24/09/2009

Câmara de Lisboa tenta reaver Caleidoscópio e abrir espaço a estudantes do Campo Grande

In Público (24/9/2009)
Por Ana Henriques


«Autarquia insiste no despejo do concessionário. No centro comercial apenas funciona uma livraria, alega o vereador Sá Fernandes

A Câmara de Lisboa pediu ao tribunal administrativo a devolução do edifício onde funcionava o Centro Comercial Caleidoscópio, no Campo Grande, desde 1979 nas mãos de um concessionário privado. O objectivo é voltar a pôr o espaço e os campos de jogos adjacentes a funcionar com novas funções que possam servir os estudantes da Cidade Universitária, situada do outro lado da avenida.

Data de há cinco anos a última tentativa da autarquia de despejar o concessionário, a Empresa Turística do Campo Grande, que por sua vez subalugou a terceiros quer as lojas do centro comercial, quer os campos de ténis, o rinque de patinagem, os barcos do lago e os respectivos bares.

Já na altura, a maioria social-democrata que governava a câmara queria transformar o centro comercial num megaespaço jovem, com salas de estudo, espaços multimedia e gabinetes de aconselhamento em várias áreas, como o emprego. Mas o tribunal trocou-lhe as voltas, e deu razão aos concessionários, salientando, no julgamento de uma providência cautelar que estes haviam desencadeado, o facto de terem lugar no Campo Grande actividades "conhecidas pelo povo de Lisboa há décadas, enquadradas num local aprazível onde as pessoas passeiam, andam nos barcos, utilizam o parque de patinagem ou praticam ténis". A sua expulsão resultaria em "prejuízos de difícil reparação", para além das várias situações de desemprego que acarretaria.

Decisão em Outubro

Desta vez é provável que os juízes decidam a favor do município, observa o vereador dos Espaços Verdes, Sá Fernandes: "À excepção dos barcos e de uma livraria no centro comercial, que pode continuar aberta, já nada se encontra a funcionar". Tudo o resto "está destruído, podre".

A audiência preliminar onde o caso vai ser debatido terá lugar no próximo dia 13 de Outubro. Sá Fernandes diz que a sociedade concessionária dos diferentes espaços está em falência e não paga há muito a "renda de miséria" que a câmara lhe cobra. Com um prazo de 20 anos, a concessão inicial expirou em 1999. Mas também sobre este ponto não há acordo: a autarquia defende que a prorrogação de contrato invocada pela Empresa Turística do Campo Grande nunca existiu.

Sá Fernandes prefere não dar pormenores sobre os planos que tem para o local, situado em pleno jardim do Campo Grande. Apenas garante que o lago continuará a ter barcos e que a autarquia não tenciona concessionar o espaço outra vez, nem lançar nenhum concurso para a sua exploração. "É um local com um potencial extraordinário, podemos fazer ali algo para os estudantes", refere o vereador para os Espaços Verdes.»

Com efeito, esta novela do Caldeidoscópio arrasta-se há tempo demasiado. Já foi tempo em que o restaurante e o cinema davam cartas na então "modernidade", na altura "state of the art" de desenho e concepção de espaços. Rapidamente, porém, a coisa foi-se degradando. Por mim, seria tudo para deitar abaixo.

11 comentários:

Rodrigo disse...

o problema do campo grande, e fala alguém que conhece muito bem a dinâmica do campo grande, tendo passado todos os dias por lá em 20 anos, é o facto de estar ladeada de vias rápidas. O jardim torna-se assim numa ilha praticamente sem vida. Fazendo o papel de Advogado do Diabo, os túneis do santana até fazem sentido, permitindo o jardim aproximar-se da FCUL, do BNacional e de alvalade, funcionando como um continuo.

Paulo Ferrero disse...

Talvez o problema se resolvesse fazendo como se faz nos jardins-parque por essa Europa fora: gradeamentos e portões. Mais túneis ali? Não me parece acertado, pois por essa ordem de ideias teríamos que fazer túneis em praticamente toda a cidade...

TF disse...

Há um conjunto de pessoas que sente uma enorme necessidade de túneis na sua vida. Se andassem mais de metro e menos no seu carro, conheceriam quilómetros de belos túneis e talvez ficassem mais disponiveis para outras soluções urbanas. Um túnel é quase sempre uma "solução cobarde" para os problemas urbanos. Trata-se de esconder o problema. O pior é que costumam custar sempre milhões ao contribuinte.

Rodrigo disse...

é uma solução que faz bastante sentido.
Uma ideia que tenho há alguns anos era aproveitar o desnível da avenida da igreja e prolongar grandes passadiços que ligariam a avenida ao jardim, em vez do acesso ser feito por aquele túnel fétido e perigos, passando por cima da avenida do Campo grande, permitindo ligar Alvalade ao jardim.

Anónimo disse...

o campo grande tem uma potencialidade enorme, desaproveitada, que é a proximidade da cidade universitária.

a iclusão do jardim no campus universitário seria o pressuposto necessário para que ganhasse vida.

as sinergias das faculdades que o ladeiam poderim potenciar o paracecimento de localis de estudo com horários alargados, a melhoria da iluminação, zonas desportivas etc.

por ora, é apena sum floresta que ninguem atravessa, até porque não há la nada de atractivo.

quanto ao lago, contrinua a ser explorado por um dono de botequim da treta, que não quer mudar e manter-se no seu cafe piolhoso.

e a isto chama o tribunal "prejuízo irreparável"....

Anónimo disse...

FAZER TUNEIS, PARA CRIAR MAIS ESPAÇOS DEGRADADOS E QUE FOMENTAM A CRIMINALIDADE NOCTURNA...

Pelo exemplo que temos dos varios tuneis pedestres que temos, essa nao era de certeza uma boa soluçao.
Muito o Santana gosta de gastar dinheiro em tuneis, em vez de fazer ciclovias e recuperar edificios (p.e.)...
Quanto a demolir esse edificio só se for para fazer um novo, porque se for para alargar o jardim so vai criar mais espaço de abandono e criminalidade.

Anónimo disse...

Não vejo razão para que reabra "com novas funções que possam servir os estudantes da Cidade Universitária".

Então e os que não são estudantes, por que raio não hão-de poder usufruir daquele espaço???

Miguel Drummond de Castro disse...

"por ora, é apena sum floresta que ninguem atravessa, até porque não há la nada de atractivo."

Ora essa. A atracção de uma floresta é a própria floresta - why add?

Quim das farturas disse...

O edificio do Caleidoscopio é frequentado por muita gente à noite. Tem lá uma discoteca africana onde devez enquando há uns tiroteios.

As rolotes de baixo da 2a circular tambem costumam ter muita gente. Grandas pita shoarmas e couratos que lá se comem.

Xico205 disse...

A discoteca Neels no Caleidoscópio é gerida por pessoas de bem:

http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=C954BB1B-3E19-4D78-8E25-696DEAA935ED&channelid=00000011-0000-0000-0000-000000000011

Anónimo disse...

Torna-se muito fácil opinar sobre algo quando não nos afecta.Estas alterações vão modificar a vida de várias pessoas,que dependem do seu trabalho para sobreviver.Para alguns,são apenas meia dúzia de pessoas que vão para o desemprego.Já imaginaram o que se passa no íntimo dessas pessoas?Melhorem sim! mas criem alternativas