10/07/2011
Aos 80 anos hemeroteca ignora onde irá parar
"Qual cereja no topo do bolo, todo o palácio está coberto por um enorme capacete de chapa para impedir a chuva de entrar. O director da Hemeroteca, Álvaro de Matos, faz as contas: "Foi colocado há 15 anos". Mais difícil é-lhe explicar como foi possível deixar chegar o edifício municipal a semelhante estado. "Não tenho resposta para isso. Não devia ter acontecido." De resto, ninguém parece ter uma explicação para o assunto."
"O seu futuro, esse é incerto. "Em Outubro e Novembro, vamos fazer umas pequenas obras cirúrgicas: requalificar as salas de leitura e os gabinetes de trabalho do sótão". E o telhado? "Não sei se algum dia terá obras", responde o director"
Além da gravíssima questão das condições deploráveis de funcionamento quotidiano desta importante biblioteca , aqui temos mais um exemplo tenebroso de que como a C.M.L. trata este importantissimo exemplo de Património Arquitectónico Nacional ... do qual ela é responsável ...
Exceptuando o magnifico Vestibulo de entrada e a Escadaria que tiveram obras de Conservação e ilustram a importância dos seus estuques e decorações de Interiores, o resto do Palácio encontra-se entregue à sua triste sorte ...
Além dos seus importantes Salões é importante RELEMBRAR os responsáveis da C.M.L. que uma importante e única decoração de revestimento de Pele Dourada na antiga sala de Jantar do Palácio se encontra esquecida e degradada entre estantes inqualificáveis e numa situação vergonhosa para a Cidade e o País ... ( Já ouvi comentários sobre isto de peritos estrangeiros em Pele Dourada ... )
“A decoração interior em estuque dos tectos, a escaiola de manufactura tradicional da escadaria e o revestimento a couro gravado a ouro brasonado da sala de jantar deste palácio, tal como o próprio nome de Palácio dos Condes de Tomar, são posteriores a 1882, e devem-se a estes condes de Tomar que passaram a habitar o palácio.”( in RevelarLX cm-lisboa )
Será que o Sr. Presidente da C.M.L. já visitou este Palácio ?
E o Sr. Vereador do Urbanismo ?
Confirma-se que haveria muito para fazer antes de partir para o Intendente e muito para Restaurar e Conservar ... Enquanto isto o Sr. Vereador do Urbanismo, confirmando o seu percurso sinistro, prepara-se para demolir na íntegra um dos últimos edifícios da Avenida da Liberdade ...
António Sérgio Rosa de Carvalho
Aos 80 anos hemeroteca ignora onde irá parar (por Ana Henriques in Publico )
Maior biblioteca de jornais e revistas do país comemora aniversário em palácio degradado, correndo o risco de abandonar o Bairro Alto daqui por um par de anos
À entrada da Hemeroteca de Lisboa, a maior biblioteca do país de jornais e outras publicações periódicas, a estudante de História Contemporânea hesita antes de dizer o que pensa. Está habituada a frequentar este tipo de espaços, mas é a primeira vez que vem ao palácio do Bairro Alto e ficou sem palavras. "Não me ocorre outra biblioteca com estas condições", acaba por dizer Jani Maurício, de 30 anos.
O que poderia passar por um elogio é, afinal, sinal de estupefacção. Mesmo assim, resolve ser contida nas observações: "A Câmara de Lisboa deve ter sítio melhor para instalar a hemeroteca. Este não é nem funcional nem agradável à vista". A descrição inclui a tinta descascada de tectos e paredes e a óbvia falta de espaço para albergar tanto papel.
"O edifício é maravilhoso, mas devia estar melhor tratado", concorda um arquivista que ali vai com frequência. Longe dos olhos dos utilizadores, nas salas e corredores reservados aos funcionários a decadência soma e segue: há fios eléctricos presos à parede com fita-cola e quilómetros labirínticos de estantes pejadas de volumes, cujo resgate será quase um milagre em caso de incêndio. "A porta do WC das senhoras pura e simplesmente não fecha", diz a estudante.
Qual cereja no topo do bolo, todo o palácio está coberto por um enorme capacete de chapa para impedir a chuva de entrar. O director da Hemeroteca, Álvaro de Matos, faz as contas: "Foi colocado há 15 anos". Mais difícil é-lhe explicar como foi possível deixar chegar o edifício municipal a semelhante estado. "Não tenho resposta para isso. Não devia ter acontecido." De resto, ninguém parece ter uma explicação para o assunto.
Ao certo, sabe-se que em 2005 a hemeroteca teve de encerrar, devido ao risco de derrocada. Na altura, foram feitas algumas obras urgentes, mas adiada para mais tarde uma intervenção de fundo. Quando reabriu, meses mais tarde, foi anunciado que parte dos seus serviços passaria a funcionar noutro palacete mais pequeno do Bairro Alto, nas antigas instalações do jornal Record. A empreitada de adaptação deste imóvel ficou, no entanto, a meio. Parou em 2006 e nunca mais foi retomada, alegadamente por falta de verbas. E a reabilitação do palácio acabou por nunca acontecer. "O edifício precisa de obras sérias, mas isso não sucederá nos próximos dois ou três anos", admite o director municipal de cultura, Francisco Motta Veiga. É ele quem explica que a autarquia desistiu do edifício do Record para reinstalar parte da hemeroteca, estando neste momento a estudar a sua transferência para uma das novas bibliotecas que há-de criar em vários pontos da cidade. A Alta de Lisboa é uma das localizações possíveis. A solução não é pacífica, como reconhece Álvaro de Matos: além de sair de uma zona central, a hemeroteca abandonaria o bairro que serviu de berço a muitos jornais. "A solução ideal seria permanecermos aqui, mas num edifício construído de raiz", advoga. "Mas temos de ser pragmáticos. Isto é um palácio de habitação adaptado à função de biblioteca. Não tem condições para funcionar em pleno - apenas para garantir os serviços mínimos".
Elevadores, por exemplo, não existem. Os grandes e pesados volumes de jornais encadernados são trazidos da cave para os pisos onde são consultados à força de braços, numa altura em que já existem soluções de arrumação robotizadas para levar a cabo a tarefa. "Trata-se de um trabalho muito pesado e violento que os funcionários têm de desempenhar", diz Álvaro de Matos.
Apesar da dureza da tarefa, o atendimento é dos aspectos mais apreciados pelos frequentadores. "É simpático e eficaz", observa um economista de 59 anos. "O ideal era que o horário pudesse prolongar-se até às 22h00 ou 23h00, de modo a que as pessoas pudessem cá vir depois do trabalho". Na realidade, isso já aconteceu: entre 2006 e 2007, as portas estavam abertas duas vezes por semana até mais tarde. Depois deixou de haver dinheiro para horas extraordinárias. "Justificava-se plenamente estarmos abertos até às 22h00", refere o director.
Quem quer consultar antigos exemplares fora de horas pode, no entanto, espreitar o site da hemeroteca (http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt), porque várias colecções estão já aqui disponíveis. É o caso de uma das preciosidades da casa, a Gazeta de Lisboa, que se publicou entre 1715 e 1832. "É a principal fonte primária para quem quer estudar o séc. XVIII", explica Álvaro de Matos. Os originais foram guardados num depósito fora do Bairro Alto, até porque aqui já não cabiam. E é isso que vai acontecer num futuro próximo com as publicações menos consultadas: para libertarem espaço, serão remetidas para esse depósito, sendo consultáveis apenas mediante pedido prévio.
Dá pelo nome de depósito legal a razão da constante falta de espaço da hemeroteca. Todos os meses aqui entram, por lei, seis mil exemplares de publicações de todo o país. "É insustentável continuarmos a receber o depósito legal, até porque somos uma biblioteca municipal", afirma Álvaro de Matos. Mas, para que tal deixe de acontecer, é preciso mudar a lei.
Para o vereador comunista da Câmara de Lisboa Ruben de Carvalho, "é uma barbaridade" a hemeroteca continuar a funcionar "nesta falta de condições". O autarca chama a atenção para o facto de a qualidade do papel de que são feitos os jornais ser pior do que a dos livros - razão pela qual a sua conservação necessita de mais cuidados. Por outro lado, sublinha, "é completamente imoral que esta tarefa seja da responsabilidade camarária", uma vez que o espólio em questão é nacional e não meramente municipal. Uma eventual transferência para a Alta de Lisboa não choca Ruben de Carvalho, que defende a necessidade de uma construção de raiz.
Esta semana a hemeroteca fez 80 anos de existência. Quando abriu, em 1931, não estava aqui, mas no Palácio Galveias, no Campo Pequeno, onde integrava a biblioteca que ainda hoje ali existe. Só em 1973 mudou para o Palácio dos Condes de Tomar, onde ficou até hoje. O seu futuro, esse é incerto. "Em Outubro e Novembro, vamos fazer umas pequenas obras cirúrgicas: requalificar as salas de leitura e os gabinetes de trabalho do sótão". E o telhado? "Não sei se algum dia terá obras", responde o director.
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