30/05/2007

De que precisa Lisboa (2)

Rui Tavares in Público 29 maio 2007

"Pensar agora nas eleições futuras - Se estas eleições intercalares são atípicas, em grande parte é porque reforçam os defeitos das nossas eleições locais. Mas são também uma ocasião para obrigar os principais actores a compromissos que aumentem a qualidade da democracia local, pensando já nas eleições de daqui a dois anos. Nessa ocasião, eu gostaria de ver...

...programas primeiro, personalidades depois - Os maiores partidos escolhem os candidatos por édito do chefe e/ou pressão dos aparelhos locais. Os independentes (na verdade, dissidentes dos partidos), depois de recolhidas as assinaturas, estão por conta própria. Os eleitores só têm influência no final do jogo. O processo deveria ser outro: abrir em cada área política um debate para constituição de programa, com a participação dos cidadãos que o desejarem. Depois, escolher o melhor intérprete desse programa, no quadro de...


...eleições primárias - A dispersão de votos pode voltar a beneficiar os medíocres já nas próximas eleições, perversamente por efeito do excesso de quantidade e qualidade à esquerda. Para o futuro, uma solução é abrir um período de candidaturas e debate em cada área política, aberto a não-militantes, seguido de uma eleição primária. Como em Itália, cada votante nas primárias paga uma quantia simbólica que contará como donativo para a campanha eleitoral. Caso contrário, teremos de pensar em...


...duas voltas nas eleições locais - A França tem, a Itália tem, o Brasil tem. Portugal deveria ter. O presidente da câmara tem poderes próprios e a relevância política do cargo não tem senão aumentado. Mas é frequente o presidente ser escolhido por cerca de trinta por cento dos eleitores. Não faz sentido. Os primeiros vereadores deveriam ser escolhidos na primeira volta. Os dois candidatos mais votados iriam à segunda volta para se escolher o presidente. Um cálculo misto determinaria a composição final da Câmara.


Um fórum permanente da cidade - Consultivo. Com participações individuais ou de associações locais, de olisipografia, de defesa do património e do ambiente. De preferência funcionaria na internet, com poucas reuniões e formalidades. Seria uma acta permanente das intenções e dos desejos dos munícipes. Dois funcionários bastam para o gerir, um dos quais para receber propostas deixadas em papel nos serviços da câmara, ou enviadas pelo correio, para a população sem acesso à web.

Proteger a Baixa dos carros - O leitor José Silva Jorge quer que a Baixa deixe de ser uma zona de atravessamento de trânsito. Para tal, propõe que se encerre ao transporte privado as ruas do Ouro, da Prata e dos Fanqueiros. As avenidas de acesso à Baixa passariam apenas isso, avenidas de acesso. Daria para se chegar aos parques de estacionamento ou para deixar passageiros mas os carros regressariam pelo mesmo caminho. Plenamente de acordo: uma Avenida da Liberdade com as cinco a sete faixas actuais alimenta a ilusão de que é possível continuar a entupir a baixa com carros. Com esta proposta e a redução de faixas que ela permitiria, a Avenida poderia recuperar parte do seu anterior carácter de Passeio Público.


Uma solução democrática para o património do estado - O leitor José Carlos Guinote vê a venda (ou aluguer, digo eu) do património do estado na cidade como uma oportunidade para repovoar a cidade. Tem é que ser feita com regras especiais, com obrigações num plano de habitação ou utilização para todas as bolsas, garantindo a diversidade social na ocupação desses espaços e edifícios. Vender para a pura especulação imobiliária é substituir um problema por outro, diz este leitor – e eu concordo."

2 comentários:

Anónimo disse...

Nos anos 40 e 50, o meu avô paterno saia ao final do dia do seu escritório na Rua Palmira, aos Anjos, e ia de carro até ao Rossio. Estacionava à porta do extinto café Gelo, onde gostava de acabar a tarde com os seus amigos. Ao longo das décadas a Baixa tem vindo a perder "vida" especialmente ao final do dia. Compreendo a ideia de limitar o trânsito no local, mas mais uma vez isso poderá ser benéfico para turistas e "visitantes de passagem" como aqueles que todos os dias passam a correr rumo aos Cacilheiros. Mas para os habitantes da cidade será mais uma razão para não ir à baixa.

Anónimo disse...

Aponto 4 situações urgentes para a melhoria da qualidade de vida dos Lisboetas :
1. Retoma do anterior Sistema de Recolha de Lixo, uma vez que o actual torna as ruas imundas.
2. Alcatroamento das ruas da cidade que necessitem.
3. manuetenção dos Jardins.
4. Regulação do estacionamento desregrado.

São 4 medidas simples, que seguramente contribuirão para melhorar significativamente aqualidade de vida dos habitantes da cidade, que são na realidade quem vai votar.
Sim, por incrivel que pareça, quem vai votar são os habitantes da cidade, mas parece que os politicos não percebem isso. Túnel do Marquês ? Para quem entra. Ota ? Para termos de fazer 50 km para apanhar um Avião. Nova Gare para Paquetes ? Para os turistas...