In Público (26/8/2007)
José António Cerejo
«Chegou a prever-se para o local um centro de saúde e um centro nacional de reservas
dos museus e monumentos, mas os projectos foram abandonados por falta de verbas
Os intermináveis subterrâneos do Forte da Ameixoeira, em Lisboa, deixaram de abrigar toxicodependentes há pouco mais de um ano e dentro de meses passarão a albergar o quartel-general do principal serviço secreto do país. Com a recente transformação do vizinho quartel do Grafanil em sede de uma força especial da GNR e a próxima instalação do Serviço de Informações de Segurança (SIS), a freguesia retoma as suas tradições na área da defesa e vê-se livre de dois espaços particularmente degradados e inseguros.
O enorme recinto fortificado da Ameixoeira tornou-se no início deste ano um imenso estaleiro. Para lá do fosso e das muralhas, que faziam dos antigos paióis de armas e munições uma fortaleza inexpugnável, vêem-se hoje três gruas e centenas de trabalhadores num frenesim contínuo. Do lado da Alta de Lisboa trabalha-se no acabamento de um edifício semienterrado, com mais de cem metros de frente e cuja cobertura mal ultrapassa as muralhas já recuperadas. No extremo oposto, rente ao troço do Eixo Norte-Sul que deverá ser inaugurado nos próximos meses, um outro imóvel de grandes dimensões, mas igualmente discreto em altura, está também a ser acabado. Numa área de mais de sete hectares, estes são os únicos edifícios que foram construídos acima do nível do solo.
Por baixo, porém, nos vastos subterrâneos onde em tempos funcionou uma fábrica de munições que até tinha carris e vagonetas para transporte dos materiais bélicos, tudo foi transformado num autêntico bunker destinado a receber as actividades mais secretas dos futuros ocupantes. Se ali foram também criados espaços de máxima segurança, ou mesmo sofisticados abrigos de natureza militar para altas individualidades, como há quem diga na zona, não se sabe. Nem se pode saber, porque as instalações são, por definição, secretas.
Painel enganador
E à entrada da obra, mesmo em frente ao antigo mercado das Galinheiras, um painel informativo da Presidência do Conselho de Ministros engana propositadamente os cidadãos mais desatentos. "Reabilitação e reconversão do Forte da Ameixoeira, Construção de edifício de formação e social", diz o cartaz. A verdade, contudo, foi transmitida à Assembleia da República, em Fevereiro do ano passado, pelo secretário-geral do Serviço de Informações da República Portuguesa, estrutura na qual se integra o SIS. De acordo com os relatos então feitos na imprensa, Júlio Pereira confirmou aquilo que a revista Visão noticiara dias antes e que fora imediatamente desmentido pelo Governo: o Forte da Ameixoeira vai efectivamente receber a sede do SIS. Em resposta escrita à Visão, o patrão da espionagem nacional negou-se, contudo, a adiantar pormenores, nomeadamente sobre o custo dos trabalhos e até sobre a identidade do empreiteiro. "Não pode ser revelada, por motivos de segurança", assegurou. Mas a avaliar pelo painel de informação pública montado junto ao forte, a Presidência do Conselho de Ministros tem uma opinião diferente. Lá se diz que a obra foi adjudicada à empresa Teixeira Duarte, que o projecto é do gabinete de arquitectos Atelier da Cidade e que o prazo de execução é de 330 dias.
Como a empreitada teve início em Janeiro, é de esperar que tudo esteja concluído em Dezembro. Nessa altura, os moradores dos bairros sociais da Ameixoeira e das Galinheiras passarão a contar com um inesperado contributo para a sua segurança. "Se eles vêm para aqui isto vai passar a ser muito mais controlado pela polícia. Venham eles...", dizia ontem um taxista residente na zona.
Poucas centenas de metros abaixo, o antigo quartel do Grafanil, que estava igualmente abandonado há muito, foi também transformado, no ano passado, em sede do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro de Guarda Nacional Republicana, uma força especial, vocacionada para intervir em situações de emergência, nomeadamente no combate aos fogos florestais. No exterior, porém, nada identifica as instalações como pertencendo à GNR. "Aquilo também é dos secretas", garante um idoso a quem os novos vizinhos não foram apresentados.»
Bom, pode não ser a melhor solução para o Forte da Ameixoeira, mas podia ser pior. A ver vamos.
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