In Público (23/9/2009)
«Uma avaria no sistema da linha verde do metro esteve à beira de comprometer resultado de aposta do candidato socialista
As coisas iam correndo mal ontem de manhã ao candidato à Câmara de Lisboa António Costa. Disputar, praticamente à hora de ponta, uma corrida contra um Porsche entre o Campo Grande e o Rossio, usando o metro, parecia façanha simples. Mas há imprevistos que podem mudar tudo, e uma súbita avaria na linha verde, a única que podia dar-lhe uma vitória sem percalços, esteve prestes a comprometer o objectivo da acção de campanha eleitoral socialista: mostrar que os transportes públicos são a forma mais eficaz de circular na cidade.
O percurso foi escolhido de forma a comprovar, sem riscos, esta premissa inicial: era simples, sem obrigar a mudanças de linha e sem ser demasiado longo. Entre o Campo Grande e o Rossio há nove estações que o autarca e respectiva comitiva demoraram escassos 15 minutos a percorrer, numa carruagem apinhada devido à avaria que, momentos antes, deixara muita gente em terra. Antes disso, o candidato chegara a encaminhar-se, conformado, para a linha amarela, da qual teria de fazer um transbordo para chegar às proximidades do Rossio, mas na hora H tudo acabou por se compor, com o problema de circulação do metro a remediar-se. E o próprio meio de transporte escolhido contribuiu para uma vitória que a Carris não conseguiria dar-lhe.
Já enfiado na carruagem, António Costa ia vendo as estações passar, ainda incerto do resultado final da aposta. Só descansou pelas bandas do Intendente, quando foi informado de que o piloto de carros de corrida Pedro Couceiro estava preso com a coqueluche de alta cilindrada num pára-arranca antes do túnel do Campo Pequeno. Na disputa corriam, no entanto, outros três adversários: a vereadora Helena Roseta, que seguia dentro de um táxi pelas faixas Bus, o vereador José Sá Fernandes, que tinha levado a sua bicicleta portátil, e um ciclista anónimo, habituado a usar este meio de transporte entre a casa e o emprego.
E foi precisamente este último a chegar em primeiro lugar à meta, o Café Nicola. Habituado a pedalar todos os dias entre a Alta de Lisboa, onde reside, e a Baixa, onde trabalha nos serviços de informática de um banco, Rui Sousa teve pernas para conseguir bater a comitiva socialista por um ou dois minutos. Sem poder exceder os 50 quilómetros por hora e com as obras em curso na Fontes Pereira de Melo a empatar-lhe a marcha, o Porsche Carrera guiado por Pedro Couceiro havia de chegar só 32 minutos e mais de dois litros de gasolina depois de ter saído do Campo Grande. O piloto mostrava-se surpreendido com os engarrafamentos que havia apanhado ao longo dos sete quilómetros de percurso: "Não tinha noção de que se gastasse tanto tempo mais que no metro, num percurso tão simples." Percebia-se que lhe tinha sido difícil, nas poucas ocasiões em que o podia ter feito, resistir à tentação de pisar o acelerador a fundo e puxar pela máquina. "Eu sabia à partida que ganhar estava fora de causa", confessou no final.
Em terceiro lugar, a seguir ao ciclista e aos passageiros do metro, ficou o táxi de Helena Roseta, com um tempo de 27 minutos e seis euros e meio no taxímetro. E mesmo dando uma volta pela Estefânia e pela colina de Santana em vez de seguir pela Avenida da República e pela Avenida da Liberdade, até Sá Fernandes conseguiu pedalar com rapidez suficiente para vencer o Porsche, embora tenha ficado em penúltimo lugar.
Desde que se mudou do concelho de Sintra para Lisboa, já depois de ter sido eleito presidente da câmara, António Costa utiliza algumas vezes o metro entre a sua nova casa, nas Avenidas Novas, e a Praça do Município. Não é um passageiro frequente, e é num carro com motorista que aparece na maioria das cerimónias públicas em que participa. Mesmo assim, insiste em tentar convencer os lisboetas das virtudes de um sistema de transportes públicos muitas vezes impedido de funcionar em condições por causa do excesso de carros particulares a circular nas ruas. E se lhe falam do tempo que se perde a chegar de autocarro a zonas como a Ajuda ou Alcântara, o candidato socialista acena com o seu programa eleitoral, no qual defende a criação de linhas de eléctrico rápido quer nesta zona, a partir da linha vermelha do metro, com prolongamento ao Restelo e a Algés, quer entre os Olivais, a Alta de Lisboa, Carnide e Benfica. Para quando? É difícil de prever. "Penso que será possível nos próximos quatro anos de mandato", disse, em resposta à pergunta de uma jornalista.
Já lá vão 16 anos desde que, enquanto vereador da oposição da Câmara de Loures, António Costa organizou uma corrida entre um burro e um Ferrari para mostrar a necessidade de o metropolitano se estender a Odivelas. O animal suplantou o bólide. Década e meia depois já há transporte subterrâneo para Odivelas, mas o trânsito continua a ser um dos maiores problemas de Lisboa. Mesmo tendo ultrapassado as fronteiras do concelho, o metro tarda a chegar aos diferentes pontos da cidade.
O dia de ontem foi escolhido para a acção de campanha por se tratar do Dia Europeu sem Carros. Mas a tradição já não é o que era e não houve quaisquer restrições à circulação automóvel na cidade. Apenas não se pagou bilhete nos transportes públicos.»
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Esta "espectacular" corrida foi um completo disparate para inglês ver. Para além disso porque fazê-la com um Porsche ? Julgará o Sr. presidente que é uma marca de utilização diária pelo comum dos lisboetas. Com um Porsche ou com um Fiat o resultado seria idêntico.
Costa acha que os lisboetas são burros.
Qualquer lisboeta sabe que há ene zonas da cidade onde o metro não chega.
Qualquer lisboeta sabe que a cmL nada tem que ver com o Metro: é o governo.
Qualquer um que se propusesse fazer uma «corrida» destas, escolheria, pelo menos, um percurso de metro que obrigasse, como a qualquer pessoa normalmente acontece, a ao menos ter de mudar uma vez de linha.
Mas o Costa, como está habituado a lidar com a burrice lá na vereação dele, acha que os lisboetas são burros.
Enfim, "corridas" destas só convencem os crentes ou os que já estão convencidos...
Anónimo, o que o Costa pretendeu demonstrar é que nas ZONAS ONDE HA METRO este é o mais rapido.
acho que o costa nunca disse para as pessoas irem de transporte publico para onde este nao existe. o problema é que nesta cidade mesmo onde ha transporte publico ha milhares de pessoas a irem de carro, mesmo que demorem mais tempo.
é para esses que esta campanha serviu.
António Costa é um demagogo.
Até um burro é mais rápido a raciocinar do que ele...
Enviar um comentário