Eis aqui o idiota luminoso. O idiota luminoso é, por via de regra, um promitente governante. Central ou local.
Eis aqui a ideia luminosa. A ideia luminosa é a sua arma. Com ela irá esgrimir para ser eleito, para governar, para ficar na história. Para ser reeleito.
Eis aqui como ele abre caminho rumo à glória e/ou ao proveito. Convoca a comunicação social para a hora nobre, coloca-se em pose e saca da primeira ideia luminosa. Brande-a perante as câmaras. Num ápice, das suas mãos nuas surge um túnel, chave na mão, já com luz ao fundo e tudo. Rodopia sobre os calcanhares e apresenta uma dose de torres que vai espetando à beira mar. Afasta-se lentamente, e, de repente, num gesto brusco mas firme, lança uma nova ponte para o futuro. E finalmente, senhoras e senhores, meninos e meninas, para espanto de todos, o must, o clímax, o máximo, a cereja sobre o bolo. Eis a mais formidável de todas as ideias luminosas: a maior qualquer coisa do mundo! Nesse momento ele tem a eleição ganha.
Uma vez eleito, o idiota luminoso tem duas vias. Ou rapidamente esquece as promessas que fez porque, segundo diz, não dispõe de verbas para as concretizar e lá vai arrastando numa gestão medíocre e órfã. Dele não rezará a história. Ou, caso que nos interessa, porque de sucesso, derrete o orçamento e endivida a instituição a pôr de pé a sua ideia luminosa. Cuja será necessariamente excepcional. Porque dele sempre se esperam coisas excepcionais, nunca coisas banais; obras difíceis, nunca obras fáceis; sempre trabalhos caros, nunca quinquilharia da loja do chinês. A sua mente, demasiado ocupada em produzir a luz, não pode preocupar-se com as coisas mesquinhas, do dia a dia. Com as minudências, que são apenas ruído de fundo, que só atrapalha. Com uma espécie de trabalho doméstico, de mulher a dias. Tudo coisas indignas de um verdadeiro governante. Central ou local.
Mas como não há bela sem senão, existe um ponto fraco neste comportamento: os cidadãos estão cada vez mais exigentes. Não para reivindicarem coisas do outro mundo, mas apenas para que cumpra as obrigações para as quais foi eleito. Como fornecer e manter na cidade, uma boa qualidade de vida, na habitação, na educação, na saúde, nos transportes e mobilidade, no lazer. Que não haja mais buracos nas ruas, mais carros mal estacionados, que os jardins sejam tratados, que os espaços públicos cumpram as funções para os quais foram concebidos, que não haja mais espaços abandonados, que a sinalização seja correcta e fiável, que os peões estejam seguros nas passadeiras e nos passeios, que os transportes públicos sejam suficientes e a horas, que haja segurança, que o lixo seja recolhido, que os empreiteiros não sejam os donos do espaço público, que os estaleiros de obras sejam contidos e as obras terminadas, que não haja políticos e agentes e funcionários venais, que não haja especulação com os terrenos, que não haja corrupção, que haja sempre e atempadamente, planos urbanísticos e outros, amplamente debatidos e aprovados, que contemplem o futuro, sem dar lugar a aventureiros e charlatães. Nem mais idiotas luminosos...
Em suma, uma boa gestão corrente. Tudo assuntos para os quais não é necessário um miligrama de genialidade. Apenas interesse, seriedade, competência e, decerto, alguma imaginação. Qualidades que, diga-se em abono da verdade, vão rareando, face ao oficializado e idiota nivelamento por baixo.
Anseio pelo dia em que veja eleito o meu autarca preferido. Aquele que apenas tenha uma ideia luminosa: a de praticar uma boa gestão corrente.
Guilherme Alves Coelho
28/04/2008
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1 comentário:
Há 30 que votam ou no PS ou no PSD, o que é que esperavam!
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