03/05/2008

O Senso e a Cidade l Nas asas do desejo


aqui página 8 ou

Conduzida não por um príncipe catalão mas de Portugal voltei a abraçar a cidade de Barcelona e esvoaçando de mota pelas ruas da cidade confirmo por estas linhas uma morada longe da agressividade madrilena. Uma cidade que serenamente convicta de si própria, se enaltece como agradável a quem a habita ou procura.

Esquecida da arrogância guardada em memória lancei-me a um sorriso rasgado no primeiro dia de visita, aquando encontro ocasional com um tão desejado cartaz do filme Asas do Desejo de Wim Wenders. Com surpresa acabaria por me ser oferecido, apenas por ser uma lisboeta curiosa que prometeu ao futuro viajante da cidade branca, informação antecipada.

Sem tocar de perto os planos de Ildefonso Cerdà é inquestionável a sua visão notável de um lugar que nos envolve. Seja pelas esquinas truncadas, pelas geniais bicing's pedaladas pelos moradores desta atraente morada, seja pelas bow windows sem arrastamento de estores, seja pela inundação de árvores pelas ruas, ou pela energia vibrante que esta cidade transporta é louvável o seu posicionamento turístico aos olhos do mundo.

E tudo porque quem faz, faz bem feito e quem renova não estraga. Bem planeada e urbanisticamente quase perfeita, (sente-se falta de jardins no centro da cidade), Barcelona é sem dúvida uma cidade equilibrada onde a coerência urbana não nos faz gastar o stock doméstico de Alka Selser.

Porque sempre defendi que Lisboa tem tudo para merecer ocupar um lugar igual ou melhor, partilho a vontade de a destacar como quem abre um tesouro à beira da irreverência Atlântica. E a quem a constrói, suplico apenas o bom senso nas decisões futuras.

3 comentários:

Miguel Drummond de Castro disse...

"E a quem a constrói, suplico apenas o bom senso nas decisões futuras."

Sancha Trindade,

Permita-me que discorde do final do seu texto. Não temos que suplicar! Não somos mendigos: somos os cidadãos de Lisboa, temos apenas em todas as ocasiões que entendermos de dizer o que pensamos, o que queremos e como o queremos. E naturalmente o que não queremos.

De resto, concordo com o que diz das árvores em Barcelona, que "urbanizam" a cidade de facto e também simpatizo imenso com a energia de Barcelona, a cidade do mundo onde há mais namorados na rua a qualquer altura do dia, mas sobretudo depois das seis no Paseo de Gracia, entre outros lugares.

Quanto ao mais Lisboa tambem tem energia, e mais forte, mais secreta, que, por há séculos ser excessiva e caudalosa tanto pode dar para o disparate como para o sublime. Não temos meio termo, é verdade. O pior é quando estamos em tempos de termos disparatados. Mas as metamorfoses das cidades nunca acabam.

Recordo que o primeiro a empregar a designação de "cidade branca" para carcterizar Lisboa foi Baudelaire, no séc. XIX. Numa carta diz, admirado, que em Lisboa não há árvores nem jardins - como de facto não os havia. E isso, a ele cosmopolita, fez-lhe tanta impressão que cunhou o termo de ville blanche, não como em geral se pensa para aludir à cor branca global do casario, mas pela falta de árvores e de jardins.

De resto, sempre que eu posso vou dar um salto a Barcelona onde gosto de andar a pé e perder-me pelas ruas. Mas a moto é uma boa opção, sobretudo na Asas do desejo.

daniel costa-lourenço disse...

Amo Lisboa.

Mas na verdade, Barcelona é aquilo que Lisboa podia ser e não é, porque não quer.

Anónimo disse...

Vai demorar tempo a limpar muito analfabeto esteta que (in)compreensivelmente galga os degraus do pelourinho.

Compreensivelmente, pois segundo o ensaio "Allegro ma non troppo" compreende-se que o estado do mundo se deve à ascensão imoderada de estúpidos aos lugares cimeiros das sociedades.

E, como se não bastasse, sofremos ainda o isolamento geográfico, físico, mental e ordinário porque já não tem desculpa, de viver num pais a léguas do mundo cultural europeu.

Vai demorar, mas vamos chegar lá. Não há alternativa e todos os bons exemplos, como este, ajudam.