora, tenho publicamente (dentro e fora da CML) falado neste assunto. Fico feliz por ver que estamos juntos!

FJorge disse...

Obrigado Cláudia Castelo pelo seu comentário. De facto, não é só a falta de interesse da parte da CML (dos sucessivos executivos como muito bem diz) que está an origem da vergonhosa situação em que se encontram os arquivos da cidade. Mas é também a falta de organização dos cidadãos, em especial os utentes dos arquivos. Mas não estamos sózinhos!

Anónimo disse...

LOBO VILLA

A propósito deste assunto,repito-me:
Lisboa (aliás a CML,com a passividade dos "lisboetas" )não quer "Arquivo" NENHUM !
Edifícios HÁ MUITOS para o instalar !!!
A questão vital é que ninguém quer recordar o passado,pelo que um Arquivo-Histórico é sempre MALDITO.
O passado da Lisboa recente é uma histórias da especulação imobiliária - arquitectos,técnicos camarários,particulares donos dos terrenos,intermediários...TODOS,nãohá inocentes nesta História !
E recordar a história é recordar a especulação,coisa que ninguém quer !
Por isto não há arquivo, nem haverá,enquanto estes senhores especuladores não forem todos enterrados.
Os arquivos actuais não têm condições?
Óptimo !!!
Entretanto vão-se degradando e destruindo as provas, que é o que verdadeiramente se pretende !
Não acreditam? Já vi arquivos a serem destruídos á machadada e até com fogo posto...e já comprei "Planos" de Urbanização de Lisboa, na Feira da Ladra...
Outra coisa(para além desta corrupção activa de destruir o passado): os "planos" , as "plantas", são iconografia, valem dinheiro,vendidos á peça...

Anónimo disse...

confesso que não sabia que a situação era tão grave. mal s efala deste assunto na imprensa ou na tv. Obrigada.

HOMOSAPIENS disse...

Caro(a) anónimo(a), na tv mal se fala porque temos jornalistas que gostam de fazer sensação com assuntos que nem merecem( na maior parte deles é de política), bem gostaria eu de ver nos jornais televisivos uma rúbrica( de simples 5 minutos) que fala-se de cultura ou património, mas isso faria perder audiências, porque pois claro os tugas gostam é de escândalos políticos ou de ver notícias desportivas, oups perdão futebolísticas é mais acertado, e assim la se vai uns 40 minutos de informação só com estes dois casos. UMA VERGONHA.

Para falar dos jornais escritos, é quase a mesma coisa.