17/06/2012

"Quero ver o Tony, porque vacas já vi muitas na vida" .




Por Marta Spínola Aguiar in Público

85.000 plantas, 324 animais e 33 culturas. Foram estes os números que marcaram o megapiquenique no Terreiro do Paço


O espaço tinha tudo para ser uma quinta, mas era o campo na cidade. Assim foi durante o dia de ontem no Terreiro do Paço, em Lisboa. Mas foi o concerto de Tony Carreira, ao final do dia, que cativava mais pessoas.
Por volta das 10h, um mar de gente inundou o Terreiro do Paço. Várias gerações juntaram-se para ver plantas, canteiros, animais e culturas e marcar presença numa das mais emblemáticas praças da capital.
Ao longo do dia, a Praça do Comércio testemunhou um confronto de gerações. Miúdos e graúdos reuniam-se à volta das actividades e espaços e deixavam-se levar pelo espírito e aromas do campo e do mar. As experiências eram passadas em família, tal como a organização queria. "O evento é dedicado às famílias e aos portugueses", afirmou Nádia Reis, directora de relações públicas do Continente (do grupo Soane, a que também pertence o PÚBLICO). Assim, o objectivo da organização centrou-se na homenagem a Portugal e à sua portugalidade e quis "sensibilizar todos os portugueses para a questão da produção nacional".
"Oh mãe, não sabia que a carne vinha daquelas vacas", grita uma criança. A curiosidade tomava conta dos mais pequenos, que não paravam de questionar os animadores. O carácter lúdico destinava-se sobretudo aos mais pequenos e a maior parte das actividades desenvolvidas mostravam de onde vinham os produtos que comemos. "Esta é a oportunidade ideal para as crianças entrarem em contacto com o campo. Hoje em dia eles encontram tudo no supermercado e depois não sabem como funciona a quinta e o cultivo da nossa comida", afirma Anabela Araújo, visitante. Para Manuel Rocha, a iniciativa não representa fielmente a realidade do campo, mas ainda assim é "uma amostra pequena" que tem que ser valorizada.
O local acabou por ser o ideal. "As pessoas chegam ao Terreiro do Paço e sorriem", diz Nádia Reis. A receptividade por parte dos visitantes era uma questão fulcral para a organização, que temia um mau resultado devido às recentes polémicas. "E para nós essa é uma sensação fantástica porque percebemos que estamos a proporcionar, de forma gratuita, um dia de festa para as famílias inteiras", salienta.
A festa foi organizada pelo Continente, mas nem por isso escapou às críticas e houve visitantes que se preocuparam com a forma como os agricultores são tratados. "O agricultor só sai prejudicado porque não é o agricultor que está a organizar", diz Américo Correia. "O problema tem a ver com o lucro. Grandes lucros para as grandes superfícies comerciais e quem trabalha mais por isto é quem ganha menos", acrescenta.
Apoiar causas sociais é outro objectivo do Continente. "O momento não é fácil. Por isso vamos juntar [o Continente e a Câmara de Lisboa, uma das parceiras institucionais] várias instituições sociais e doar cerca de cinco mil toneladas de produtos", refere Nádia Reis.
De manhã à noite o Terreiro do Paço recebeu centenas de visitantes, mas a grande atracção foi o concerto de Tony Carreira, ao final da tarde. "Quero ver o Tony, porque vacas já vi muitas na vida", declarou Paula Silva, bem-disposta. Desde cedo, vários fãs juntaram-se em frente ao palco. Consigo levavam a merenda, o nervoso miudinho e a boa disposição. Para Rute Pereira o espaço para o concerto era "um bocadinho pequeno", mas afinaram as vozes durante todo o dia e não queriam sair do seu lugar. Quiseram esperar pelo momento em que Tony subiria ao palco. E a razão era simples: "Porque vai valer a pena".

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