Há cerca de dezanove anos (1989) apresentei publicamente uma proposta urbanística, como contribuição para o desenvolvimento conjunto da Margem Norte e Sul do Estuário, que designei “Para uma Cidade de Duas Margens”. Nela propunha uma alteração, a prazo, do estatuto suburbano da Margem Sul para um novo estatuto urbano, acompanhando o crescimento da AML preferencialmente nesta margem.
Como principal elemento indutor desta alteração propunha um novo meio de transporte, tipo metropolitano aéreo ou teleférico de alta capacidade, a circular em anel nos dois sentidos entre as duas margens, passando pelo centro terciário de Lisboa (aproximadamente a actual linha vermelha do metro), pelos centros de todos os aglomerados ribeirinhos da MS, através da ponte 25 de Abril e de uma nova ponte a construir a montante desta (a actual Vasco da Gama). Tal meio de transporte permitiria, segundo cálculos então feitos, deslocações entre dois pontos opostos como o Barreiro e o Areeiro em cerca de 20 minutos. Ou seja, uma mobilidade nunca antes atingida entre os aglomerados da MS entre si e destes com Lisboa. Este metro aéreo complementado com a rede rodoviária e outros transportes, poderia, progressivamente, conduzir à alteração do estatuto desta MS (e como consequência da MN), até então parente pobre de Lisboa, transformando-a de suburbana em urbana de pleno direito. Criando-se assim uma nova entidade - “cidade” ? - com escala europeia, distribuída por duas margens.
Pensava então e continuo a pensar, que o crescimento de Lisboa deverá incidir de preferência na MS, desde que planeado, onde existem muito melhores condições, do que na MN, onde esse crescimento se fazia em mancha de óleo em terrenos sem aptidão. O PROTAML viria a consagrar esta ideia no objectivo estratégico “Recentrar a AML no Estuário do Tejo”.
Lembro que na época a proposta teve alguma repercussão entre os habitantes da MS. Porque não só passavam a ter a possibilidade de se deslocaram mais rapidamente para Lisboa para aí trabalharem, como podiam, pela primeira vez, circular entre os aglomerados vizinhos, desde sempre separados pelos esteiros. Mas, principalmente, porque a prazo diminuíam as deslocações para trabalharem na capital, como resultado dado novo estatuto, das novas funções e do novo emprego adquiridos.
Durante alguns anos nada aconteceu. Depois, e bem, construiu-se a Vasco da Gama (sem o Metro, como se sabe); depois o Ministro Ferreira do Amaral inviabilizou em parte a proposta com a introdução do comboio suburbano na ponte 25 de Abril; entretanto os Municípios da MS por sua conta e risco, avançaram com o Metro de superfície sem a ligação com Lisboa. O que poderia ter sido um projecto integrado inteiro e completo (Rio Frio era na época já uma das hipóteses mais viáveis para o novo aeroporto, logo, integrável neste modelo), foi sendo sucessivamente afastado mercê de um conjunto de obras avulsas desligadas entre si, sem um fio condutor, de que a proposta da terceira ponte me parece o culminar.
Tenho pena de se ter perdido aquela oportunidade. E estou convencido, sem excesso de vaidade, que também as populações da MS.
Guilherme Alves Coelho
2008-04-16
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2 comentários:
Tudo o que o anterior bloguista diz, como ,"Para uma Cidade de Duas Margens" e tudo o mais que tenha uma lógica urbanística,está tudo ultrapassado.Aqui e agora.
A lógica hoje,em Lisboa e no resto do País,nem sequer já é "economicista",pois esta também faliu,como até na América faliu(e não é uma "crise,é uma falência!).
Trata-se agora de "tapar buracos" apenas, nada mais.Com BETÂO.
A nova Ponte é isso:tapa o buraco financeiro de Lisboa e tapa o buraco do desemprego de Sócrates.
O resto,por agora, é fantasia.
16-4-08 Lobo Villa
Concordo plenamente com o post e com o comentário anterior. Neste país e nesta cidade não há uma visão de médio prazo dos problemas, nem há uma responsabilização perante as gerações vindouras. Por isso estamos a nos tornar cada vez mais um país Africano....
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