28/04/2008

Câmara autoriza demolição do piso das galerias do Hotel Ritz

In Público (25/4/2008)
Ana Henriques

«Só os comunistas se opuseram à transformação da unidade hoteleira, alegando que esta irá "desfigurar o edifício na sua traça original"

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andares tem o Hotel Ritz Four Seasons, com entrada pela Rodrigo da Fonseca, e 282 quartos com vista privilegiada
A Câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira a sentença final de morte das galerias do Hotel Ritz e a sua substituição por um novo edifício com mais dez metros de altura, destinado a comércio e serviços.
Os comunistas foram a única força partidária que se opôs à transformação do conjunto arquitectónico, que o actual bastonário dos arquitectos, João Rodeia, considerou em 2005 ocupar "um lugar central e paradigmático na história da arquitectura portuguesa e da cidade de Lisboa". Mesmo a sua antecessora na Ordem, a agora vereadora, Helena Roseta, conformou-se com a irreversibilidade de decisões camarárias anteriores à de ontem, tendo-se abstido quando chegou a altura de votar o licenciamento da demolição.
"Perante essas decisões tínhamos que ter um argumento legal qualquer para chumbar [o novo projecto]", explica a autarca, que admite ter tido muitas dúvidas na posição a tomar. "O problema é que o Instituto Português do Património Arquitectónico [Ippar], actual Igespar, o tinha aprovado."
Acontece que o principal argumento do Ippar para viabilizar as intenções dos proprietários do Ritz se relaciona precisamente com as autorizações camarárias que já existiam, quando lhe foi pedido parecer sobre o assunto: um pedido de informação prévia e um projecto de arquitectura aprovados respectivamente em 2002 e 2004, pela então vereadora do Urbanismo, a social-democrata Eduarda Napoleão, que terão dado direitos aos proprietários do hotel.
"O que foi aprovado desfigura o edifício na sua traça original", lamenta o vereador do PCP Ruben de Carvalho, sublinhando o facto de o Ritz se encontrar em vias de classificação patrimonial. As restantes forças políticas não foram sensíveis ao argumento, tendo votado a favor da demolição.
A transformação do gaveto onde se situam as galerias - no cruzamento entre a Av. Joaquim António de Aguiar com a Rua Castilho - "desfaz duas das premissas mais importantes" do desenho original, refere o técnico do Ippar que analisou em 2005 o novo projecto, feito pelo gabinete de arquitectura RRJ Arquitectos.
"O novo corpo em altura vai tapar parcialmente uma das perspectivas mais importantes do conjunto [nomeadamente para quem sobe a Rua Castilho e a Joaquim António de Aguiar], precisamente aquela que permite entender a relação do imponente bloco dos quartos com a plataforma de apoio, através dos imponentes pilares de sustentação".
Classificação chegou tarde
Apresentado como um dos exemplos mais marcantes da arquitectura do modernismo em Portugal, pertence a Porfírio Pardal Monteiro o desenho original do Ritz, que é dos anos 50 do século passado.
O projecto não contemplava as galerias, que correspondem a uma ampliação feita por um colaborador seu, o arquitecto Leonardo Castro Freire, uma década mais tarde, após a morte de Pardal Monteiro. Amplicação essa que, no entender do Ippar, não retira valor a esta parte do conjunto, "que beneficiou com a sua introdução".
Apesar do elevado valor que reconhece à obra - "constitui um bem comum vivo -, foi o actual bastonário dos arquitectos quem, como responsável máximo do Ippar, emitiu há dois anos e meio parecer favorável à demolição integral das galerias, que nos últimos anos foram vítimas de abandono. O processo de classificação patrimonial surgiu demasiado tarde para impedir o seu desaparecimento.
O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos sobre a nova obra prevista junto da sociedade proprietária do Hotel Ritz, a Sodim, mas tal revelou-se impossível.
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andares tem o Hotel Ritz Four Seasons, com entrada pela Rodrigo da Fonseca, e 282 quartos com vista privilegiada»

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas como é que o responsável por tudo isto, o arquitecto João Rodeia, enquanto "responsável máximo do Ippar, emitiu há dois anos e meio parecer favorável à demolição integral das galerias" e agora aparece, quando já nada há a fazer, e enquanto bastonário dos arquitectos acabado de empossar, a clamar que a obra "constitui um bem comum vivo"?
São estes mistérios que nos fazem questionar os designios dos IPPARs desta cidade, onde tanta coisa se passou sem cidadão saber...

Anónimo disse...

olhóoooo mamarrachooo fresssquinhoooo!!!!

Anónimo disse...

e que tal uma mega petição contra mais um ataque ao nosso pouco património que resta por destruir?
as petições parecem proliferar por tudo e por nada, mas neste caso dialogar com os intermináveis processos burocráticos - e políticos - das nossas instituições públicas parece ainda mais desencorajador...