22/09/2009

Protesto pela intervenção da "Experimenta Design 2009" no Jardim de Santos


Exmo. Senhor Presidente da CML,
Dr. António Costa,


Vimos por este meio apresentar a V.Exa. o nosso protesto pela concessão do Jardim Nuno Álvares, mais conhecido por Jardim de Santos e um dos últimos jardins românticos e intimistas de Lisboa, à “Experimenta Design” para que ali desenvolva uma intervenção de fundo no âmbito da edição deste ano daquela iniciativa, concessão, aliás, sem a mínima auscultação pública, quer dos cidadãos quer de especialistas em botânica e jardins históricos, o que nos parece contraproducente em termos da tão apregoada “governança”.

Parece-nos grave que se dê “carta branca” a uma intervenção de “designers”, pseudo-vanguardista, assente numa filosofia “lounge”, que poderá ser muito interessante em termos de serviços de restauração e entretenimento, mas que nos parece completamente desadequada àquele jardim, que apenas precisa:

- De limpeza diária do lixo e do vandalismo de que é alvo todas as noites;
- De ver recolocados os seus candeeiros de época (mal abatidos pela CML), adaptados às novas exigências de consumo de energia, etc.,
- De ver os seus percursos pedonais remodelados, designadamente a nível do pavimento.

Ou seja, uma verdadeira intervenção de vanguarda no Jardim de Santos seria uma intervenção de pura conservação. A marcação das árvores constitui um risco de despoletar mais vandalismo sobre essas e outras árvores de Lisboa, pelo que esta iniciativa poderá ter efeitos negativos no presente mas também no futuro.

Além disso, lembramos a V.Exa. o seguinte: existem no Jardim de Santos 8 tipuanas que estão classificadas como espécimes de interesse público (http://www.afn.min-agricultura.pt/portal/ArvoresFicha?Processo=KNJ3/030&Concelho=&Freguesia=&Distrito= ) e que gozam de 50m de raio de protecção especial, pelo que toda e qualquer intervenção naquelas árvores e/ou na zona de protecção terá forçosamente de ter a devida autorização de quem de direito, i.e, da Autoridade Florestal Nacional; a quem, aliás, já transmitimos as nossas preocupações.

Finalmente, recordamos também que o jardim está vinculado à figura de Ramalho Ortigão, homenageado em 1957 pela própria CML, acontecimento que reuniu na altura personalidades de grande mérito artístico além de familiares do escritor; pelo que nos espanta como é que se anuncia o reposicionamento da estátua sem sequer se auscultar ninguém.


Melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Luís Marques da Silva e Júlio Amorim

3 comentários:

Ferreira arq. disse...

Cada vez vemos mais decisões políticas baseadas em opiniões amadoras, de quem dá uns palpites, em vez de actuações profissionais, baseadas em especialistas na respectiva área de actuação.
Isto é catastrófico para o desenvolvimento social, para a evolução da educação e da cultura de todos nós.

Talvez por isso sejamos cada vez mais terceiro mundo, contrastando com uma europa onde isto não acontece (pelo menos a este nível).

Está de parabéns o CidadaniaLx por reagir a este estado de coisas e tentar que exista um mínimo de cultura em cada acto político.

Quem decidiu neste caso, não se importou com as consequências disso, seja o que pode acontecer ao Jardim de Santos, seja a este tipo de "cultura" de qualquer novidade vale, desde que tenha impacto momentâneo.
Se o jardim fica danificado não importa.
Se a cultura que se transmite à população em resultado disto, leva a novas actuações levianas a este níve, também não importa.

A cultura que Ramalho Ortigão transmitiu na sua época não tinha este nível amador; a sua memória merece mais respeito.

Expoente cultural também é REABILITAR COM HUMILDADE, e é o que falta perceber a muitos dos nossos políticos.

JP disse...

O Cidadania LX bem que poderia organizar algo como:

http://www.youtube.com/watch?v=A5GryIDl0qY

Se a câmara é incompetente para a restauração e limpeza, porque não avançar com algo similar para a cidade de Lisboa?

rui disse...

muito ben!