09/04/2010

Comércio de rua cresce apesar da crise

O comércio de rua em Lisboa não foi abalado pela crise económica e houve mesmo um maior número de transacções de arrendamento de lojas. A Avenida da Liberdade e as ruas Castilho e Garrett são as preferidas das grandes marcas internacionais de moda e luxo.

A procura de espaços no mercado comercial de rua manteve-se em alta e, apesar de haver registo de alguns encerramentos importantes - caso da Zara, nas Amoreiras, e da Cartier, no Chiado - as transacções subiram, segundo um estudo da consultora imobiliária Aguirre Newman, que analisou o comércio de rua, em termos de oferta, procura e evolução de preços durante todo o ano passado.

Eduardo Fonseca, director do Departamento de Retalho da Aguirre Newman, explica que os arrendamentos com valores mais elevados verificaram-se na ruas Garrett e Castilho, onde se atingiu os 90 euros por metro quadrado, ultrapassando a Avenida da Liberdade, onde os níveis das rendas praticados foram até aos 70 euros e para onde está prevista a abertura de uma loja da Prada.

As zonas mais atractivas e mais procuradas pelos turistas continuam a ser o Rossio, Rua Garrett, do Carmo, Avenida da Liberdade, a Rua Augusta, a Castilho, Praça Duque de Saldanha e Avenida António Augusto de Aguiar. No conjunto, compõem a zona Prime, dominada pela moda e acessórios, serviços e restauração. A zona Prime é tão cobiçada que a taxa de disponibilidade de lojas é de 5%.

Cidade Judiciária animou a zona

Com menos vigor está Campo de Ourique. Segundo Eduardo Fonseca, houve uma ligeira descida das rendas médias (30 euros/m2), ao contrário do que aconteceu no Parque das Nações (50 euros/m2), onde a procura de espaços comerciais disparou, muito por culpa da abertura da Cidade Judiciária.

Instado a comentar o desempenho da zona Prime, Vasco Mello, presidente da União das Associações do Comércio e Serviços, teme que a Avenida da Liberdade seja prejudicada com as mudanças previstas no plano de urbanização para esta artéria e área envolvente, entre as quais a supressão do trânsito nas vias laterais.

Sublinha, por outro lado, que a baixa taxa de lojas vazias na Avenida da Liberdade e na Rua Castilho poderá ser um estímulo para a reabilitação da zona envolvente, onde existem muitos edifícios degradados e devolutos.

in JN

F echou a Cartier, mas abriu a Fornarina, a Sacoor Brothers e a Óptica do Sacramento, a Lanidor. O Chiado, que já conseguiu apagar as mazelas causadas pelo incêndio de há mais de 20 anos, está novamente na moda, a palpitar de gente e, quem tem lojas abertas, não tem problemas em vender.

São mais de três mil as pessoas que sobem e descem por hora a Rua Garrett. Razão mais do que suficiente para ser cobiçada pelas cadeias de moda e grandes marcas internacionais. Acresce ainda o prestígio e o peso histórico e cultural da zona.

A Rua Augusta, na Baixa, tem também um índice de pedonalidade idêntico, mas Eduardo Fonseca, da Aguirre Newman, nota que o público-alvo da Rua Garrett tem mais poder de compra.

"Quando penso em compras, penso logo no Chiado. Há grande variedade de oferta e gosto desta atmosfera, das lojas mais modernas às mais tradicionais, que só fazem sentido aqui", explica Ana Marques, enquanto vai "namorando" as montras.

Há lojas que já fazem parte do Chiado e que são património da cidade, autênticos museus-vivos. É o caso da ourivesaria Aliança, na Rua Garrett, onde entram mais lisboetas e turistas para fotografar do que para comprar. Ou, na Rua do Carmo, o caso da Luvaria Ulisses, a última loja em Portugal que vende apenas luvas, e que é da mesma geração da antiquíssima Joalharia do Carmo. O café A Brasileira, perto do Largo do Chiado, espaço intimamente ligado à figura de Fernando Pessoa, é outro local repleto de simbologia.

É toda esta herança que faz crescer o Chiado. Só nestes primeiros três meses do ano, a Aguirre Newman já arrendou mais de 650 metros quadrados, só para duas lojas, uma ligada à moda e para uma grande marca internacional, que prefere manter, para já, no anonimato. Outros mil metros quadrados estão já em obras.

Vítor Silva, presidente da Associação de Valorização do Chiado e também ele lojista na Garrett (Gardénia), não se mostra surpreendido com o aumento do prestígio do Chiado traduzido em mais euros por metro quadrado. "É uma tendência que tem vindo a acentuar-se e que é o reflexo da dinâmica criada pelos eventos que a associação tem criado, como é o caso do "Chiado after Work" ou o "Chiado Espectáculo", salienta. "O Chiado é um ícone desde sempre", remata.

In JN

2 comentários:

Anónimo disse...

São, sem dúvida, boas notícias. Lamento é que ainda existam pessoas que acham que os carros devem ir até à porta das lojas sob pena de haver quebras na actividade comercial.
Luís Alexandre

Xico disse...

o facto da zona "prime" ser a mais procurada pelos turistas é irrelevante aqui. não são eles que compram e como já se viu aqui eles visitam Lisboa por causa do preço.

agora o que não é surpreendente, é ver a associação de comerciantes a ser presidida por alguém que acredita que mais carros = mais vendas...