In Público (22/4/2008)
«O que faz uma sereia quando lhe cortam a água? Vai nadar para outras paragens? Definha até por fim a bela cauda se lhe transformar em duas pernas? Aluga um jacuzzi? Vai para dois anos que a fonte do Rossio virada ao Teatro Nacional D. Maria II está sem pinga de água, para desespero das belas figuras que a ornamentam. Nos primeiros tempos de seca, a Câmara de Lisboa optou por esconder as ousadas raparigas atrás de um tapume que não as deixava sequer ver uma das praças mais bonitas e mais fotografadas da cidade. Depois seguiu-se uma segunda fase de encarceramento, um regime de liberdade provisória em que já só havia uma rede a separar as sereias do resto do mundo. Convencido de que não havia, afinal, a esperar delas nenhuma espantosa fuga cidade fora, quem sabe se até ao mar, o actual executivo municipal retirou dali a vergonhosa vedação que as rodeava e voltou a mostrá-las ao mundo como elas nunca deviam ter estado: despidas de água, ao contrário das suas irmãs da fonte do lado oposto da praça, que continuam a fazer as delícias de quem gosta de chapinhar nos dias quentes. Razões para tamanha maldade, a câmara não apresenta nenhumas. Resta às sereias rezar - rezarão as sereias? - ou ensaiar uma dança da chuva de cada vez que sentirem a pele encarquilhar-se ao sol.»
É uma vergonha a situação a que se chegou com a fonte do topo norte do Rossio. Sempre teve problemas, fruto, não se sabe muito do quê. Uma vergonha, de que já tinha falado aqui.
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