12/06/2013

Alerta para danos no património classificado do ex Hospital Miguel Bombarda e para a situação do Museu


Exmo Senhor Ministro da Saúde
Dr. Paulo Macedo


Como é do conhecimento de Vossa Excelência, o património do antigo Hospital Miguel Bombarda, encerrado em 2011, é de grande valor histórico e arquitectónico, sendo que dois dos edifícios existentes no seu complexo, o Balneário D. Maria II (1853) e o Pavilhão de Segurança (1896) já se encontram classificados desde Dezembro de 2010 como Imóveis de Interesse Público.

No que respeita ao Pavilhão de Segurança - edifício único no mundo, que foi alvo de criteriosas obras de restauro em 2005-2007 e onde está instalado o Museu de Arte de Doentes, de Arte Outsider e de Neurociências -, cumpre-nos informar Vossa Excelência que julgamos terem-se verificado dois graves atropelos à sua salvaguarda e conservação por parte da Administração do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, a saber:

1. Na cave do edifício, com paredes estruturais, não descortinamos as razões por que foram colocadas argamassas com cimento industrial e tinta plástica (!), sem autorização da Direcção-Geral do Património Cultural (obrigatória), provocando a não respiração das paredes e a retenção de água e humidades, colocando em perigo por isso mesmo a estabilidade futura do edifício. De salientar que os materiais apropriados, não utilizados nesta intervenção, estão armazenados no próprio edifício desde 2009-2010, para eventuais reparações, o que não se verificou no caso presente.

2. No corpo circular do mesmo edifício, o que mantém os rebocos originais sem cimento e revestidos a cal, aquando de recente exposição de fotografias (desadequadas aos fins do Museu), desocuparam-se seis salas de arte de doentes e foram colocados dezenas de pregos, danificando as paredes, ao não utilizarem os cerca de 20 expositores existentes no Museu.

Alertamos também Vossa Excelência, Senhor Ministro, para a situação de desleixo do Museu do ex Hospital Miguel Bombarda, dedicado à arte dos Doentes Mentais e às Neurociências, onde se expõe parte de um dos mais ricos acervos existentes na Europa, com cerca de 14.000 exemplares - segundo pareceres do famoso Museu de Lausanne e de John Maizels, diretor da revista internacional Raw Vision -, um espaço de homenagem à criatividade artística de doentes com perturbação psíquica, combatendo o estigma e a discriminação, e visitado por mais de 20.000 pessoas desde que abriu portas, sendo que a maioria são turistas estrangeiros.

Progressivamente, desde o encerramento do hospital, tem sido negada a visita a locais como o Salão Nobre, o gabinete onde o Prof. Bombarda foi assassinado, foi cancelado o telefone de contacto, etc. Mais recentemente, as pinturas e os azulejos das 6 salas do corpo circular onde se realizou a exposição antes referida, não foram repostos para exibição.

Face à situação em que se encontra o Museu, e à continuada incompreensão da Administração do Centro Hospitalar em corrigir as situações descritas, sugerimos a Vossa Excelência que transfira a responsabilidade e a guarda do excepcional e único acervo artístico e documental em causa, para o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, entidade que no ministério está vocacionada para a constituição do Museu da Saúde.

Desde já agradecendo a melhor atenção de Vossa Excelência, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho e Carlos Moura

Cc. AML, DGPC, Media

1 comentário:

Anónimo disse...

É urgente dar um destino condigno a este Espaço Maravilhoso que passa pela sua ocupação efectiva, evitando uma degradação natural devida ao abandono.
Penso que o Forum Cidadania LX tinha proposto a instalação no local do Arquivo Municipal presentemente num local impróprio.
Esta proposta parece-me a todos os títulos louvável pelo que deveríamos lutar por ela.

Pinto Soares